O que me motiva é saber que posso reverter a destruição do Brasil, diz Lula
Gleisi e Jaques Wagner, os primeiros a visitar Lula fora a família, relatam preocupações do presidente com os rumos do país depois do golpe de 2016. Lula pediu que o PT atente para o problema da habitação
Publicado: 03 Maio, 2018 - 20h06 | Última modificação: 04 Maio, 2018 - 09h53
Escrito por: Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT
Mais preocupado com o povo brasileiro do que com a sua própria situação de preso político, de inocente encarcerado há 26 dias, o ex-presidente Lula pediu aos parlamentares do PT que atentem para o problema da falta de moradias no país, em clara referência ao prédio que desabou na madrugada do dia 1º, em São Paulo. Lula pediu que o partido crie um grupo para estudar soluções para a questão da habitação.
O pedido foi feito à senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidenta nacional do PT, e ao ex-ministro e ex-governador da Bahia Jaques Wagner, os primeiros a visitar Lula fora do círculo familiar e dos advogados de defesa, na sede da Polícia Federal em Curitiba, nesta quinta-feira (3). Até agora, a juíza Carolina Lebbos, da Vara de Execuções Penais do Paraná, vinha impedindo visitas de amigos e parlamentares.
Em coletiva ao final do encontro, Gleisi falou das reflexões que Lula vem fazendo esses dias sobre a situação do país e o que precisa ser feito.
Segundo ela, Lula continua determinado a enfrentar tudo para poder trazer soluções para o país. Ela também contou que o ex-presidente tem recebido informações da imprensa, tem todos os dados de seus governos na cabeça e está “acompanhando com muito cuidado as informações que são a base para seu plano de governo”, na perspectiva de se candidatar à Presidência nas eleições deste ano.
“Lula está ‘desconjurado’ com situação da economia do Brasil”, disse a parlamentar, que ficou cerca de 45 minutos na sala onde o ex-presidente está isolado desde o dia 7 de abril.
Ela disse que ele tem lido muito, tem feito análises do que fez enquanto presidente e o que poderá fazer para tirar o país da destruição que a elite política e econômica, aliada a parte do Poder Judiciário, provocou desde 2016, quando promoveu o golpe de Estado que tirou a presidente Dilma Rousseff da presidência.
Gleisi leu as reflexões que Lula pediu para ela listar e repassar para a militância. E a lista é enorme:
Como justifica um país que já teve 20 milhões de empregos formais, gerados durante meu governo, hoje ter mais de 13 milhões de desempregados?
Como justifica a política do salário mínimo, que subiu por 11 anos consecutivos, não ter tido reajuste nos últimos dois anos, pelo menos da inflação?
Eles não diziam que era só tirar a Dilma e o PT que iam melhorar o Brasil?
O que justifica a estagnação do PIB depois de dois anos de governo do golpista Temer?
Como é que eles justificam que a dívida pulou de 39% do PIB em 2016 para 52% do PIB agora?
O que motiva Lula a continuar lutando
Segundo Gleisi, Lula disse que fica pensando no Brasil o tempo inteiro e a situação do país é que o motiva a ser candidato a presidente da República nas eleições de 2018, disse Gleisi.
“Ele acha que pode voltar a reconstruir esse país e dar solução para tantos problemas, assim como já deu quando foi presidente”.
E a senadora continuou a missão dada a ela por Lula de repassar suas reflexões para o povo brasileiro:
O que justifica 1,5 milhão pessoas vivendo hoje abaixo da linha da pobreza?
Em 2003 recebemos o Brasil com 23,3 milhões de pessoas na situação de pobreza e reduzimos esse número para 9,8 milhões em 2015.
Como essas pessoas voltaram a ter uma pobreza tão expressiva?
E como é que eles diminuem o Bolsa Família nesse momento, com um corte de R$ 1,4 bilhão e 1,3 mil famílias fora do programa?”
Gleisi disse que o presidente está muito preocupado com a situação brasileira e pediu para lembrar que nos governos do PT a dívida pública líquida de 60% foi derrubada para 39%.
“Não eram eles que iam consertar o Brasil? Como justifica o PIB per capita que já subiu 6,5% e agora está subindo 0,2%? A queda do consumo do governo, das famílias, da produção industrial, nos serviços e nos investimentos?”, continuou lendo a senadora para, em seguida, dizer qual foi a resposta do ex-presidente Lula à sua própria reflexão:
“Nos governos do PT alcançamos até 21% dos investimentos em relação ao PIB, hoje está em 15,6%. O PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], que foi o motor do desenvolvimento econômico, disponibilizou R$ 53,6 bilhões, hoje conta com apenas R$ 23 bilhões de reais. O aumento do lucro dos bancos subiu de R$ 50 bilhões para R$ 57 bilhões”.
A presidenta do PT fez, então, a sua própria reflexão para a militância:
“Nós estamos voltando a ter gente usando lenha e álcool para cozinhar, tendo que optar entre comprar comida ou botijão de gás. É isso que revolta o presidente. Por isso ele não devia estar onde está, ele deveria estar nas ruas, em campanha para tirar o povo brasileiro dessa situação”.
Política habitacional
A senadora concluiu contando que o ex-presidente pediu para manifestar solidariedade às famílias do edifício que desabou no centro de São Paulo.
“Ele ficou muito preocupado e pediu que a gente fizesse uma avaliação das nossas políticas habitacionais. O PT sempre implementou políticas habitacionais com muito êxito. Lula pediu para reunirmos um grupo (Jorge Hereda, Raquel Rolnick, Emília Maricato, Mirian Belchior) para discutir o que está acontecendo na habitação brasileira e avaliar porque estamos passando por esses retrocessos e problemas.”
A ideia, disse a senadora, é fazer uma proposta para o plano de governo do PT.
Um homem indignado
O ex-governador da Bahia Jaques Wagner também esteve na sede da PF para visitar o ex-presidente, mas entrou em horário diferente da senadora. Ele afirmou que encontrou um homem indignado com a injustiça cometida e disse que Lula não se conforma com a condenação sem crime e segue pedindo que quem o encarcerou apresente as provas.
Apesar de tudo, Lula está muito firme e consegue nos confortar com palavras de força, comentou. “O que ele quer mesmo é que se respeite o patrimônio político que ele conquistou e que se respeite a inocência dele”.
“Aqui no Brasil estamos num sistema que se cria uma convicção e depois se tenta prová-la. Não se investiga um crime e nem se permite uma ampla defesa. Isso é o que deixa Lula injuriado”, reforçou.