Escrito por: André Accarini
Duas ações históricas deram origem à maior central sindical do país e quinta maior do mundo. CUT é protagonista na história recente do Brasil, lutando por direitos e democracia
No início da década de 1980, em plena ditadura militar, duas importantes ações históricas da classe trabalhadora deram origem àquela que se tornaria a maior central sindical da América Latina e quinta maior do mundo, a CUT. Ambas receberam o nome de Conclat e têm as histórias entrelaçadas. Mas qual a diferença entre um e outro?
A seguir, o Portal CUT conta um pouco da história de fundação da Central o que significaram esses dois grandes encontros.
A Conclat – Conferência Nacional da Classe Trabalhadora - 1981
A 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras, a Conclat, primeira grande reunião intersindical no Brasil desde o golpe de 1964, que instalou a ditadura militar no país, foi realizada na Praia Grande, litoral de SP.
À época, o movimento sindical estava se rearticulando após anos de repressão. Ao todo, 5.036 sindicalistas de 1.091 entidades, debateram questões urgentes da classe trabalhadora, nos dias 21, 22 e 23 de agosto de 1981. Além dos sindicalistas, centenas de apoiadores e delegações internacionais e todas as correntes de pensamento participaram da Conferência.
Os temas prioritários discutidos na Conclat, diziam respeito aos ataques aos direitos da classe trabalhadora, como o direito ao trabalho, sindicalismo, saúde e previdência social, políticas salarial, econômica, agrária e problemas nacionais. Porém, acima de tudo, a luta era pela reconquista da democracia, que era usurpada pelo regime militar – um período de em que a classe trabalhadora sofreu na pele todos os retrocessos e horrores da ditadura.
Como resultado da Conclat, foi criada a Comissão Nacional Pró-CUT que, dois anos depois, deu origem à Central Única dos Trabalhadores.
E a luta já ganhava peso naquela fase. A primeira grande manifestação nacional convocada pela Comissão teve como pauta a disparada da inflação e taxas recordes de desemprego. Em 1º de outubro de 1981, foi entregue ao governo militar, em Brasília, um manifesto que exigia o fim do desemprego e da carestia, entre outras pautas. Mas, acima de tudo, a Conclat carregava a responsabilidade de lutar pela redemocratização do país, que estava sob o regime militar. A luta contra a repressão aos trabalhadores era um dos pontos de unidade.
Em 1º de outubro de 1981, quando foi entregue o manifesto ao governo militar, manifestações foram realizadas em vários estados e cidades. As maiores ocorreram no Rio de Janeiro, no Largo da Carioca, e em São Paulo, na Praça da Sé. Cada uma reuniu em torno de cinco mil pessoas.
“A Conclat é um marco histórico para o movimento sindical e toda a classe trabalhadora, não somente do Brasil, mas de todo o mundo, já que deu origem à CUT, hoje a maior central do Brasil e a quinta maior do mundo. Foi um ato de resistência e luta pela democracia”, disse o presidente da CUT Nacional, Sérgio Nobre, em entrevista especial ao Portal CUT, quando a Conclat completou 40 anos, em 2021.
O Conclat – Congresso Nacional da Classe Trabalhadora - 1983
Dois anos depois da Conferência e já com um histórico de lutas unificadas envolvendo entidades sindicais de todo o país, em 1983, a Comissão Pró-CUT convocou o Congresso Nacional da Classe Trabalhadora, o Conclat, que foi realizado em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Novamente, mais de cinco mil representantes de trabalhadores comparecem ao encontro.
Assim, após deliberaram sobre as pautas prioritárias de reivindicação da classe trabalhadora, no dia 28 de agosto de 1983 nasceu a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Naquele Congresso foi eleita a direção nacional colegiada, tendo como coordenador-geral o metalúrgico Jair Meneguelli.
As lutas definidas foram a exigência do fim da Lei de Segurança Nacional, eleições diretas para presidente da República, a defesa da liberdade e autonomia sindical, com o fim das intervenções nos sindicatos. Foi aprovado o combate às políticas econômica e salarial do governo que incluía as lutas que já vinham sendo feitas, contra o desemprego, pela reforma agrária.
Uma história de luta
No dia 28 de agosto de 2023, a CUT completará 40 anos. São quatro décadas que inserem a Central como uma das protagonistas na história de uma luta fundamental por direitos e democracia no país.
Se em 1983, a CUT teve papel decisivo na reconquista da democracia e na derrota da ditadura, nos tempos mais recentes, novamente cumpriu esse papel ao atuar para derrotar um projeto de governo que vinha colocando o país nos mesmos trilhos dos horrores daqueles tempos.
Em 2022, a CUT e seus sindicatos, por meio de sua militância e diálogo com a sociedade, seja nas ruas, nas redes sociais, no portal ou pelos demais meios de comunicação, levou um alerta à sociedade de que o Brasil precisava ser não somente reconstruído, mas retomado pelas mãos da classe trabalhadora, imensa maioria no país.
Após seis anos de um golpe que tirou do poder uma presidenta legitimamente eleita, Dilma Rousseff, e levou à cadeira do executivo aquele que participou da arquitetura do golpe, Michel Temer, passando pelos quatro anos de uma imersão profunda do país em retrocessos promovidos por Jair Bolsonaro, era hora de a classe trabalhadora, de forma democrática e ao contrário da conduta de seus oponentes, eleger novamente aquele que já havia sido o melhor presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
No aniversário de 39 anos, em 2022, ainda com a democracia em risco a luta era árdua para que a Central pudesse comemorar os 40 anos, em um cenário de democracia sendo recuperada, com a pauta da classe trabalhadora sendo discutida e com a esperança que o Brasil pudesse ser o país que sempre foi pela referência na atuação sindical.
Em 2023, o futuro se concretizou. Ainda que um processo de reconstrução do país, o que inclui recuperar direitos duramente atacados nos últimos anos seja um processo que requer muito esforço, até mesmo pelas transformações do mercado de trabalho e a sociedade, em seus 40 anos, a CUT se orgulha de, mais uma vez, ter cumprido seu papel de defensora tanto da democracia como de justiça e igualdade social, de direitos e, acima de tudo, da dignidade dos milhões de trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.
Revisão: Marcos Tresmondi, Vanilda Oliveira e Rosely Rocha