Escrito por: Andre Accarini e Marize Muniz
Trabalhadores da fábrica de fertilizantes da Petrobrás, no PR, se revezam na ocupação para impedir fechamento da unidade. Greve dos 13 sindicatos filiados à FUP está confirmada para este sábado (1º)
A resistência dos petroleiros e petroleiras da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), subsidiária da Petrobrás, em Araucária-PR, que lutam contra o fechamento da unidade, completa 11 dias nesta sexta-feira (31) e recebe o reforço dos 13 sindicatos filiados à Federação Única dos Petroleiros (FUP), que vão parar as atividades em todo o país em apoio aos companheiros do Paraná.
A greve, por tempo indeterminado que começa no primeiro minuto deste sábado, dia 1º, é em protesto contra a decisão da empresa de demitir mil trabalhadores e o fechar a Fafen-PR sem qualquer comunicado, negociação ou respeito ao acordo coletivo da categoria, que prevê que a empresa se compromete a não promover demissões, nem transferências, sem negociação prévia com o sindicato.
Os petroleiros ocupam o local de trabalho e se revezam em protesto silencioso e estratégico, acorrentados no portão de entrada e fazendo toda manutenção dos equipamentos, para impedir o esvaziamento da unidade e seu completo fechamento, afirma o diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindiquimica-PR, Gerson Castellano.
“Todos os dias, cerca de 800 trabalhadores são orientados por nós a entrar na unidade durante o dia e outros 200 à noite para manter a fábrica pronta para voltar a operar a qualquer momento, quando conseguirmos reverter o processo de fechamento”, diz Castellano.
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O dirigente critica a gestão da estatal que, além de desrespeitar o acordo coletivo, deixa os trabalhadores e suas famílias desesperados com a incerteza do futuro. “É uma crueldade absurda a pressão que os trabalhadores estão sofrendo, sabendo que podem ser demitidos a qualquer momento e sem nenhuma esperança, nenhuma perspectiva que suavize a pressão”.
Por isso, ele reforça, a CUT, a FUP e o Sindiquímica/PR estão engajados na luta para trazer esperança aos trabalhadores. “A saída tem não pode ser individual. Tem que ser coletiva e com mobilização da sociedade contra a política do governo Bolsonaro, que cada vez mais vai atacar os trabalhadores do Brasil”.
Em nota, a FUP reforçou a importância da mobilização contra o fechamento da fábrica e da greve nacional dos petroleiros. “A vida que tínhamos antes não existe mais. E vai piorar, se não reagirmos. São mil demissões sumárias na Fafen-PR, uma fábrica 100% Petrobras. Gerente, supervisor, peão, sejam próprios ou terceirizados, todos foram chutados para o olho da rua. Com uma mão na frente e outra atrás”, diz trecho do texto publicado no portal da FUP.
A nota ainda lembra que situação semelhante já ocorreu na BR Distribuidora, outra subsidiária da Petrobras. A privatização da BR resultou em centenas de demissões e reduções drásticas de salários e direitos para os trabalhadores que ficaram.
Após o início da greve nacional dos petroleiros, no dia 1º, o sindicato reunirá os trabalhadores em assembleia para definir a estratégia a ser adotada para impedir o fechamento da fábrica. Gerson Castello explica que as demissões foram anunciadas para acontecer a partir de 14 de janeiro, mas a mobilização dos trabalhadores paralisou o processo.
Nesta data, os funcionários foram informados pela direção que fábrica entraria em “hibernação”, ou seja, ficaria parada, para posteriormente reabrir, caso a Petrobras decidisse. Porém, segundo o dirigente, há produtos tóxicos perigosos na unidade como ureia e amônia, além de fontes radioativas e manter esses produtos estocados representa risco de acidentes.
Por este motivo, os trabalhadores decidiram manter a unidade e seus equipamentos em segurança. “A empresa queria simplesmente fechar a fábrica. Não tinha sequer o conhecimento da existência desses produtos. Pior que isso, em audiência com no Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR), a Petrobras não conseguiu nem informar nem entregar estudos comprovando que a fábrica pode ser fechada”, relata Gerson.
Mesmo com os riscos, a Petrobras insiste em seu plano e deu início a um processo de retirada dos produtos perigosos para então fechar a fábrica. Gerson Castellano afirma que os trabalhadores estão em processo contrário.
A estratégia é manter tudo funcionado. “Se drenar tudo, pode parar. Por isso, a luta é dia e noite- Gerson Castellano
O dirigente cita a quantidade de indústrias fechadas nos últimos tempos e a perda de emprego cada vez maior como mais um argumento para a luta dos petroleiros da Fafen.
“Estamos resistindo porque queremos que a Fafen volte a funcionar gerando empregos, renda e industrialização para o país”.
De acordo com Gerson, estudos feitos pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (INEEP), mostram que a Fafen-PR é produtiva e viável, portanto, não há justificativa para o fechamento. Pelo contrário, os dados demonstram a necessidade de produção de amônia e uréia no país.
“A Petrobras faz uma manobra contábil para aumentar o valor da matéria-prima que ela mesma fornece atribuindo um valor como se esses produtos viessem do exterior, mas eles estão há poucos metros das unidades”, explica o dirigente.
Ele ainda afirma que o projeto do governo Bolsonaro é manter a Petrobras atuando apenas na área de exploração, exportando o óleo cru e importando os derivados, o que além de gerar desemprego e a entrega da estatal, aumenta os preços dos combustíveis. “Prova disso é que as refinarias estão com baixa carga, trabalhando muito abaixo de sua capacidade de refino do petróleo no Brasil”, completa.