Escrito por: Luiz Carvalho
Trabalhadores, voluntários e sindicalista falam sobre o processo de resistência pacífica na região ocupada por Israel
No caminho entre Ramallah e o Vale do Jordão é fácil identificar em qual lado da estrada estão as residências palestinas. Basta procurar pelas construções rudimentares especialmente quando comparadas à sofisticação das colônias israelenses no território ocupado pelos sionistas.
Reservatórios sobre as casas palestinas; escassez de recursos não afeta israelenses
Outro ponto de referência é a existência de uma mesquita sempre por perto e reservatórios pretos sobre prédios e casas para guardar a água presente nas torneiras dos israelenses, mas em falta para o povo palestino.
Nos casos em que palestinos apelam para caminhões-tanque, eles devem ser adquiridos de uma empresa israelense pelo dobro do preço e pagos fora das fronteiras da Cisjordânia, num exemplo de como o apartheid se estende até mesmo para a área comercial.
A Palestina é o lugar da negação dos direitos humanos e da dignidade aos não israelenses. Sob o olhar conivente das grandes nações, inclusive do Brasil, quinto maior exportador de armas de Israel, segundo dados de 2014.
Rota sinuosa
Para chegar ao Vale do Jordão, quem tem placa amarela, aquela que identifica os carros da população israelense, segue por uma malha viária de ótima qualidade, afinal, foi construída por Israel para servir suas colônias.
Quem tem a placa branca, a palestina, e quiser se arriscar corre o risco de ser preso por seis meses, o que não é tão difícil assim, afinal, um terço da população masculina palestina, o equivalente a 800 mil pessoas, já passou pela prisão de Israel, onde há crianças de até 12 anos.
Pontos de verificação não faltam, os chamados checkpoints. Há cerca de 520 deles por todo o território sob ocupação israelense para tornar mais difícil a vida dos palestinos e fazer com que deixem a terra.
Perigo, gente resistindo
A resistência, porém, continua. No Vale do Jordão, onde os sionistas mantêm 37 colônias, apenas 30% da região ainda é Palestina. Como fica na chamada Área C, administrada e vigiada exclusivamente por Israel, nem mesmo a estrada que dá acesso a vilas é consertada.
Logo na entrada de uma delas, a Fasayel, uma placa vermelha adverte: “Esta estrada leva a uma vila palestina. A entrada é perigosa para cidadãos israelenses.”
Mas o que se vê lá são famílias que resistem pacificamente, reconstruindo as casas destruídas pelo governo de Israel. Mais de 1.700 pessoas vivem no local onde as crianças aparecem aos poucos.
Voluntários ajudaram a construir a escola que atende 180 meninos e meninas, instalar uma estrutura para trazer energia elétrica e reconstruir as casas que vão ao chão. Tudo com tijolos ecológicos feitos de água, pedra e palha.
De acordo com a organização de palestinos Solidariedade ao Vale do Jordão, mais de mil famílias palestinas perderam suas casas na região entre 2011 e 2014.
Boicote – Daniel Murph é um francês que vivia em Nanterre, perto de Paris, e mudou-se há um mês para a vila por conta do projeto de construir casas com tijolo ecológicos. Apesar de se preparar para um cenário difícil, o que viu na região ao chegar o assustou.
“A Palestina é muito pior do que tinha noticia e imaginava. Tem minas nas montanhas, o exército israelense destrói as vilas o tempo e o mais chocante é como o povo israelense sofre lavagem cerebral e compra essa ideia sempre com a desculpa da segurança”, criticou.