Escrito por: Luiz Carvalho, de Brasília

No campo ou na cidade, somos todas Margaridas

Durante encontro em Brasília, mulheres apontam relevância da Marcha no cenário conservador

Augusto Coelho
Rosane (de preto) ao lado de Alessandra (à sua direita) durante encontro


Quanto mais próximos os dias 11 e 12 de agosto, datas em que mulheres de todo o país se reunirão em Brasília para a 5ª Marcha das Margaridas, maior a responsabilidade perante um cenário político cada vez mais complexo e sujeito a retrocessos.

Nessa ­terça-feira (14), em uma plenária de mulheres preparatória para o encontro, na sede da CUT Brasília, as lideranças do encontro destacaram justamente o desafio de defender a liberdade, a igualdade e a autonomia em tempos de ataques a esses direitos.

Para exemplificar, a coordenadora-geral da Marcha, Alessandra Lunas, citou a rejeição à cota de 15% para mulheres na contrarreforma política que a Câmara dos Deputados promove, capitaneada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Apontou também o campo de batalha que se tornou a aprovação dos Planos Municipais de Educação, com ataques à qualquer menção de debate sobre gênero e sexualidade nas escolas, mesmo após longos processos que envolveram a participação de professores e da sociedade civil.

“A marcha acontece num momento extremamente desafiador, talvez o mais desafiador de todos. Em 2000, quando enfrentamos um governo neoliberal que sequer nos recebeu e nem nos deu qualquer resposta, já sabíamos que o momento era de afirmação. A partir de 2003, com a vitória do presidente Lula, passamos a avançar em políticas, o mesmo em 2007, e em 2011, colocamos 100 mil aqui em Brasília para discutir com a primeira mulher presidenta. Agora, olhamos ao redor e vemos a redução da maioridade penal, votações que são retomadas quando o presidente da Câmara não gosta do resultado. Até a ética nós perdemos”, lamenta.

Alessandra destaca que o dia 12 de agosto ganha ainda mais importância como marco do avanço da resposta das mulheres na luta por um modelo de desenvolvimento mais justo e igualitário. E também dos homens. “Precisamos que todos, inclusive os companheiros que também têm o sangue de luta de Margarida Alves, estejam presentes”, convocou.

Central de luta

Como parte da coordenação da marcha, a CUT conduz um processo de mobilização nos estados para levar ao menos 30 mil trabalhadoras à capital federal.

Secretária de Mulheres da Central, Rosane Silva, apontou que a mobilização é também um momento de formação política, em que o movimento fortalece a pauta feminista e  coloca em prática a pressão por políticas públicas voltadas à igualdade no campo e na cidade.

“Há muitos anos a CUT vem discutindo um modelo de desenvolvimento centrado no direito à vida humana, que tenha como centro o trabalho e a distribuição renda. Isso é algo que unifica a todas nós, sejamos nós urbanas ou rurais, em uma luta na qual caminhamos juntas”, definiu.

Quem são as Margaridas

A Marcha das Margaridas é uma homenagem à Margarida Maria Alves, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, assassinada por um pistoleiro no dia 12 de agosto de 1983.

Em sua memória e para fortalecer a luta, a cada três anos, caravanas de mulheres partem de todo o país rumo à capital federal.

Neste ano, as delegações chegarão ao estádio Mané Garrincha a partir de 11 de agosto e a abertura oficial do encontro está para prevista para as 18 horas do mesmo dia. Na manhã seguinte, a Marcha deixa o estádio e segue para o Congresso Nacional.

Desde 2003, primeiro ano da manifestação, mais de 140 mil mulheres já ocuparam Brasília para cobrar e conquistar políticas públicas voltadas a um modelo de desenvolvimento centrado na vida, no respeito à diversidade e contra a violência sexista.

A partir de 2007, o governo federal criou uma mesa de negociação permanente que seguiu ininterruptamente e é atualizada a cada marcha.

Com o tema “As Margaridas seguem em marcha por desenvolvimento sustentável, com democracia, justiça, autonomia, igualdade e liberdade” esta edição deve levar à capital federal mais de 100 mil mulheres.