Escrito por: Antonio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da CUT
Secretário de Relações Internacionais da CUT fala das lições da tragédia de Bangladesh
Nesta sexta-feira, 24 de abril, completam-se dois anos do desmoronamento do complexo têxtil Rana Plaza, localizado na capital de Bangladesh, que matou soterradas 1.138 pessoas e deixou 2.500 feridas, muitas mutiladas. Várias delas se suicidaram por não poder fazer frente aos gastos com a nova “vida” sem membros do corpo. As mulheres, imensa maioria das vítimas, recebiam um dos salários mais baixos do mundo: US$ 37 mensais.
A tragédia anunciada – pois haviam aparecido inúmeras fissuras na estrutura de oito andares no dia anterior - trouxe à tona o completo desprezo pela vida humana recorrente nas 5.400 fábricas de vestuário do país. Salta a vista igualmente a perseguição antissindical, a precariedade das condições trabalhistas e a inexistência de medidas de segurança.
No Rana Plaza eram fabricados produtos para renomadas grifes como Benetton, Mango e Primark, que apesar de auferirem altos lucros pagavam salários miseráveis aos trabalhadores. Os obstáculos impostos pelas empresas à organização se traduzem claramente no índice de sindicalização no país, de menos de 3%.
Desde a catástrofe, as multinacionais envolvidas têm enfrentado protestos para que mudem suas práticas e evitem outro desmoronamento semelhante. Empresas estadunidenses como o Walmart, Chidren’s Place e Gap chegaram a se negar a dar a contribuição para o fundo de compensação das vítimas de acidentes e mesmo a assinar um documento para mudar as condições de insegurança e ameaça de incêndio nas confecções de Bangladesh. Após um ano de intensas mobilizações e profundo desgaste, elas finalmente anunciaram a doação de dois milhões de dólares. Ajuda necessária, mas completamente insuficiente, como alertaram as entidades,
Conforme o Fórum Internacional de Direitos Laborais, Walmart e Children's Place vão dar somente 750 dólares por família afetada. “São famílias que ficaram sem sua única fonte de ingresso e que estão sem casa, jovens que perderam uma perna ou 300 crianças que agora são órfãs”, recorda a entidade.
Embora chame atenção por ser uma das maiores tragédias industriais da história - ocorrida no país que é o segundo maior exportador de roupas -, outras de menor proporção ocorrem diariamente em todo o mundo por conta da extrema terceirização e precarização na cadeia produtiva do setor têxtil.
Neste momento em que o Congresso Nacional ameaça por meio do Projeto de Lei 4330 soterrar os direitos dos trabalhadores, o desmoronamento do Rana Plaza é mais do que uma lembrança, é um passado transformado em ameaça. Que sirva de alerta aos senadores e deputados quanto ao caráter nocivo da terceirização/precarização de direitos.