No 1º de Maio de luta, artistas mostram que têm lado
Alceu Valença, GOG, Leci Brandão e Rappin' Hood falam sobre as bandeiras dos trabalhadores
Publicado: 01 Maio, 2015 - 19h43 | Última modificação: 01 Maio, 2015 - 19h58
Escrito por: Luiz Carvalho, Walber Pinto, Vanessa Ramos e Igor Carvalho
As mais de 60 mil pessoas que estiveram no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, neste 1º de Maio popular e de luta, acompanharam artistas que, além de grandes canções, mostraram também saber de qual lado da luta estão.
Com múltiplos sotaques e ritmos, Alceu Valença, GOG, Leci Brandão, Rappin' Hood e Thobias da Vai-Vai tocaram por mais de seis horas e falaram nos bastidores sobre temas como a redução da maioridade penal, a vida na periferia e o papel da música na transformação da sociedade.
O pernambucano Alceu Valença defendeu o fim do financiamento empresarial de campanha eleitoral para ampliar a democracia.
“Eu acho que a democracia precisa se aprimorar e, para isso, é necessário uma reforma política, como eu disse há muitos anos. Eu não gosto de uma eleição patrocinada por empresas, eu nunca gostei. É necessário abrir mais os canais que são do governo – rádio e televisão –, ter um horário para se discutir política para que nós estejamos preparados”, defendeu.
Militante da luta racial, o rapper GOG, de Brasília, que já foi cotado para assumir a Secretaria de Políticas de Igualdade Racial (Seppir) por conta de atitudes como se negar a participar de programas que criminalizam e inviabilizam negros e negras, saudou o 1º de Maio como um dia de luta.
“A década de 1980 foi quando começamos a preparar o revide. Com o movimento Hip Hop, o nascimento do PT e a CUT, depois, mais tarde, o MST. Hoje, esse primeiro de maio de luta, é reflexo dessa força", ressalta.
Sambista e deputada estadual, Leci Brandão sabe bem o que é enfrentar em minoria as forças conservadoras no parlamento. No caso dela, a Assembleia Legislativa de São Paulo.
Ela falou sobre a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 171/1993, que pretende reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos, e disse que antes de discutir essa mudança é preciso falar de educação.
“A gente teria que se preocupar em criar e construir escolas para evitar que a juventude tente outros caminhos. Temos que ter mais gente nas salas de aula, respeito e salário digno para os professores, para que possam ensinar essa molecada. Porque quem tem conhecimento, tem sabedoria e quem tem sabedoria, cresce. E quem não tem nada, a gente não sabe o que irá acontecer”, afirmou.
Também representante do movimento hip hop, Rappin' Hood não nega suas origens e, no palco, lembrou dos que saem cedo de casa para trabalhar, a exemplo do que é retratado na música Suburbano, e criticou o PL 4330, que amplia a terceirização no Brasil.
Ao se referir aos atos que têm dividido o Brasil, mostrou que não está do lado de quem tem saudade do regime militar. “Não quero devolver o país para quem me escravizou e me maltratou. Não quero os militares de volta, quero a democracia, a continuação do trabalho que está sendo feito, a ver molecada – os filhos dos trabalhadores – indo para a faculdade ocupando os espaços.”