No RJ, manifestação reúne 4 mil pessoas para "descomemorar" golpe de 64
Ato aconteceu na Cinelândia, palco histórico de protestos contra regimes autoritários
Publicado: 01 Abril, 2019 - 10h11
Escrito por: Redação Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ)
Hoje (31) completam-se 55 anos do golpe militar, regime que resultou em mais de 434 mortos e desaparecidos políticos. Para "descomemorar" a data, diversas organizações políticas convocaram um ato na Cinelândia, centro do Rio de janeiro. Segundo organizadores, 4 mil pessoas participaram do ato.
A professa aposentada Sandra Chaves, 65 anos, participou do manifestação. Ela tinha dez anos quando a ditadura foi instaurada e teve atuação na resistência ao regime enquanto estava na Universidade. “Esse ano nós vivemos um governo muito ruim, com perspectiva de volta da ditadura. Ouvir dizer que não houve ditadura é cruel para quem viveu”, desabafa.
Ao Brasil de Fato, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) analisou que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) viola a Constituição de 1988 ao provocar as Forças Militares a celebrarem o golpe de 1964. “Estamos de preto, não por acaso, porque esse dia rompeu com o que havia de democrático no Brasil. Fez democratas, socialistas e comunistas desaparecerem, pessoas que simplesmente queriam liberdade para lutar, pensar e noticiar. Isso tudo foi cerceado. Até hoje famílias procuram seus filhos, maridos, irmãos e companheiras”, destacou. Ela lembrou que o Partido Comunista do Brasil foi o que mais perdeu, proporcionalmente, militantes, sobretudo durante a Guerrilha do Araguaia.
Uma das primeiras medidas do golpe militar, assim que foi instalado no país, foi queimar a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), localizada no Flamengo, na zona sul do Rio. Leonardo Guimarães, 26 anos, é diretor de universidades públicas da UNE e aluno de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Eles já entendiam que das universidades viria uma forte resistência ao autoritarismo e à escalada do fascismo”. Ele enxerga com preocupação o fato do presidente eleito indicar que os quartéis deveriam comemorar esta data e explicou que para a entidade o 31 de março é sinônimo de “repressão, perseguição e tortura”.
O historiador Paulo César Pinheiro atuou na clandestinidade contra o regime liderado pelos militares na organização VAR-Palmares. Preso e torturado durante a ditadura, Pinheiro destacou que em todos os países existem lutas por verdade, memória e justiça. “Infelizmente não conseguimos ter julgamentos e condenações daqueles que mataram, torturaram e exploraram o nosso povo de maneira atroz. Não só os que foram assassinados ou desaparecidos, mas também milhares de indígenas, camponeses e todo o povo que teve arrocho salarial e seus direitos cassados.” Na sua avaliação, é necessário que haja uma grande unidade popular dos setores progressistas, além da esquerda, no sentido de recuperar as conquistas do povo brasileiro, antes e depois de 1964.
A estudante Raíssa Nascimento, de 26 anos, também participou do protesto. Ela vestia uma camiseta em homenagem à militante Helenira Rezende, vice-presidenta da UNE que foi torturada e morta pelos militares. “Os jovens da zona oeste e da Baixada Fluminense vivem à mercê da milícia, por isso a gente luta contra essas formas de organização que querem reprimir os jovens, da mesma forma que aconteceu na ditadura, no passado, quando os estudantes começaram a ser perseguidos”, comparou Raíssa que é diretora do Diretório Central dos Estudantes (DCE) do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO) e aluna de Biotecnologia.
O ato foi convocado por MST, Levante, MPJ, FBP, FPSM, ABDRJ, AJDRJ, OAB, PCdoB, PT, CTB e CUT.
ATOS PELO PAÍS
Em todo o Brasil foram registradas manifestações que repudiaram os anos de chumbo. Neste domingo (31), em São Paulo, o ato aconteceu na Praça da Paz, no Parque do Ibirapuera. Com velas, flores e fotos das vítimas da violência estatal, os manifestantes fizeram uma caminhada silenciosa em direção ao Monumento pelos Mortos e Desaparecidos Políticos.
Em Porto Alegre (RS), militantes políticos se reuniram no Parque da Redenção. O ato unitário teve como mote a defesa da ditadura e a repulsa a governos autoritários como o instaurado em 1964. Na ocasião foi inaugurada uma escultura em memória aos mortos e desaparecidos gaúchos e de todo Brasil. Também na região sul, um ato em Curitiba (PR) percorreu as ruas da capital.
No Ceará, uma aula pública sobre ditadura reuniu cerca de 500 pessoas, segundo os organizadores, na praia de Iracema, em Fortaleza. Em Minas Gerais, manifestações aconteceram em Belo Horizonte, na Praça da Liberdade, e em Uberlândia. Em Brasília (DF), uma marcha por memória, verdade e justiça percorreu o Eixão.