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"O Brasil vive a maior luta de classes da história"

O alerta ocorreu na abertura do “Jovem Saber”, da Contag, no Pará

Publicado: 09 Novembro, 2017 - 11h45 | Última modificação: 09 Novembro, 2017 - 22h19

Escrito por: Fátima Gonçalves, CUT Pará

CUT Pará
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O golpe de 2016 foi a maior derrota da classe trabalhadora brasileira nos últimos 500 anos, por isso presenciamos o maior acirramento da luta de classes de nossa história e é muito difícil vislumbrar onde esse cenário vai dar, mas uma coisa é certa: a saída passa pela unidade da esquerda, criatividade para descobrir novas formas de resistência, além de muito trabalho de base. Esse foi o principal recado deixado pelos participantes da mesa de análise de conjuntura conjunta de dois eventos iniciados nesta quarta-feira (08), no hotel Beira Rio, em Belém, e que reúne jovens e mulheres rurais de todos os estados da Amazônia, incluindo o Tocantins.

Para o deputado estadual Carlos Bordalo (PT-PA) a saída dessa encruzilhada só será possível se resolvermos os oligarquismos brasileiros. “Enquanto não resolvermos isso, todos os nossos avanços serão passiveis de retrocessos, porque eles dominam a terra, a política, os meios de comunicação e todas as instituições brasileiras”.

Carmen Foro, vice-presidente da CUT Nacional, fez questão de deixar claro que o Brasil é um país capitalista e que Temer está fazendo justamente as três coisas que o capitalismo mais necessita que são a exploração da força de trabalho do povo, a expropriação do meio ambiente e a disputa pelos recursos do Estado.

Carmen na atividade no ParáCarmen na atividade no ParáOs retrocessos nos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras em apenas um ano exemplificam perfeitamente a ampliação da exploração da força de trabalho. “Na Europa, após a segunda guerra, a população conquistou apenas um bem estar social, mas nós nem chegamos a isso e a reforma trabalhista vem e quebra um pacto social brasileiro de mais de 100 anos da CLT, após 388 anos de escravidão e apenas 130 anos de trabalho livre”.

Carmen observou que a luta popular foi fundamental para desgastar a reforma da Previdência, mas há uma tarefa maior que é unir a classe trabalhadora. “Não podemos nos dividir. Temer vai fatiar a reforma para nos dividir em servidores públicos e trabalhadores privados, urbanos e rurais”. 

Na opinião dela não está certo que haverá eleições presidenciais em 2018. “A mudança passa por sabermos como vamos nos comportar nesse cenário extremamente difícil. Resistência tem que deixar de ser uma palavra e temos que ser muito mais que resistentes. Precisamos pensar saídas, apontar novos caminhos porque tem uma luta de classes muito clara e como nunca houve”.

 A presidenta da CUT no Pará Euci Ana Gonçalves vê um problema no processo de resistência ao golpe: “Não conseguimos colocar na rua quem a gente representa, por isso, o que nos desafia é a organização de base”.

Mônica Bufon, secretária de Jovens da Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Agricultura (Contag), acredita que o movimento popular, social e sindical deveria ter criado mais resistência durante os governos democrático-popular. “Não foi o que aconteceu. Nos acomodamos e quando o golpe veio estávamos fragilizados”.

 Carmen Foro também alertou que a expropriação do meio ambiente está cada vez mais forte, com leis que tornam mais maleáveis as regras de licenciamento ambiental e de uso de agrotóxico, e citou que em março do próximo ano vai ocorrer aqui no Brasil um balcão de negociação da água, o bem mais disputado pela Humanidade nos próximos anos.          

 A questão Amazônica – Se o Brasil está em desmonte imaginem a Amazônia que ainda detém muitas riquezas que ainda podem ser vendidas e gerar lucros para o grande capital?”, indagou Euci Ana Gonçalves.

Para Carlos Bordalo, a Amazônia sofre duplamente porque na região está o maior oligarquismo que é o rural, que tomou conta de todas as terras e detém o controle de tudo. Ele exemplificou mostrando o caso da fazenda Santa Mônica, do banqueiro Daniel Dantas, localizada no município de Eldorado dos Carajás, Sudeste do Pará, onde uma juíza de plantão deu uma liminar autorizando a retirada dos ocupantes, a juíza titular da Vara Agrária derrubou a liminar, o proprietário recorreu ao Tribunal de Justiça do Pará, que deu parecer favorável a decisão da uma juíza de plantão. “Esses absurdos acontecem em toda a região”.

Bordalo acredita que os amazônidas, além de lutarem contra o golpe, possuem um outro grande desafio que será disputar um novo lugar para a região independentemente do viés ideológico dos próximos governos.      “Nunca deixamos de ser o quintal do Brasil, mesmo nos 13 anos dos governos Lula e Dilma. Por isso, os trabalhadores e trabalhadoras rurais devem pautar o debate tributário e federativo porque represam nossos rios, derrubam nossas floresta, exploram nossos recursos, expulsam nossa gente e nada pagam para a região”.

Os eventos – O debate de conjuntura conjunto fez parte da abertura do Salão Regional do programa “Jovem Saber” de educação à distância da Contag, e da Oficina regional sobre organização produtiva e construção da agroecologia pelas mulheres trabalhadoras rurais. Os dois eventos prosseguem até o próximo dia 10.

Os salões regionais servem para atualizar o programa Jovem Saber, adequando-o as novas tecnologias e temáticas de interesse da juventude rural. Angela Lopes, presidente da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Pará (Fetagri/Pará), disse que a juventude precisa compreender, se responsabilizar e ter amor pela floresta, pelos rios e pela sua  gente. “Os jovens que saem para fazer a sua formação acadêmica nas grandes cidades, mas precisam retornar para suas comunidades e contribuir para a agroecologia.  Precisamos unificar todas as gerações e a mulher terá um papel fundamental porque tem o poder de unificar a família em torno de uma causa. Sem feminismo não há agroecologia”, defendeu.