Escrito por: Redação RBA, com reportagem de Cláudia Motta
Oficina de mosaico para crianças, a diversidade musical da América Latina, a força das torcidas organizadas e um debate em defesa da educação e da democracia marcam o domingo em Curitiba
São Paulo – Se a educação, a arte e o participação popular no futebol têm espaço cada vez mais reduzido no cenário nacional, o mesmo não acontece no acampamento Lula Livre, em Curitiba. Com a praça Olga Benário tomada por pessoas que vieram em caravanas de diversos estados, o domingo (22) foi marcado por atividades artísticas e culturais que inspiraram, divertiram e reafirmaram o apoio e solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como acontece diariamente, o dia começou com o "bom dia" a Lula entoado por centenas de pessoas de todo o país que desde o último dia 7 se revezam na vigília em solidariedade. A reflexão política ficou por conta do lançamento do livro O Dezesseis – Os retirantes da Democracia, da advogada e jornalista paraibana Fabiana Agra. Na sequência, as crianças aprenderam a técnica do mosaico em EVA, uma espécie de plástico, em oficina ministrada pelo artista equatoriano Javier Guerrero Meza. Os pequenos aproveitaram o novo conhecimento para homenagear o ex-presidente.
A educação, na perspectiva de formação para o exercício da cidadania e da democracia, esteve no centro do debate realizado à tarde pela Comissão de Assuntos Educacionais do PT. A presidenta do Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, que acompanhou a terceira e maior caravana enviada pela entidade a Curitiba desde o dia 7, ressaltou a importância da defesa de Lula como fundamental para o ensino público.
"Lula foi o presidente que mais investiu na educação. E a população reconhece isso, e o legado para os professores, quando se fala em royalties do petróleo para o ensino, vemos agora o retrocesso", disse, referindo-se ao avançado processo de entrega do pré sal pelo governo Temer a estatais e empresas estrangeiras.
A educação, conforme destacou, perdeu muito com a destituição da presidenta Dilma Rousseff (PT). "É um retrocesso o golpe contra a presidenta Dilma, e a reforma do ensino médio por medida provisória, que vai empobrecer o currículo. Um golpe que culmina com a prisão política de Lula, que é o primeiro nas pesquisas eleitorais. Tirá-lo do páreo e dizer que há democracia só fortalece esse movimento de resistência pela sua liberdade", disse.
A dirigente defendeu a permanência do movimento de resistência e de solidariedade ao ex-presidente. "Não podemos deixá-lo numa solitária. O presidente tem de voltar para o meio do povo, esse povo que ele ama e que o ama, que quer Lula de volta, para ser nosso presidente e para que a gente possa se redemocratizar", destacou.
Entre educadores presentes, a professora da rede municipal de Porto Alegre que não quis se identificar por medo de perseguição pelo prefeito Marchezan Jr. (PSDB). Ela trouxe uma caixa com cartas escritas por alunos do 5º ano. “Se eu fico visada, não posso continuar atuando em defesa da democracia”, disse
A diversidade musical, com expressões de diversas partes do mundo, foi representada por músicos do Brasil, França e México que integram o grupo multiétnico Cao Laru, em turnê brasileira de abril a junho; pela roda de samba com Maria Navalha & Sinducatis; a música latina do grupo D´America, que há 35 anos divulga a música dos povos originários, do folclore e da cultura popular latino americana e do Caribe.
Com o lema “paz, democracia e liberdade”, representantes de torcidas organizadas de vários clubes – Corinthians, São Paulo, Atlético Paranaense, Coritiba, Paraná Clube, Bangu, Grêmio, Flamengo, Palmeiras e Tubarão, entre outros – se reuniram no acampamento para repudiar toda forma de violência envolvendo o futebol, clubes e a torcida.
No último dia 16, apoiadores de Lula foram agredidos por integrantes de uma torcida organizada do Coritiba.
Os torcedores criticaram as políticas que têm elitizado o esporte, tirando os torcedores pobres dos estádios e impedido a manifestação política durante as partidas contra o fascismo, a repressão policial, o racismo, a homofobia e o machismo dentro do futebol.
A jornada deste domingo terminou com ato religioso em celebração à vida ministrado pelo frei Ederson Queiroz.