Lava Jato, Carne Fraca e a destruição de setores estratégico
No mundo, combate-se a corrupção sem punir as empresas, punindo os culpados
Publicado: 22 Março, 2017 - 16h58 | Última modificação: 22 Março, 2017 - 17h28
Escrito por: CUT Nacional
A quem interessa a destruição das empresas dos setores mais competitivos do Brasil? A quem interessa tirar o Brasil da condição de importante ator internacional e colocá-lo novamente na posição de subalterno dos interesses norte-americanos?
Em dezembro de 2014 o desemprego era de 4,3%, o menor já registrado na história do país; a inflação era de 6,41%, dentro da meta estabelecida. Até 2014, o Brasil era o 2º maior canteiro de obras do mundo, atrás apenas da China. O BRICS estava se fortalecendo criando seu próprio banco. A pobreza no Brasil vinha caindo e existiam crescentes investimentos em saúde e educação. O país tinha acabado de implementar as mais avançadas tecnologias para a exploração extensiva do pré-sal.
Depois do golpe o desemprego explodiu, empresas falindo, a indústria nacional paralisada, o Estado sendo reduzido a passos largos pelos golpistas, os trabalhadores que ainda estão empregados vivem a ameaça imediata da terceirização e da destruição dos direitos trabalhistas e sem perspectiva nem mesmo de conseguir a aposentadoria.
A forma como a lava jato foi conduzida ajudou, em muito, a provocar o desmonte da indústria brasileira, que provocou mais de 12 milhões de desempregados e a produzir o clima de insegurança e falta de perspectiva que assola a população brasileira, que perde a cada dia sua autoestima e esperança em dias melhores.
A Petrobras vinha se destacando mundialmente com a descoberta do Pré sal e do investimento cada vez maior em ciência e tecnologia. Ajudou a reativar a indústria naval brasileira com a construção de grandes petroleiros nacionais e plataformas petrolíferas. Após as investigações da lava jato e seu desmonte com as políticas adotadas pelo governo golpista a Petrobras vem sendo sucateada e seu espaço de atuação vem sendo gradativamente entregue às petroleiras estrangeiras. A lava jato e o governo golpista de Michel Temer desmontaram a Petrobras, entregaram o Pré sal, e, mais uma vez, eliminaram outro setor da economia brasileira que incomodava Washington.
As empresas investigadas pela operação lava jato foram impedidas de continuar trabalhando em obras públicas provocando uma onda gigantesca de demissões, em especial na construção civil e no setor naval, que foi praticamente destruído. Apenas a Odebrecht demitiu aproximadamente 70 mil funcionários. Arrisca-se estimar que mais de meio milhão de empregos foram para o ralo em função da lava jato.
E agora a operação da PF denominada Carne Fraca, dirigida pelo mesmo delegado que coordena as operações da lava jato na PF, mostra que por detrás dessa operação devem estar os mesmos interesses das operações anteriores, destruir mais um setor da economia brasileira, reconhecido internacionalmente. Só em uma situação de golpe de Estado é possível que aconteçam coisas desse tipo.
A Polícia Federal apresentou conclusões sobre todo o setor de carne com base na investigação de uma parcela ínfima deles. Deduziram que existia papelão misturado à carne sem que isso fosse comprovado. Concluíram que ácido ascórbico produzia câncer, sendo que ácido ascórbico é sinônimo de vitamina C, que é encontrada em diversas frutas e é utilizado como conservante de carnes no mundo inteiro.
O alarde criado pela PF foi tamanho que no dia seguinte grandes compradores de carne brasileira, como China, Coréia e União Europeia, suspenderam suas compras. Em apenas dois dias o setor de carnes da BMF&Bovespa registrou perda de quase 8 bilhões de reais em valores nominais de suas ações. O Brasil pode perder 15 bilhões de reais em exportações e esse processo pode provocar quebradeira e demissões em massa não apenas nas empresas que atuam no setor de carnes, mas em toda a cadeia produtiva.
Em todo o mundo, combate-se a corrupção sem punir as empresas, punindo individualmente os culpados. Nenhuma empresa fechou com o vazamento do Tribunal de Nuremberg. Nem Alemanha, nem Estados Unidos, nem nenhum país da Europa permite que as empresas sejam destruídas, desacreditadas. Investigam, prendem, punem com rigor os culpados pelos crimes cometidos, sejam eles quais forem, mas garantem a saúde das empresas, da economia desses países.
Situações como essa acontecem apenas em regimes de exceção, onde o poder judiciário age como partido político e rasga a constituição diariamente, onde a Polícia Federal age como polícia política e transforma o país em um Estado policialesco. Tudo isso está sendo possível porque foi dado um golpe de Estado e setores do aparelho do Estado brigam para se sobrepor aos demais, uma vez que as instituições políticas perderam a legitimidade necessária para a condução do processo.
Isso precisa ter um basta. Não é possível que continuemos assistindo a destruição da nossa economia, da nossa soberania e dos nossos empregos com base em tantas mentiras, o que virou característica no Brasil depois do golpe. Essa situação é inaceitável!
Executiva Nacional da CUT