Escrito por: Andre Accarini
Neste feriado da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, trabalhadores vão denunciar impactos diretos da atuação de Bolsonaro na vida da população negra, como os altos índices de desemprego
“Fora Bolsonaro Racista”. Esse é mote da próxima mobilização nacional pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro, que será realizada no dia 20 de novembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, que é feriado em centenas de cidades brasileiras.
Marchas, atos e protestos serão realizados em todo o país, unificando a luta antirracista às pautas da classe trabalhadora como emprego, renda, desenvolvimento e contra os altos preços de alimentos e combustíveis, que têm penalizado cada vez mais os brasileiros, em especial os mais pobres, e que é consequência da política econômica desastrosa de Bolsonaro, explicam os organizadores da mobilização.
“Este dia 20 de novembro, de ‘Fora, Bolsonaro Racista’, unifica todas as pautas. Quando se fala de todas as mazelas causadas por esse governo e que foram aprofundadas pela pandemia, fala-se do impacto à população negra que é a mais afetada”, afirma a secretária de Combate ao Racismo da CUT, Anatalina Lourenço.
A dirigente se refere a todas as investidas do governo Bolsonaro para retirar direitos, cortes de recursos públicos para áreas essenciais como a saúde e a educação, além das reformas da Previdência e Trabalhista, esta última, mesmo tendo sido obra do governo anterior, o ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), foi aprofundada no governo Bolsonaro.
A política econômica, ela reforça, aumentou os índices de desemprego. “Estamos falando de trabalhadores negros e negras que foram os primeiros a perder seus empregos”, diz Anatalina.
“Em 2020, segundo o IBGE, foram fechados 11 milhões de postos de trabalho e deste total, oito milhões eram mulheres e homens negros”, complementa a dirigente.
Por isso, pontua Anatalina, a realização de atos ‘Fora, Bolsonaro’, unificando as pautas e enfatizando o combate ao racismo é uma decisão mais do que plausível, “já que todas as ações e políticas do governo Bolsonaro têm um objetivo que não é o de manter a vida de negros e negras”.
Exigir o impeachment, para ela, tem também a característica de lutar para que no ano que vem seja eleito um governo que tenha justamente como foco garantir a vida da população negra, que além de ser alvo principal do desemprego, também é vítima de outras ações do governo entre elas a precarização e o sucateamento de serviços públicos, como propõe a reforma Administrativa elaborada por Paulo Guedes, ministro da Economia.
Leia mais: PEC 32, da chamada reforma Administrativa de Bolsonaro, privatiza o serviço público
Queremos garantir que os direitos de todos não sejam maculados pela quantidade de melanina que cada um tem na pele- Anatalina Lourenço
“Precisamos acabar com o racismo estrutural que mata os negros mesmo antes da bala chegar ao corpo. Esse racismo, presente em todos os espaços cerceia a liberdade da população negra, não permite o acesso às políticas públicas, promove a violência desde cedo, com a criança na escola sendo discriminada pelo seu cabelo”, acrescenta secretária de Combate ao Racismo da CUT.
Cinco anos depois do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, episódio crítico da história recente do Brasil que representa a escalada da extrema direita ao poder – a eleição de Bolsonaro é consequência do golpe – todas as previsões do que seria o país de hoje se confirmaram. À época a CUT já alertava que o golpe era contra a classe trabalhadora e que os tempos seguintes seriam de aprofundamento de uma crise econômica e social.
É o que vivemos hoje. E quando se fala nesta realidade, automaticamente se fala em deterioração de direitos, condições de vida e dignidade das populações mais vulneráveis. A principal delas é a população negra, que sente na pele (e pela cor dela) o que o racismo estrutural, que já existia no país, traz de sofrimento, violência, de discriminação.
Exemplo claro de que é a população negra a mais penalizada pela política econômica pós-golpe, é o índice de desemprego entre negros e negras. Mesmo sendo maioria na população brasileira (55%), são os mais afetados. No segundo trimestre deste ano, a taxa de desemprego entre a população negra foi de 16,23%, enquanto a taxa para os brancos foi de 11,65%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O último levantamento feito pelo Dieese levando em consideração o recorte racial e com base nos dados da Pnad-Contínua, que se referem ao primeiro semestre do ano passado mostram números igualmente vergonhosos, em especial para as mulheres negras.
A taxa de subutilização para mulheres negras era de 40,5%. Já a das não negras era de 26,4%. Para os homens negros, 29,4% e para os homens não negros 19,1%. Subutilização é quando a força de trabalho está disponível e poderia trabalhar mais, mas isso não acontece. E os números mostram que a população negra, portanto, tem menos oportunidades de trabalhar mais.
Sobre os rendimentos dos trabalhadores, o mesmo levantamento mostra que a média salarial das mulheres negras era de R$ 1.573 enquanto das não negras era de R$ 2.660. Ou seja, a mulher negra que está trabalhando ganha 59,1% do que ganham as não negras.
Neste caso, para os homens, o salário é ainda menor. Homens não negros tiveram salário médio de R$ 3.484, enquanto os negros tiveram média salarial de R$ 1.950. Mostra que além de racista, nossa sociedade ainda é machista – outra característica típica do governo Bolsonaro.
Negros e negras também ocupam postos de trabalho mais precários. A pesquisa mostrou que no ano de 2020, 44% das mulheres negras e 45% dos homens negros estavam em trabalhos desprotegidos, sem direitos.
Com base nos dados, Anatalina Lourenço reafirma que o governo Bolsonaro tem como característica “matar as pessoas”.
“De fome, miséria, de doença como vimos na pandemia, pela violência, pelo desemprego – são várias as formas que o governo usa para promover sua política racista”, ela diz.
A mobilização #ForaBolsonaroRacista está sendo organizada em várias cidades do país. Em São Paulo será realizada a Marcha da Consciência Negra, já tradicionalmente organizada pelos movimentos negros, com concentração a partir das 12h do dia 20 no vão livre do Masp. No mesmo local, a CUT, outras centrais sindicais e movimentos sociais engrossarão os protestos exigindo o impeachment de Bolsonaro.
Antes, porém, no dia 18, também em São Paulo, a CUT estadual fará uma panfletagem na Praça do Patriarca durante o dia, para dialogar com a população sobre a urgência em acabar com o governo de Bolsonaro e convocar para o dia 20.
“Não poderíamos concluir o ano sem irmos às ruas novamente. Ano passado, a morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro, pelos seguranças do Carrefour, acendeu a chama da indignação e nós, dos movimentos negros, mesmo com a pandemia, decidimos ir às ruas para dar exigir um basta”, explica a dirigente cutista.
O fim deste governo é minimamente a garantia de vida. Nada que venha deste govrno tem boa intenção ou é para proteger as nossas vidas- Anatalina LourençoA Marcha da Consciência Negra faz parte do calendário oficial da cidade de São Paulo, desde a aprovação da Lei nº 17.045, de 03 de janeiro de 2019, e passou a ser considerada um Evento de Manifestação Democrática tradicionalmente organizada pelas entidades Movimento Negro Unificado (MNU), Uneafro Brasil, UNEGRO, CONEN, Agentes de Pastoral Negros e Círculo Palmarino, que fazem parte da Convergência Negra e Coalizão Negra por Direitos.