No Brasil e no mundo trabalhadores estão mais felizes com o trabalho remoto
Trabalhadores e empresários divergem sobre volta ao trabalho presencial. Maioria quer continuar em casa, outros dividir os dias e empresários querem o presencial, mas temem pedidos de demissão
Publicado: 04 Outubro, 2022 - 10h36 | Última modificação: 04 Outubro, 2022 - 10h47
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha
O levantamento de uma plataforma norte-americana, a Frameable, que analisou dados de diversas pesquisas, mostra que os trabalhadores e trabalhadoras preferem o trabalho remoto, sendo que a maioria quer o híbrido com dias ou horas divididas entre o presencial e em casa, de preferência com mais tempo de trabalho remoto.
Embora esses dados sejam dos Estados Unidos e diferem do Brasil em que a maioria prefere mais tempo de trabalho remoto, o trabalhador brasileiro deve ficar atento ao que os empresários decidirem ao redor do mundo. Normalmente as decisões de grandes empresas refletem em como suas multinacionais e transacionais vão se comportar através do mundo.
A maioria dos trabalhadores dos EUA trabalha em modelo híbrido, sendo que 35% podem realizar suas atividades em casa em período integral e 23% cumprem expediente em casa em meio período. Quando os empregadores oferecem algum grau de trabalho remoto, 87% dos funcionários trabalham remotamente pelo menos um dia por semana, o que significa que apenas 13% rejeitam a flexibilidade. A maioria (58%) fica em casa pelo menos três dias por semana. O levantamento da Frameable foi publicado pelo Valor Econômico.
No Brasil o fenômeno também é sentido. Aqui a proporção de profissionais satisfeitos com o home office aumentou de 64% em 2020 para 73% em 2021. Além da satisfação geral, 81% se consideraram na mesma medida ou mais produtivos em 2021. Em 2020 eram 73%. E a intenção de continuar em home-office após a pandemia aumentou de 70% para 78% de um ano para o outro.
Mentalidade do empresariado
Nos EUA o receio das grandes empresas é que a volta do trabalho presencial provoque uma onda de demissões caso o desejo do trabalhador não seja aceito. Pelo menos 50% dos trabalhadores dos EUA são desistentes silenciosos, o que é causado por empregadores que não fornecem expectativas claras de trabalho e oportunidades de aprendizado e crescimento para sua equipe, além de não demonstrarem que se importam com seus funcionários, mostrou a pesquisa Gallup.
No Brasil 2,9 milhões de trabalhadores pediram demissão de janeiro a maio deste ano, mas a maioria dos pedidos voluntários de demissão é de profissionais com mais tempo de estudo que atua na área de tecnologia da informação.
Aqui, por questões culturais, de acordo com a pesquisadora Sylvia Hartmann da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-.USP), “ o que impede empresas de adotar o home office é a mentalidade de gestores e chefias que têm a necessidade de fazer uma gestão mais voltada para o controle do trabalhador, ter todos ao mesmo tempo no mesmo lugar. Nos escritórios há uma ilusão de que é um trabalho em equipe, de que existe colaboração, de que a gestão é adequada. É muito mais um controle”, disse Hartmann em entrevista ao PortalCUT.
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Futuro do trabalho remoto
Ao mesmo tempo, os dados da Survey of Working Arrangements and Attitudes revelam que, ao olhar para o futuro, 31,7% dos funcionários dos EUA querem trabalhar em casa cinco dias por semana e 16% preferem jornadas em tempo integral no escritório. No entanto, 27% dos empregadores planejam não oferecer flexibilidade no local de trabalho pós-Covid e 22%.
De acordo com a pesquisadora, quando analisados fatores como o desenvolvimento econômico do país, o avanço tecnológico e a capacidade das empresas para oferecerem o home office, o Brasil tem cerca 25% de postos de trabalho com potencial para o formato não presencial de trabalho, mas apenas 10% estão em prática.
Direitos dos trabalhadores brasileiros
Em agosto deste ano, o Congresso Nacional aprovou regras para o teletrabalho ou trabalho remoto, tem pelo menos três normas prejudiciais aos trabalhadores: duas que aumentam a jornada de trabalho, sem o pagamento de horas extras e a que tira o poder de negociação coletiva.
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Durante a pandemia algumas empresas chegaram a cortar benefícios como vale transporte e vale alimentação dos trabalhadores. Mesmo antes da pandemia, o home office já era motivo de preocupação para o movimento sindical. Por isso, em abril do ano passado, a CUT lançou guia de negociação para garantir direitos neste formato de trabalho.
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