RJ: Greve em supermercado rejeita arrocho da anti-reforma
Rede de supermercados Mundial tenta reduzir remuneração usando a anti-reforma trabalhista e trabalhadores e trabalhadoras se rebelam e fazem greve.
Publicado: 19 Novembro, 2017 - 10h46 | Última modificação: 20 Novembro, 2017 - 11h52
Escrito por: Marcelo Auler, com edição da CUT Brasil (video do The Intercept Brasil)
Os 9 mil empregados do Supermercado Mundial (rede popular com 19 lojas espalhadas na cidade do Rio de Janeiro) estão em luta há algumas semanas contra a perda de direitos que o patrão quer lhes impor, respaldado na reforma trabalhista retrógrada promovida pelo governo ilegítimo de Michel Temer.
À mudança da legislação somou-se ainda o inusitado Decreto nº 9127, de 16 de agosto de 2017, editado em surdina, sem maiores debates. Ele reconhece os supermercados como “atividade essencial da economia”. Com isto, ficam autorizados a abrir aos domingos sem a necessidade do pagamento do adicional de 100% nas horas trabalhadas. Ou seja, mais uma gatunagem no salário dos trabalhadores.
O corte deste extra foi que gerou a mobilização dos empregados da Rede Mundial, tão logo a empresa resolveu implantá-lo. Surgiu o movimento espontâneo, a partir de 6 de novembro. Os trabalhadores decidiram não abrir mão da Convenção Coletiva em vigência. Querem ainda acrescentar à mesma a manutenção do que já vinha sendo praticado pela empresa, mas que ela decidiu cortar.
Passaram a defender um Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) que contemple, entre outros benefícios, “o fim do acúmulo e do desvio de função em todos os setores das lojas; a volta do pagamento do adicional de 100% sobre as horas trabalhadas aos domingos e feriados; acesso ao espelho de ponto (a contabilidade das horas trabalhadas durante o mês); o reenquadramento das caixas como ‘operadoras de caixa’ em vez de ‘atendentes’; instalação de esteira rolante nos caixas; concessão de pausa para lanche também para os trabalhadores de frente de loja”, como informa o Sindicato dos Comerciários.
Categoria que tradicionalmente era considerada desmobilizada, os comerciários do Mundial surpreenderam ao próprio sindicato – que teve a diretoria trocada em junho de 2015, com a posse do presidente Márcio Ayer. Iniciaram as paralisações durante a jornada de trabalho, na semana entre os dias 6 e 12 deste mês de novembro.
Os primeiros protestos surgiram em lojas espalhadas. Empregados decidiram cruzar os braços. Na filial de Copacabana, no último dia 6, cerraram as portas da loja. Nas redes sociais surgiram logo os apoios e a campanha de boicote ao supermercado caso insista no corte dos benefícios de seus empregados.
Mais de 700 empregados participaram da assembleia. (Foto: Rafael Rodrigues/Sind. Comerciários-RJ)
Uma das reivindicações – acesso ao espelho de ponto – torna-se essencial para que o próprio trabalhador confira o número de horas trabalhadas e compensadas. Fala-se de trabalhadores que perceberam salários ínfimos, perto do que teriam direito, sem que conseguissem conferir o cálculo dos mesmos por falta desse acesso.
Depois de entrar a reboque da movimentação, o Sindicato tomou à frente e abriu uma negociação com a empresa junto à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Rio de Janeiro.
Na última segunda-feira, uma inédita assembleia com 700 empregados da rede, elaborou a pauta de reivindicações. No encontro, que surpreendeu os próprios dirigentes sindicais por envolver uma parte da categoria normalmente acomodada, foi decretado o chamado Estado de Greve. Por ele, sinalizam que novas paralisações ocorrerão caso não sejam atendidas as reivindicações.
Na quinta-feira (17/11), na mesa de negociação na SRTE/RJ, o Mundial não apresentou nenhuma resposta às reivindicações que lhes foram entregues na véspera do feriado da Proclamação da República. A alegação foi de que não houve tempo para analisá-la por completo. Os advogados da empresa se comprometeram a levar a resposta quarta-feira (22/11).