Escrito por: Leandro Gomes, da CUT Brasília
No encontro do Brics Sindical, dirigente da CUT aponta que “precisamos de informação e conhecimento para garantir que essas tecnologias sejam colocadas à disposição de todos”
As 4º Revolução Industrial ou Indústria 4.0, que combina maquinas e processos digitais, desencadeou um processo de intensificação da precarização das relações de trabalho. Garantir direitos trabalhistas e humanos diante deste cenário se tornou um dos principais desafios das entidades sindicais. Foi o que apontaram sindicalistas durante o Brics Sindical, que teve início nesta terça-feira (17), no Ministério da Economia.
Sob o tema “O futuro do trabalho com direitos e emprego. Meio ambiente-Multilateralismo e os Brics no contexto global”, o evento reuniu ministros do trabalho e sindicalistas dos cinco países que compõem o Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Para o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, que representou a Central no evento, a precarização das relações de trabalho diante das inovações tecnológicas é considerada um fenômeno mundial. Entretanto, ele destacou que, no Brasil, a situação é mais grave. Isso porque desde 2016, com o golpe de Estado, os trabalhadores têm sentido na pele a desvalorização da mão-de-obra, a retirada de direitos, redução salarial e outros retrocessos promovidos pela reforma trabalhista, implementada no governo ilegítimo de Michel Temer.
A representante da Organização Internacional do Trabalho (OIT) Andreia Bolzon destacou que vivemos um momento bastante desafiador, em que o avanço tecnológico tem sido priorizado em detrimento da pessoa humana e seus direitos. Paralelo a essas modificações, ela aponta um crescente avanço da desigualdade social, entre outros aspectos, pelas mudanças no mundo do trabalho. “As pessoas e suas necessidades precisam estar no centro das discussões. Tudo deve ser construído em torno das pessoas. E esse progresso não é automático. Só vai acontecer se a gente participar e fizer diferença”.
Com a eleição do presidente ultraliberal, Jair Bolsonaro (PSL), direitos trabalhistas básicos sofrem ataques diários. Baseado em uma agenda extremamente liberal, Bolsonaro não tem medido esforços para dar continuidade ao projeto iniciado por Temer. Chegou a dizer, inclusive, que o trabalhador terá que optar pelo emprego ou por mais direitos.
“Emprego sem direito é trabalho escravo. Por mais de 300 anos tivemos trabalho escravo formal. Ao dizer isso, o chefe máximo da república propõe o trabalho análogo ao trabalho escravo”, rebateu Antônio Lisboa, dirigente da CUT.
Outra questão assinalada por Lisboa é quanto aos benefícios dessas inovações tecnológicas para a sociedade. Em sua avaliação, apenas um segmento minoritário está sendo favorecido com as mudanças. “Quem se beneficia são os ricos e a produção capitalista. As transformações que acontecem no mundo são colocadas em favor dos ricos e não trazem benefícios para a maioria da população. Além disso, tem considerável impacto no crescimento da desigualdade social, já que não há uma governança global para transferir os benefícios desses recursos para a sociedade”, avaliou.
Ele analisa que “mais perigosa que as mudanças no mundo do trabalho, é a velocidade em que elas acontecem”. “Muitas vezes, essas mudanças nos colocam em xeque, porque nós também precisamos dar respostas velozes e nem sempre conseguimos”, disse. “Precisamos de informação e conhecimento para garantir que essas tecnologias sejam colocadas à disposição de todos. Paralelo a isso, é preciso defender os direitos da minoria e também a democracia. E é preciso destacar que não há democracia nesse país sem a liberdade do presidente Lula”, finalizou.
O Brics Sindical
O Brics Sindical teve início nesta terça (16) e será realizado até a sexta (20). Durante o evento, serão discutidos assuntos diversos sobre as mudanças no mundo do trabalho e como é possível garantir emprego com direitos em meio às intensas e crescentes transformações tecnológicas.