Escrito por: Vanessa Ramos e Luiz Carvalho
No dia em que a Petrobras completa 62 anos, movimentos saem às ruas para defender o crescimento como motor da economia
Mais de 10 mil foram às ruas defender Petrobras, fundamental para desenvolvimento do pais (Foto: Sérgio Silva)
Na primeira manifestação convocada pela Frente Brasil Popular, formada por movimentos sociais, centrais sindicais e partidos progressistas, milhares de militantes tomaram as ruas do Brasil neste sábado (3) em defesa da democracia, contra o ajuste fiscal e para celebrar os 62 anos de um dos alvos preferidos dos privatistas: a Petrobras.
Da mesma maneira que a luta para manter o petróleo como patrimônio nacional forjou o nascimento da maior estatal do país, a celebração de um dos pilares do desenvolvimento teria de ser com o povo nas ruas.
Sob o céu cinza de São Paulo, cerca de 10 mil pessoas partiram da sede da empresa, na Avenida Paulista, em marcha até a Praça da Sé, marco da luta pela democratização do país.
Ainda na Paulista, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, defendeu que os movimentos sindical e sociais têm a missão de impedir um golpe que, caso avance, terão como resposta um enfrentamento ainda maior contra a direita.“Somos os construtores no país, os que constroem os direitos da classe trabalhadora, que lutam por melhores salários, por moradia e por democracia. Não aceitaremos golpe. A Frente Brasil Popular vem para unificar os movimentos sociais no discurso, nas indignações e organizar as nossas lutas”, disse.
Ao reforçar também a unidade na luta, protagonizada pelo Fórum dos Movimentos Sociais, que atua em âmbito estadual, o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, enfatizou a disputa por soberania. “Estamos nas ruas para defender o patrimônio do povo brasileiro. O pré-sal é hoje uma das maiores riquezas de nosso país, disputado por parlamentares e empresas que têm interesses estrangeiros. Queremos uma Petrobras para o povo brasileiro, para melhorar nossos serviços na saúde e educação e não a serviço do capital”.
Vagner também destacou que, a partir do 12º Congresso Nacional da CUT (CONCUT), que começa no dia 13 de outubro, será construída a secretaria nacional de Mobilização, para ampliar a relação com os movimentos sociais. “Temos muito que fazer pelo Brasil, como mudar esta política econômica que é nociva ao povo brasileiro. Chega de ajuste fiscal, o que precisamos é de políticas econômicas diferenciadas, com taxas de juros mais baixas, ter uma política de financiamento do mercado interno e de recursos para a educação, saúde, transporte e políticas públicas”, enfatizou.
Neste CONCUT, Vagner disse que a Central apresentará uma proposta popular de política econômica. “Não é a do [Joaquim] Levy, não é a dos cortes, nem do ajuste, mas uma política voltada para o desenvolvimento do Brasil e do povo brasileiro.”
Por que a Petrobras?
Presidenta da UNE (União Nacional dos Estudantes), Carina Vitral também destacou que os ataques a Petrobras miram não só o que foi feito, mas também seu potencial com o pré-sal.
“A lei dos royalties do pré-sal, que destina 75% dos recursos para a educação, pode viabilizar creches para todas as crianças, escolas públicas de qualidade, que o filho do pedreiro entre na universidade. E é para isso que estamos aqui, para continuar mudando o país”, apontou.
O coordenador da CMP (Central de Movimentos Populares), Raimundo Bonfim, criticou a abordagem de veículos da velha mídia que tentaram esvaziar nesta semana a manifestação, com o argumento de que movimentos em defesa da moradia não integrariam o ato.
“Em vários locais, os movimentos de moradia e sem-teto estão nas mobilizações. Até porque, não podemos deixar de lutar para que o ajuste fiscal não recaia sobre os trabalhadores e sobre as conquistas sociais, como o Minha Casa Minha Vida. Na segunda (5), inclusive, que é dia mundial dos sem-teto, realizaremos manifestações em diversos estados da federação”, falou.
Secretária de Juventude da CUT-SP, Cibele Vieira, também tratou da relação entre a mídia e a Petrobras.
“Por mais que estejam tentando há um ano e meio jogar maciçamente a população contra a Petrobras, o povo não confunde as coisas. As pessoas são contra a corrupção, querem que o dinheiro seja devolvido à empresa e ao povo brasileiro. Mas ninguém confunde isso com privatizar”, pontuou.
Cibele lembrou a vitória parcial contra os entreguistas ao barrar o regime de urgência sobre o PLS 131 (Projeto de Lei do Senado), do senador José Serra (PSDB-SP), que retira a Petrobras como operadora única do pré-sal. Mas lembrou que há ainda texto na Câmara (PLC 6726) que trata do mesmo tema e outro no próprio Senado (PLS 155), que afeta todas as estatais ao obrigar que se tornem empresas de capital aberto.
Trabalhadores contra a crise
Secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, destacou ainda o papel que as campanhas salariais terão neste segundo semestre como fomentadoras da retomada do desenvolvimento no país.
“O Brasil cresceu nos últimos 20 anos porque houve um aumento na renda das famílias e esse aumento veio, de um lado, por conta das políticas públicas e, por outro, dos aumentos reais conquistados pela classe trabalhadora. Quando o trabalhador melhora sua renda, ele consegue consumir mais, faz com que a indústria produza mais, o comércio venda mais e o país cresça. Se a gente voltar ao que foi os anos de 1980, em que os patrões visavam arrochar salário, nós vamos afundar na crise. As campanhas salariais deste ano, especialmente do segundo semestre, vão além dos ganhos particulares, jogam decisivamente pelo futuro do Brasil”, definiu.
Secretário de uma das categorias em luta, os bancários de São Paulo e Osasco, Ernesto Izumi, reforçou a ideia de Nobre ao definir que um dos pontos da pauta é ampliar o investimento no país.
“Queremos que os banqueiros, um dos segmentos que mais ganhou dinheiro no país, adotem uma política de democratização do crédito destinado à população.”
Para o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), representante de um dos partidos que integraram o ato – também estiveram presentes PCdoB, PDT e PCO –, há duas agendas no Brasil em disputa.
“Uma quer defender as conquistas sociais dos últimos 13 anos, a outra quer desconstruir. Uma quer defender a juventude e implementar o Plano Nacional de Educação, a outra que diminuir a idade penal. Uma quer mais moradias, outra quer tirar dinheiro dos programas sociais. Eles querem retirar direitos dos trabalhadores, defendem a terceirização, e nós somos contra. Eles querem retirar um golpe na presidenta legalmente eleita e nós estamos nas ruas em defesa da democracia”, afirmou.