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Nobel da Paz: "Educação pode acabar com trabalho infantil"

O ativista indiano lançou a campanha 100 Milhões por 100 Milhões no Brasil

Publicado: 13 Junho, 2017 - 18h26 | Última modificação: 14 Junho, 2017 - 14h58

Escrito por: Senado Federal

Senado Federal
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Audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), nesta terça-feira (13)

O aumento dos gastos em educação foi defendido pelo Prêmio Nobel da Paz, o indiano Kailash Satyarthy, como caminho para erradicar o trabalho infantil e a miséria no mundo. Kailash falou em audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), nesta terça-feira (13), no lançamento da Semana de Ação Mundial 2017, voltada para o combate ao trabalho infantil e para a defesa do direito à educação de crianças e adolescentes.

Kailash, ganhador do Nobel da Paz de 2014, criou, em 2016, a Campanha 100 Milhões por 100 Milhões, que busca mobilizar 100 milhões de pessoas, especialmente os jovens, a lutarem pelos direitos de 100 milhões de crianças que vivem na situação de trabalho infantil e sem acesso à educação. O ativista indiano lançou a campanha no Brasil nesta segunda-feira (12), com a coordenação da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

De acordo com Kailash, a pobreza causa o trabalho infantil e o analfabetismo perpétuo. Ele chamou a atenção para a coincidência numérica do Brasil: há 2,7 milhões de crianças que trabalham e 2,5 milhões de crianças fora das escolas. Kailash citou casos de crianças que trabalham em minas; crianças que recebem armas em vez de brinquedos; crianças que trabalham com grãos de cacau, mas nunca provaram chocolate ou que colhem laranjas e nunca tomaram suco de laranja.

- Existe uma relação triangular entre pobreza, analfabetismo e o trabalho infantil. Eles são consequências uns dos outros. Temos que lidar com esses três problemas simultaneamente - disse.

O ativista disse ainda que nenhum país pode sair da pobreza sem investir em educação. Segundo Kailash, 60 milhões de crianças no mundo nunca foram à escola e que mais de 200 milhões deixaram a escola. Ele argumentou que a educação básica custa hoje US$ 22 milhões, o que representa 4,5% dos gastos globais com guerra e com armamentos. Ele citou estudo do Banco Mundial que mostra que se um país em desenvolvimento educa suas crianças, terá, em um ano de educação básica, um retorno de 0,7% do PIB.

- Não precisamos falar sobre pobreza. Precisamos falar sobre compaixão com nossas crianças. Precisamos falar sobre prioridades em relação ao futuro das nossas nações. Investimento em educação - afirmou.

Os participantes da audiência pública apontaram o crescimento do trabalho infantil no Brasil como consequência da crise econômica.

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) afirmou que o país precisa despertar para a corrupção das prioridades. Ele criticou as obras milionárias de estádios e de prédios públicos luxuosos em vez do investimento em educação. Cristovam também defendeu que haja uma pessoa responsável por alcançar a meta de erradicação do trabalho infantil no país.

- Eu me lembro que na primeira reunião de ministérios feita presidente Lula, eu sugeri a ele, e usei esta palavra, criar um “xerife” para enfrentar o problema trabalho infantil e sobretudo a exploração sexual de criança e adolescente. Tem que ter um xerife que o senhor demita seis meses depois se não apresentar resultados. E ninguém até hoje tem a responsabilidade de enfrentar esse problema - lamentou.

A senadora Fátima Bezerra (PT-PI), que requereu a audiência, afirmou que o PT tem um compromisso com a erradicação do trabalho infantil e se mostrou preocupada com os tempos que o país está vivendo de política de austeridade. Segundo a senadora, o Brasil está na contramão com a aprovação da Emenda 95, que coloca teto aos gastos públicos, mas disse ter esperança que isso mude.

A senadora Regina Sousa (PT-PI) se emocionou ao contar a história de um estupro coletivo que aconteceu em seu estado. Ela disse que visitou a família do namorado da moça estuprada, que foi assassinado, a família da vítima do estupro e a família dos adolescentes que a estupraram. Ela disse que percebeu a ausência do Estado na vida daquelas famílias.

- O pai [de um dos estupradores)] disse pra mim: se naquele dia eu tivesse levado meu filho para a roça, ele não teria se envolvido nisso. Porque ele sempre acompanhou o pai na roça. Nesse dia ele não foi. Depois da escola ficou em casa. Então é uma situação difícil - disse a senadora com a voz embargada, afirmando que é preciso conhecer a realidade do país.

A presidente da CE, senadora Lúcia Vânia (PSB-GO), concordou com o senador Cristovam Buarque, dizendo que é preciso uma pessoa responsável pela erradicação do trabalho infantil, estabelecendo metas.