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Nove dias de apagão desespera população do Amapá, que faz novos protestos

Rodízio energético não é cumprido e provoca onda de indignação na população que vai às ruas protestar. Sindicato dos eletricitários move ação contra empresa responsável pelo apagão

Publicado: 11 Novembro, 2020 - 16h19 | Última modificação: 11 Novembro, 2020 - 16h42

Escrito por: Rosely Rocha

Reprodução
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As noites no Amapá têm sido de revoltas e protestos da população que vem sofrendo as consequências do apagão energético que completa nove dias nesta quarta-feira (11). Os relatos de falta de água, combustíveis, perda de alimentos e aumento nos preços têm sido constantes.

Um das principais queixas é o não cumprimento dos horários de rodízio. As autoridades do estado prometeram que o racionamento de energia seria igualitário, a cada seis horas, mas o que se vê são bairros inteiros ainda sem luz e a energia sendo restabelecida por apenas duas horas. Outras localidades mais distantes da capital, Macapá, o racionamento nem chegou e elas continuam às escuras.

Cansada de esperar pela solução e revoltada, a população tem saído às ruas para protestar provocando incêndios em vias e rodovias da capital Macapá e cidades próximas.

Indignada com o descaso das autoridades, a secretária de Comunicação da CUT/AP, Maria Neuziana, relata seu desespero com a falta de energia. Com a filha com Covid-19, é ela que está cuidando dos netos pequenos de três e cinco anos. Segundo ela, as crianças e idosos são os que mais sofrem com o apagão.

“O rodízio não está funcionando. É pura enrolação e enganação. Tem bairro em que a energia durou apenas duas horas. Onde moro, ontem [10] era para ter voltado às seis da tarde, mas só chegou às nove da noite”, diz.

Ao relatar seu sofrimento e o da população amapaense, Neuziana chora e diz que o estado está abandonado pelas autoridades do país, especialmente pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL).

“Apelo que busquem fazer algo por nós porque estamos abandonados pelo governo federal, pelo governador e pelo prefeito que só fazem campanha enquanto o povo sofre. Eu não durmo desde a terça-feira passada, pareço um zumbi, preocupada com meus netos, minha filha, minha família e os meus amigos. Estamos passando por uma segunda onda de Covid e não temos para onde correr. Estou com um grito de desespero preso na garganta”, relata a dirigente indignada.

O presidente do Sindicato dos Eletricitários do Amapá (STIU-AP), Jedilson Santa Bárbara de Oliveira, entende que o rodízio anunciado pelas autoridades locais não tem sido justo e há moradores de bairros sofrendo ainda mais do que outros e, que diante desta situação, o STIU-AP fez um apelo à direção da Isolux para que reveja o modelo de racionamento. 

“Os bairros mais próximos aos hospitais, maternidades e pronto-socorro têm ficado mais tempo com energia até porque a saúde é a prioridade da usina de Coroacy Nunes, responsável por cerca de 30% da energia. Mas bairros, como o da Universidade Federal, continuam às escuras e a população vem protestando”.

STIU-AP entra com ação contra Isolux  

A assessoria jurídica do STIU-AP está movendo uma ação civil contra a Isolux por danos à população, até porque é a equipe técnica da Eletronorte que está fazendo o trabalho de restabelecer a energia, conta o presidente do sindicato, Jedilson Santa Bárbara de Oliveira.

“Não temos observado nenhum posicionamento pedido pelo ministério das Minas e Energia  e da Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] junto à Isolux. Isto mostra o reflexo do que acontecerá se o governo Bolsonaro privatizar a Eletrobras’, complementa.

O que acontece com o Amapá, amanhã pode acontecer no resto do país
- Jedilson Santa Bárbara de Oliveira

Para o dirigente é importante que o Congresso Nacional  se coloque em defesa das estatais porque na hora que as empresas privadas têm erros operacionais, por falta de manutenção, são as empresas públicas que socorrem a população.

Segundo ele, quem se apressa para devolver à normalidade a vida no Amapá são os trabalhadores e trabalhadoras da Eletronorte e Eletrobras tanto do estado como od de Roraima, Pará e Maranhão, que ajudam nos reparos da subestação que pegou fogo na noite de terça-feira (3).

“A empresa responsável pelo abastecimento do estado, a espanhola Isolux,  não tem competência técnica e pessoal capacitado para resolver o problema, por isso a ajuda dos trabalhadores das estatais são imprescindíveis”.

O dirigente diz ainda que existe a possibilidade de ser contratada energia térmica para entrar no sistema. Com isso será possível dar um pouco mais de carga de energia na capital. Macapá precisa em média de 280 megawatts para atender a população local.

“Já começou a ser desmontado em Laranjal do Jari, sul do estado, um gerador que deve chegar nos próximos dias. Enquanto isso nós também aguardamos uma equipe restabelecer as  turbinas a gás que contribuiriam com 54 megawatts e com mais 75 megawatts das hidrelétricas, vai dar um alívio para a população”, acredita Jedilson.

Apesar do apagão, eleições municipais estão confirmadas

Com a proximidade das eleições municipais que ocorrem neste domingo (15), a preocupação é que as zonas eleitorais tenham condições de receber a votação. Os candidatos à prefeitura de Macapá, professor Marcos Roberto (PT) e Antônio Furlan (Cidadania ) foram os únicos a pedir ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Amapá, que adiasse as eleições, mas o pedido foi negado.

Diante do caos, o presidente da CUT/Amapá, Errolflyn Paixão diz , em artigo, que só resta a população comparecer às urnas e votar em quem defende o serviço público, e seja contrário ao desmonte da Eletronorte e da Eletrobras, cujos trabalhadores estão fazendo os reparos necessários para que a energia volte em todo o estado.

Leia a íntegra do artigo do presidente da CUT/AP, Errolflyn Paixão.

Há menos de duas semanas antes das eleições municipais, o Estado do Amapá é atingido por um apagão energético jamais mais visto em sua história. Ainda assim, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) insiste em manter a votação no próximo dia 15, não acatando o pedido de dois candidatos, do PT e do Cidadania, à prefeitura da capital  Macapá, de adiamento do pleito.

O desrespeito com o povo amapaense vem acontecendo há muito tempo pelas mesmas autoridades que comandam o Estado e a nossa capital. Os  candidatos que lideram as “pesquisas" são os de sempre, apoiados pelo senador e presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o governador do estado, Antônio Waldez Góes da Silva (PDT), e especialmente pelos aliados de Jair Bolsonaro (ex-PSL), que ainda  jogam a responsabilidade do apagão para um e outro.

A responsabilidade da empresa privada e o socorro que veio dos técnicos da Eletronorte e Eletrobras mostram que as privatizações das estatais atendem apenas aos interesses de alguns maus políticos e empresários.

Todo processo de privatização passa pelo Congresso Nacional, por isso o  senador Davi conhece esses problemas. Ele sabe que a subestação que pegou fogo, tem um dono chamado Isolux, empresa espanhola, enquanto a Companhia Energética do Amapá (CEA), a Eletronorte e a Eletrobras vêm sofrendo um processo de desmonte e ataques privatistas de todas as formas.

E ao contrário das fake news, as notícias falsas, as estatais não têm nenhuma responsabilidade por esse apagão. Toda responsabilidade é da Isolux, proprietária da subestação e das linhas de transmissão.

Para piorar a situação, o sistema de geração do paredão e da Usina Termogás está conectado no barramento da subestação da Isolux. Ou seja, a energia gerada por esse sistema é privada. Mas, os detentores do poder do estado não falam nada para a população, numa atitude irresponsável com o povo amapaense.

O sistema elétrico é previsível, pois a engenharia elétrica consegue prever num empreendimento com antecedência o  tempo de vida de cada componente, de isoladores, chaves, para-raios, como se faz um aterramento, o uso adequado do óleo elétrico. Então, não cabe o discurso de que o apagão foi um acidente. Na verdade, foi a falta de manutenção do sistema que provocou essa tragédia na vida da população. Agora jogam a responsabilidade sobre o sistema público para que resolver o problema. 

Diante deste caos e do descaso das autoridades que estão há anos no poder, responsáveis pela administração do estado, é preciso que o povo reflita antes de depositar seu voto nessas eleições.

Vamos defender as empresas públicas. Vamos defender a Eletronorte e a Eletrobras. Não à privatização!.

 

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