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Número de abstenções, votos em branco e nulos no 2° turno é o maior em 20 anos

29,5% dos eleitores não foram às urnas no 2º turno das eleições, mantendo tendência de alta das abstenções registrada no primeiro turno. A taxa é a maior desde 2000, quando a abstenção ficou em 16,2%

Publicado: 30 Novembro, 2020 - 15h26 | Última modificação: 01 Dezembro, 2020 - 00h19

Escrito por: Andre Accarini

Reprodução
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O resultado das eleições municipais de 2020, finalizadas em 2° turno neste domingo (29) em 57 cidades do país, mostra um crescimento do número de brasileiros que deixaram de votar, votaram em branco ou anularam seus votos. Ao todo, somente neste domingo, 29,5% dos eleitores dessas cidades não escolheram nenhum candidato ou não se interessaram em exercer o direito à cidadania e à participação nas escolhas políticas nos municípios.

No 1° turno, o índice de abstenção foi de 23,5%. Nas eleições de 2016, o total foi de 21,6. O número é crescente desde o ano 2000, quando o índice ficou em 16,2%.

 

Cenário

As condições em que foram realizadas as campanhas neste ano de pandemia do novo coronavírus, a cultura de desmoralização da política e a preocupação do brasileiro com as pautas nacionais são apontados pelo diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, como fatores para o crescimento dos índices este ano.

Coimbra explica que o tempo menor em rádio e TV, de apenas dez minutos divididos para todos os candidatos, e a dificuldade em realizar mobilizações maiores nas ruas como carreatas e comícios, para seguir as recomendações de distanciamento social e evitar aglomerações para enfrentar a pandemia limitam o acesso do eleitor às propostas e ao próprio debate político, ou seja, não houve um estímulo significativo ao voto.

“As condições e o modo como foram organizadas as eleições, tudo de última hora, sem participação, nem muita atividade, nem campanha de rua, o que era característico de outras eleições, influenciou nos resultados deste ano”, diz Marcos Coimbra.

Mas não é só. O descrédito à política, patrocinado por veículos como a TV Globo, que passou os últimos anos atacando partidos populares, também tem parcela de responsabilidade. “É a tradução da fase atual da política brasileira, de desmoralização pelos veículos de comunicação – a grande mídia”.

Por fim, outro motivo apontado pelo diretor do Instituto Vox Populi, é que o cenário atual do país, de crise, desemprego, preocupação com a saúde, remete os brasileiros a se preocuparem mais com ‘pautas mais nacionais’.

“A eleições municipais não faziam parte da pauta de preocupações da população, que está mais preocupada com emprego, salário, economia, e com questões que envolvem a pandemia como a vacina, se vai ter ou não”, afirma Marcos.

 

Acirramento da disputa

Ainda que o campo da direita e da extrema direita tenha vencido em grande parte das cidades, a derrota de discursos fundamentalistas e de intolerância como o de Marcello Crivella (Republicanos), no Rio de Janeiro, mostram que o ódio institucional de Jair Bolsonaro (ex-PSL) já não convence mais os brasileiros, que estão preocupados com pautas mais urgentes, como saúde e emprego.

Para a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, as urnas mostraram um reposicionamento da esquerda nas grandes cidades, mas ainda não há um grande vencedor, em se tratando de campo ideológico.

Ela afirmou à TVT, na noite deste domingo, que não dá para a direita e o centro considerarem que dominam o diálogo com a população e que o “Bolsonarismo não conseguiu manter a curva de ascendência”.

“A disputa não foi fácil para eles. O centrão [PSC, MDB, PP, Solidariedade, entre outros] teve votação expressiva, mas eles não têm projeto definido. Estão com Bolsonaro hoje, mas já estiveram com a esquerda no passado. Não têm poder de hegemonia do diálogo com a população”, diz Gleisi.

 

Resultados poderiam ser outros

A votação em partidos e candidatos comprometidos com a classe trabalhadora brasileira, de acordo com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, “mostra que a esquerda sabe jogar”. Das 57 cidades onde houve segundo turno, em 25 havia candidatos progressistas e, em quase todas elas, esses candidatos tiveram mais de 40% dos votos.

Veja mais: resultado final das eleições nas 57 cidades onde houve segundo turno

Se as condições para a realização da campanha deste ano tivessem sido diferentes, contemplando candidatos como Guilherme Boulos, do Psol, em São Paulo, com maior tempo em rádio e TV e a possibilidade de, nas ruas, fazer o boca-a-boca, o debate, o diálogo com mais intensidade, tanto as abstenções poderiam ter sido menores, como o resultado da votação em si, poderia ter sido favorável à esquerda.

“Não é surpresa que um ambiente assim motive poucas pessoas. Elas foram pouco informadas sobre a importância das eleições municipais. É surpreendente que em alguns lugares tenha sido possível pra candidatos como o Boulos aparecerem, porque não tinham tempo”, ele diz.

Marcos ainda reforça que as condições foram favoráveis à manutenção do “status quo”, ou seja, para o eleitor, ele diz, a tendência é votar no que já está no poder. Já os projetos da esquerda, para serem apresentados e convencer eleitores, dependem de muito debate e mobilização.

Gleisi Hoffmann ainda afirma que o resultado das eleições mostraram que a esquerda pode se reorganizar ainda mais. “Podemos nos fortalecer e para o jogo porque é isso que o povo precisa de nós”.

 

*Edição: Marize Muniz