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Ataques do Estadão à UNE: mais um capítulo da criminalização dos movimentos sociais
Publicado: 30 Novembro, 2009 - 15h23
Escrito por: Augusto Chagas, presidente da UNE

A principal manchete do jornal O Estado de SãoPaulo deste domingo acusa: “UNE é suspeita de fraudar convênios”. Em toda apágina de abertura do caderno, o jornal julga: “a UNE fraudou convênios, forjouorçamentos”. Categoriza-nos de “aliados do governo” e afirma: “a organizaçãoestudantil toma dinheiro público, mas não diz nem quanto gastou nem comogastou”.
A afirmação “UNE é suspeita” não veio de nenhum órgão de polícia ou de controlede contas públicas, é uma afirmação de autoria e responsabilidade de O Estadode São Paulo. A principal acusação é de um orçamento de uma empresa nãolocalizada, que aparece numa previsão orçamentária. De resto, outro orçamentode uma empresa que funciona num pequeno sobrado e especulação sobre convêniosque ainda não tiveram suas contas aprovadas.
O fato é que a UNE nunca contratou nenhuma das duas empresas, apenas fezorçamentos, ao contrário do que a matéria, de modo ladino, faz crer. Sobre osconvênios, o jornal preferiu ignorar as dezenas de convênios públicosexecutados pela UNE nos últimos anos – todos absolutamente regulares. Ignoratambém os pedidos de prorrogação de prazos feitos aos convênios citados,procedimento usual e que não tem nada de ilícito.
A diferença no peso dado a duas notícias na capa desta mesma edição evidenciamais ainda suas opções. Com muito menor destaque, denuncia os vídeos egravações de um escândalo de compra de parlamentares, operadas pelo própriogovernador do Distrito Federal. Apenas a penúltima página do caderno trata doescândalo, imperceptível sob a propaganda de um grande anunciante do jornal.Uma pequena fotografia mostra os R$100 mil que foram anexados ao inquéritodivulgado pela Polícia Federal. A matéria, em tom jornalístico, não acusa. Pelocontrário, diz que os vídeos, “de acordo com a investigação”, revelam umsuposto esquema de corrupção. Talvez o jornalista não tenha assistido àsgravações...
Há pelo menos 17 anos este jornal não oferecia à União Nacional dos Estudantesuma manchete desta proporção. A última acontecera no Fora Collor. A hipocrisiada sua linha editorial precisa ser repudiada. Não apenas como esforço dedefender a UNE das calúnias, mas para desmascarar os seus reais objetivos.
O principal deles é a desqualificação e criminalização dos movimentos sociais.O MST enfrenta um destes momentos de ataque, seja através da CPI recriada noCongresso pelos ruralistas, seja através da sistemática campanha que procurataxá-lo como “criminoso” para a opinião pública. As Centrais Sindicais sofrem acoerção econômica do patronato, policialesca do sistema judicial, e a injúriade parte da grande mídia. A UNE, que acaba de construir o congresso maisrepresentativo dos seus 72 anos de vida, foi tratada como governista, vendida,aparelhada e desvirtuada de seus objetivos pela maioria das grandes rádios,jornais e revistas.
A grande imprensa oscila entre atacar os movimentos sociais ou ignorá-los -como fez recentemente com a marcha de mais de 50 mil trabalhadores reunidos emBrasília reivindicando a redução da jornada de trabalho. Este jornal, porexemplo, não achou o fato importante a ponto de noticiá-lo.
As organizações populares e democráticas devem ter energia para reagirprontamente. É fundamental que o façam de maneira unificada, fortalecendo-sediante dos interesses poderosos que enfrentam. Que fique claro: o setordominante tenta impedir as profundas transformações que estas organizaçõesreivindicam e que são tão necessárias à emancipação do povo brasileiro e àconquista da real democracia no país.
A manchete do Estadão evidencia também a maneira como a grande mídia trata oproblema da corrupção no Brasil: como instrumento de luta política por seusobjetivos e com descarado cinismo. Seja pela insistente campanha paradesconstruir no imaginário popular a crença na política e no Estado, ou pelasescolhas que faz ao divulgar com destaque desproporcional irregularidades queenvolvem aliados ou adversários, criando ou abafando crises na opinião pública.
Na verdade, pouco fazem para enfrentar os verdadeiros problemas da apropriaçãoprivada daquilo que é público. A UNE, pelo contrário, sempre levantou a bandeirada democracia. Alguns de nossos mais valorosos dirigentes deram a vida lutandopor ela. E afirmamos com veemência: a UNE trata com absoluta responsabilidadeos recursos públicos que opera e os aplica para atividades de grande interesseda sociedade.
Às vésperas da primeira Conferência Nacional de Comunicação, o movimento socialdeve intensificar a luta pelos seus direitos. O enfrentamento à despóticaposição da mídia brasileira é um dos grandes desafios que o país terá naconstrução da democracia que queremos.
O movimento social brasileiro vive um momento de grande unidade, que pode servisto pela sólida relação entre as Centrais Sindicais e pelo fortalecimento daCoordenação dos Movimentos Sociais. Não à toa, a UNE foi mais uma vez atacada.“Saibam que estamos preparados para mais editoriais, artigos, comentários etendenciosas ‘notícias’”, afirmei em artigo publicado no dia 24 de julho,apenas cinco dias após a realização do nosso 51º Congresso. Os meses que sepassaram não tornaram a afirmação anacrônica. Pois que todos saibam que a UNEnão transigirá um milímetro de suas convicções e disposição de luta por umBrasil desenvolvido e justo.