No 1º de maio de SP: Ninguém quer a reforma da Previdência de Bolsonaro
Medida de Bolsonaro ataca todo mundo, do campo e da cidade, homens e mulheres. População também conhece o Na Pressão e quer pressionar parlamentares contra reforma
Publicado: 01 Maio, 2019 - 16h26 | Última modificação: 01 Maio, 2019 - 16h40
Escrito por: Érica Aragão
Circulando pelo Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, onde acontece o histórico 1º de maio que uniu todas as centrais sindicais e movimentos sociais contra a retirada de direitos, a população não esconde sua contrariedade e deixa claro seu posicionamento contra a reforma da Previdência do governo de Jair Bolsonaro (PSL).
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 006/2019 que praticamente acaba com o direito à aposentadoria no Brasil e está tramitando no Congresso Nacional prevê o fim da aposentadoria por tempo de contribuição e institui a obrigatoriedade da idade mínima de 65 anos para os homens e 62 anos para as mulheres, além de aumentar o tempo mínimo de contribuição de 15 para 20 anos.
Para a procuradora municipal, Maria Elisabete Mercaldo, que está coletando assinaturas para o abaixo-assinado das centrais contra a proposta, o que Bolsonaro propôs não é nenhuma reforma e, sim, um desmonte de todos os direitos constitucionais, que muita gente morreu lutando pra conseguir. Segundo ela, a receptividade das pessoas no Vale é muito boa, mesmo entre eleitores de Bolsonaro, o responsável por essa proposta nefasta.
“Eu estou achando o povo muito receptivo, até entre pessoas que votaram no Bolsonaro. Elas dizem que estão decepcionadas com essas medidas que ele está tomando e disseram que ele está do lado dos banqueiros e não dos trabalhadores”, afirmou Elisabete.
O segurança, João Paulo, de Santo Amaro, parou para assinar o abaixo assinado e disse ser contra reforma da Previdência em tramita no Congresso Nacional. Ele afirmou que com essa medida, Bolsonaro fará ele trabalhar ainda mais.
“Do jeito que é hoje eu que trabalho desde os 14 anos e já estou com 47 já estou próximo de me aposentar, com a reforma, se passar, eu vou morrer e não vou conseguir aproveitar minha vida”.
Para o segurança, que veio com toda família neste 1º de maio, o rombo nas contas do INSS é mentira porque não provaram nada, não apresentaram números confirmando que a Previdência está falida. A reforma deveria acontecer, acredita ele, mas, conclui, não só para mexer no vida dos trabalhadores e não vão acabar com privilégio nenhum.
Na Pressão
Andando mais ao redor do palco, a população encontra várias tendas do movimento sindical CUTista, entre elas a do Sindicato dos Bancários de São Paulo Osasco e Região e da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio e Serviço (Contracs) que estão também coletando assinatura e também divulgando um santinho e falando sobre a ferramenta virtual que a CUT lançou nesta quarta-feira, o Na Pressao.
“As pessoas podem pressionar os parlamentares pelo celular e a mensagem contra a reforma chega no WhatsApp deles. É uma ferramenta de luta e prática para que todos os dias os deputados e as deputadas saibam que a gente não quer essa reforma de Bolsonaro”, contou Alice Guimaraes, estudante em Campinas.
Mulheres e a reforma
A jovem geóloga, Aline Souza, há 7 anos no mercado, sabe que terá que trabalhar mais 32 anos, caso a reforma passe.
“É tempo demais ter que trabalhar 40 anos pra se aposentar e quem mais será afetada serão as mulheres, que têm dupla e tripla jornada, aumentando ainda mais a desigualdade entre homens e mulheres”, disse Aline.
Pessoas com deficiência e a reforma
Marli dos Santos, aposentada por invalidez devido a paralisia infantil, disse, sentada numa cadeira de rodas, que essa reforma da Previdência de Bolsonaro vai excluir ainda mais as pessoas com deficiência do mercado de trabalho.
“A reforma vai ter que trabalhar mais 15 anos, pois terá que contribuir 35 anos e não mais 20, como é hoje. E o Benefício de Prestação Continuada (BPC) vai ser menor que um salário, como vamos sobreviver?”.
A reforma e o povo do campo
Roseli Flori, que é funcionária pública aposentada e está na tenda das mulheres da Linha de Sampa disse que a reforma afeta todo mundo, mas ela esta bem preocupada com o povo do campo.
“A reforma de Bolsonaro vai afetar muito quem tá no campo, que trabalha no sol, na chuva, no frio e calor, e ainda começa a trabalhar mais cedo. Eles vão acabar vindo pra cidade e abandonar o campo em busca de sobrevivência”.
Para os trabalhadores e trabalhadoras do campo a reforma, se passar, fará trabalhar mais e contribuir mais sem nenhuma garantia de se aposentar.
“Essa reforma não é só para não se aposentar e sim contra o direito à vida. Não podemos deixar que os banqueiros, que não produzem nada, ganhem mais milhões de lucros encima dos trabalhadores”, reafirmou Roseli.
A reforma e a população negra
Juliana Goncalves, da Marcha das mulheres negras de SP, emocionou quem a ouvia numa roda de conversa no meio do Vale do Anhangabaú.
Ela discursou dizendo que a reforma vai aprofundar a desigualdade entre brancos e não brancos.
“A pobreza é feminina e negra e a reforma é um atestado de morte para a população negra, principalmente as mulheres negras. A gente tem dito que a reformar é um femicídios e um genocídio da mulher negra e do povo negro”.
Segundo ela, as mulheres negras já são empurradas para os trabalhos informais e começam a trabalhar muito cedo e não tem como comprovar.
“Já ficou pior com a reforma trabalhista, que acaba com a CLT e agora, caso essa da previdência passe, não saberemos como será a velhice negra, iremos morrer antes de se aposentar”, finalizou Juliana.
O colorido 1º de maio e o grito Lula Livre
O Vale tá todo colorido com bandeiras da CUT, outras centrais, sindicatos e dos movimentos de mulheres e do movimento negro, moradia, entre outros. Mas também tem muitas placas com dizeres não mexam na minha aposentadoria e reforma da Previdência NÃO!
Os metroviários estão com coletes dizendo que são contra a reforma da Previdência e com microfones e caixas de sons rodavam o Vale pra denunciar as medidas de Bolsonaro que são contra a população.
Lula Livre também era uma das mensagens encontradas em toda região do evento.
O cozinheiro, José Marcelino da Silva filho, morador da zona leste, disse que esse povo que tá no governo só que deixar a população mais pobre, como sempre quiseram. E mais, ele disse que sabe muito bem porque prenderam Lula.
Se Lula tivesse solto nada disso estaria acontecendo. Lula foi o melhor presidente deste país e continuaria a defender a classe trabalhadora. Temos que tirar Lula de lá, logo”, disse ele, que foi embora gritando: “Lula Livre”.