Escrito por: Luiz Carvalho, Walber Pinto, Vanessa Ramos e Igor Carvalho

No 1º de Maio de luta, artistas mostram que têm lado

Alceu Valença, GOG, Leci Brandão e Rappin' Hood falam sobre as bandeiras dos trabalhadores

Dino Santos e Sérgio Silva
Rapping Hood, Leci, GOG e Alceu falar sobre as pautas da CUT neste 1º de Maio


As mais de 60 mil pessoas que estiveram no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, neste 1º de Maio popular e de luta, acompanharam artistas que, além de grandes canções, mostraram também saber de qual lado da luta estão.

Com múltiplos sotaques e ritmos, Alceu Valença, GOG, Leci Brandão, Rappin' Hood e Thobias da Vai-Vai tocaram por mais de seis horas e falaram nos bastidores sobre temas como a redução da maioridade penal, a vida na periferia e o papel da música na transformação da sociedade.

O pernambucano Alceu Valença defendeu o fim do financiamento empresarial de campanha eleitoral para ampliar a democracia.

“Eu acho que a democracia precisa se aprimorar e, para isso, é necessário uma reforma política, como eu disse há muitos anos. Eu não gosto de uma eleição patrocinada por empresas, eu nunca gostei. É necessário abrir mais os canais que são do governo – rádio e televisão –, ter um horário para se discutir política para que nós estejamos preparados”, defendeu.

Militante da luta racial, o rapper GOG, de Brasília, que já foi cotado para assumir a Secretaria de Políticas de Igualdade Racial (Seppir) por conta de atitudes como se negar a participar de programas que criminalizam e inviabilizam negros e negras, saudou o 1º de Maio como um dia de luta.

“A década de 1980 foi quando começamos a preparar o revide. Com o movimento Hip Hop, o nascimento do PT e a CUT, depois, mais tarde, o MST. Hoje, esse primeiro de maio de luta, é reflexo dessa força", ressalta.  

Sambista e deputada estadual, Leci Brandão sabe bem o que é enfrentar em minoria as forças conservadoras no parlamento. No caso dela, a Assembleia Legislativa de São Paulo.

Ela falou sobre a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 171/1993, que pretende reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos, e disse que antes de discutir essa mudança é preciso falar de educação.

“A gente teria que se preocupar em criar e construir escolas para evitar que a juventude tente outros caminhos. Temos que ter mais gente nas salas de aula, respeito e salário digno para os professores, para que possam ensinar essa molecada. Porque quem tem conhecimento, tem sabedoria e quem tem sabedoria, cresce. E quem não tem nada, a gente não sabe o que irá acontecer”, afirmou.

Também representante do movimento hip hop, Rappin' Hood não nega suas origens e, no palco, lembrou dos que saem cedo de casa para trabalhar, a exemplo do que é retratado na música Suburbano, e criticou o PL 4330, que amplia a terceirização no Brasil.

Ao se referir aos atos que têm dividido o Brasil, mostrou que não está do lado de quem tem saudade do regime militar. “Não quero devolver o país para quem me escravizou e me maltratou. Não quero os militares de volta, quero a democracia, a continuação do trabalho que está sendo feito, a ver molecada – os filhos dos trabalhadores – indo para a faculdade ocupando os espaços.”