Escrito por: Redação CUT

Número de médicos subiu 665% em 5 décadas, mas maioria não vai para o interior

Os médicos preferem trabalhar nas capitais e grandes centros urbanos, o que compromete o atendimento em municípios do interior do país. Era essa distorção que o Mais Médicos queria diminuir

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Enquanto a população brasileira cresceu 119% em cinco décadas, o total de médicos no país aumentou 665%. Mesmo assim, continua faltando médicos nos municípios do interior - em muitas cidades o atendimento a saúde está comprometido por falta dos profissionais - porque a maioria prefere trabalhar nas capitais e nos grandes centros urbanos.

O programa Mais Médicos, lançado em 2013, tinha como objetivo suprir essa carência de médicos nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades do Brasil. O meta era levar pelo menos 15 mil médicos para as áreas onde faltavam profissionais. O programa atingiu o pico de 18.240 médicos que atuavam em mais de quatro mil municípios e atendia 63 milhões de brasileiros. Depois do golpe de 2016 que destitutiu uma presidenta honesta e legitimamente eleitar, tudo mudou.  Desde que o golpista e ilegitimo Michel Temer (MDB-SP) assumiu, o Mais Médicos vem sendo silenciosamente desmontado. Hoje, o número de médicos no programa oscila entre 16.500 e 17.00. 

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Dados sobre os médicos brasileiros

De acordo com estudo "Demografia Médica 2018", feita pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com o patrocínio do Conselho Federal de Medicina e do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, em janeiro deste ano, o Brasil registrou um total de 452.801 médicos – uma média de 2,18 profissionais para cada grupo de mil habitantes. O Sudeste é a região brasileira com maior densidade médica (2,81 profissionais para cada grupo de mil habitantes), contra 1,16 no Norte e 1,41 no Nordeste.

Somente o estado de São Paulo concentra 28% do total de médicos no país.

O Distrito Federal, por sua vez, é a unidade federativa com a média mais alta (4,35), seguido pelo Rio de Janeiro (3,55).

Já o Maranhão mantém a menor densidade demográfica (0,87), seguido pelo Pará (0,97).

Desigualdade marca distribuição geográfica

Apesar de a média nacional ter se fixado em 2,18 médicos para cada grupo de mil habitantes, a pesquisa mostra que esse mesmo indicador difere muito de uma região para outra. Apenas no Sudeste, onde moram 41% dos brasileiros, estão concentrados 54% dos médicos. Já o Norte, onde vive 8% da população brasileira, responde por 4% dos profissionais em atuação no Brasil.

De acordo com o relatório, as capitais brasileiras chegam a registrar até quatro vezes mais médicos que municípios do interior. Juntas, as 27 capitais do país reúnem 23% da população brasileira e 55% desses profissionais. A razão nas capitais é de 5,07 médicos para cada grupo de mil habitantes, contra um índice de apenas 1,28 identificado no interior do país.

Para o presidente da Associação Médica Brasileira, Lincoln Ferreira, o aumento do número de médicos e a má distribuição têm relação direta com o que a abertura de novas escolas e cursos de medicina e com o que ele chama de política de transbordamento. “A vida profissional de um médico é longa. Formar médicos custa muito, mas formar mal custa muito mais caro”, disse.

Já o presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital, avaliou que uma boa distribuição de profissionais depende de estímulo, vontade política e investimento adequado. Ele voltou a cobrar, entre outras medidas, a implementação de uma carreira de Estado para médicos, além de formação adequada de profissionais. “Os desafios estão postos”, disse. “O cuidado de um ser humano vai muito além da técnica”, completou.

Mais mulheres e jovens

A pesquisa aponta que o crescimento no número de médicos vem acompanhado de uma mudança no perfil dos profissionais no que diz respeito à idade e ao gênero, com destaque para o que o relatório chama de feminização e juvenização da categoria.

Os dados mostram que a participação da mulher no contingente de médicos brasileiros é cada vez mais significativa. Atualmente, os homens ainda são maioria entre os profissionais, representando 54,4% do total, enquanto as mulheres somam 45,6%. O sexo feminino já predomina, por exemplo, entre médicos mais jovens, sendo 57,4% no grupo até 29 anos e 53,7% na faixa etária de 30 a 34 anos.

Outra constatação citada pelo levantamento é que a média de idade do conjunto de profissionais em atividade no Brasil tem caído ao longo dos anos. Atualmente, o índice é de 45,4 anos, resultado do aumento da entrada de novos médicos no mercado em razão da abertura de mais cursos de medicina. A média de idade entre os homens é de 47,6 anos e, entre as mulheres, de 42,8 anos.

Especialidades

Quatro especialidades médicas representam 38,4% de todos os médicos titulados no país. Clínica médica aparece em primeiro lugar, com 42.728 titulados ou 11,2% do total, seguida por pediatria, com 39.234 titulados e 10,3% do total; cirurgia geral, com 34.065 titulados e 8,9% do total; e ginecologia e obstetrícia, com 30.415 titulados e 8% do total.

Na sequência de especialidades com mais número de títulos estão anestesiologista (6%); medicina do trabalho (4,2%); ortopedia e traumatologia (4,1%); cardiologia (4,1%); oftalmologia (3,6%); e radiologia e disgnóstico por imagem (3,2%). Essas seis especialidades, somadas à quatro listadas anteriormente, representam 63,6% de todos os títulos.

Na outra ponta, oito especialidades têm menos de mil titulados cada, sendo genética médica a área com menor número: 305 especialistas e 0,1% do total. As demais são radioterapia; cirurgia da mão; medicina legal e perícia médica; medicina esportiva; medicina física e reabilitação; e medicina nuclear, todas com 0,2% do total de titulados; além de cirurgia torácica, com 0,3%.

Um total de 59 áreas de atuação reconhecidas no país e que são derivadas, relacionadas ou ligadas às especialidades em questão não fizeram parte do levantamento.

Com apoio da Agência Brasil