Escrito por: Redação RBA
Em reunião, o então presidente da Caixa disse ter sido traído e prejudicado por servidores após descobrir mudança no regimento interno que o faria perder mais de R$ 100 mil por mês - ele assinou sem ler
O ex-presidente da Caixa Econômica Federal Pedro Guimarães esbravejou contra servidores da instituição, ameaçando-os de demissão, após descobrir uma mudança no regimento interno do banco que, na prática, o faria perde mais de R$ 100 mil por mês. É o que mostram novos áudios, obtidos pelo colunista Rodrigo Rangel, do portal Metrópoles, divulgados nesta terça-feira (5).
As gravações foram feitas durante reunião realizada no final do ano passado, após alteração do Estatuto Social da Caixa, em novembro de 2021, limitar a participação remunerada do próprio Pedro Guimarães e outros executivos a dois conselhos, independentemente da natureza pública ou privada.
A nova resolução, restringiu a participação do então presidente do banco público em conselhos de subsidiárias da Caixa e de empresas privadas das quais o banco é sócio. Até então, o agora ex-presidente integrava 18 conselhos, que lhe rendiam mais de R$ 130 mil mensais em jetons – uma espécie de gratificação pelo trabalho extra.
O valor era acrescentado ao salário de R$ 56 mil que ele recebia como presidente do banco estatal. O que elevava os rendimentos de Pedro Guimarães para um montante em torno de R$ 200 mil mensais. Os áudios mostram o presidente da Caixa irado com as mudanças que acredita terem sido aprovadas para prejudicá-lo. Embora ele próprio admita que assinou a decisão sem ler. Em um momento da reunião, Pedro Guimarães afirma se sentir traído pelos subordinados que não o alertaram sobre a alteração, nem fizeram nada para evitar que ela fosse aprovada.
Teorias da conspiração
Ao mesmo tempo, o executivo também teme que o caso se torne público, e ordena ao então vice-presidente Celso Leonardo Barbosa, de quem é amigo pessoal, que fizesse os cálculos para efetuar a devolução dos valores recebidos em desacordo com a nova regra. Pedro Guimarães também manda sua chefe de gabinete, Rozana Alves, acionar a Corregedoria da Caixa para punir os participantes da reunião caso o teor da discussão vazasse. Em seguida, ele se dirige aos demais servidores, ameaçando de demissão, sem meias palavras.
A reportagem do Metrópoles mostra que, para o então presidente da Caixa, os funcionários que deixaram passar a mudança que o prejudicava estariam “fazendo gestos para a oposição, já pensando em uma possível vitória de Lula” nas eleições em outubro.
“Estão querendo me f*. Eu não acredito que isso daí é incompetência. Eu acredito no que eu já falei para vocês dois: está chegando a eleição e nego está querendo fazer hedge (se proteger), e eu vou tirar todo mundo que eu achar que está fazendo hedge. Porque, deixa eu falar para todos vocês (dirigindo-se aos demais subordinados): ou vocês estão comigo ou vão buscar Haddad e o Lula. Não tem essa de querer ficar comigo e com o Lula. Bem claro isso. Porque isso eu não acho que é um erro. Nego não pode ser tão ruim assim, a ponto de querer me expor dessa maneira. E ninguém viu?”, prossegue.
Entenda as denúncias
Pedro Guimarães ocupava o comanda da Caixa desde 2019, quando foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). O executivo deixou o cargo, no entanto, no dia 29 de junho após a divulgação de denúncias de assédio sexual feitas por várias funcionárias da Caixa contra ele. No dia seguinte, áudios também mostraram que acessos de fúria e termos de baixo calão faziam parte da rotina de trabalho de Pedro Guimarães e eram dirigidos com frequência aos servidores da Caixa.
O ex-presidente do banco, no entanto, nega as acusações. Por meio de seu advogado, José Luis de Oliveira Lima, ele disse que não devolveu os valores ao banco público, que na gravação disse que teria que ressarcir, porque não havia o que devolver. “Estava tudo dentro da lei”, argumentou a defesa. Nessa segunda (4), em coluna no jornal Folha de S. Paulo, Pedro Guimarães classificou as falas contra ele como “mentiras” e afirmou ter solicitado vídeos de hotéis e nas dependências da Caixa para comprovar sua honestidade.
A esposa do ex-presidente, Manuella Pinheiro, também se pronunciou pela primeira vez em defesa do marido. “Sabíamos que na luta pelo Brasil haveria deslealdade, inveja, sordidez e falsidade. Sabíamos que seriam acompanhados de ataques impiedosos com objetivo único de destruir nossa família”, alegou sobre as acusações em um post no instagram. Além de Pedro Guimarães, Celso Leonardo Barbosa e Rozana Alves também foram afastados dos cargos que ocupavam após a saída do então presidente da Caixa.