Ocupação da Fafen-PR entra no 3º dia com apoio das esposas e filhos dos petroleiros
Petroleiros querem impedir a demissão de mil trabalhadores e o fechamento da fábrica. Familiares dos trabalhadores apoiam a mobilização na frente da unidade onde petroleiros acorrentados se revezam no protesto
Publicado: 23 Janeiro, 2020 - 12h56 | Última modificação: 24 Janeiro, 2020 - 11h03
Escrito por: Marize Muniz
Petroleiros e petroleiras do Paraná estão ocupando a Araucária Nitrogenados (ANSA), também conhecida como Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen-PR), do sistema Petrobras, desde a manhã desta terça-feira (21) em protesto contra o fechamento da unidade, anunciado pela gestão da companhia.
Os petroleiros ocupam o local de trabalho e se revezam em protesto silencioso e estratégico, acorrentados no portão de entrada e fazendo toda manutenção dos equipamentos, para impedir o esvaziamento da unidade e seu completo fechamento, afirma o diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindiquimica-PR, Gerson Castellano.
“Todos os dias, cerca de 800 trabalhadores são orientados por nós a entrar na unidade durante o dia e outros 200 à noite para manter a fábrica pronta para voltar a operar a qualquer momento, quando conseguirmos reverter o processo de fechamento”, diz Castellano.
Segundo o dirigente, isso é importante porque a empresa quer drenar tudo – a amônia e o etanol -, para paralisar as atividades da fábrica o mais rápido possível. “Se drenar tudo, pode parar. Por isso, nossa estratégia e manter tudo funcionando. Por isso, a luta é dia e noite".
Angústia e medo do desemprego
O encerramento das atividades da Fafen-PR, localizada no município de Araucária (PR), provocaria o desemprego direto de mil trabalhadores. Outros 2 mil trabalhadores da cadeira produtiva seriam afetados indiretamente, perdendo também seus postos de trabalho.
“O pessoal está apreensivo, angustiado”, diz Castellano se referindo aos trabalhadores, os filhos e esposas que vão todos os dias para a porta da fábrica apoiar a luta contra o fechamento da Fafen-PR.
“Se perderem o emprego agora, acabou. Com o mercado do jeito que está, não tem onde conseguir colocação”, conclui.
Mas, ter a família por perto dá muita força para a luta, reconhece o dirigente que tem dezenas e dezenas de fotos com os petroleiros e sua família gravadas em seu celular.
Algumas crianças, inclusive, pediram para ficar com as correntes em volta do corpo para mostrar que estão realmente preocupadas e unidas aos pais e seus companheiros na luta, outros gravaram videos emocionantes falando da preocupação com os empregos dos pais.
Este é o caso de Vitor, que gravou um vídeo dizendo que está triste porque não sabe como o pai vai pagar as contas. "A gente vai ter de sair de casa", diz o garoto afirmando que a família mora de aluguel. Para ele, a decisão da Petrobras é uma sacanagem.
FUP marca greve contra fechamento
A FUP já aprovou, por unanimidade, indicativo de greve por tempo indeterminado, a partir do dia primeiro de fevereiro, em todo o Sistema Petrobrás, contra as demissões na Fafen-PR.
As assembleias para que os petroleiros e petroleiras se posicionem sobre o indicativo de greve serão realizadas e no dia 29, a FUP e seus sindicatos voltam a se reunir no Conselho Deliberativo para definir os próximos encaminhamentos. Até lá, a FUP e o Sindiquímica-PR darão sequência às ações políticas e legais, para garantir os direitos dos trabalhadores da Fafen-PR e impedir a demissão em massa.
Fafen não dá prejuízo, como disse Petrobras
Em comunicado, a Petrobras argumentou que a decisão de fechar a fábrica é uma estratégia para retirar segmentos “exteriores” ao núcleo de atuação da estatal, sobretudo a exploração de petróleo e gás natural no pré-sal. Além disso, alega que a Fafen-PR tem dado prejuízo.
Os petroleiros, no entanto, contestam essa versão. De acordo com eles, a direção mente ao afirmar que o resíduo asfáltico (RASF), principal matéria-prima da Fafen-PR, tem um custo alto. “O preço do produto acompanha o valor do mercado”, diz comunicado da categoria.
“A Petrobras está cobrando o preço do RASF baseado no preço do barril no golfo do México, mas temos que encarar que o preço nacional é bem inferior, extraído pela própria Petrobras. É uma estratégia contábil da estatal para inviabilizar o funcionamento da fábrica”, afirmou Castellano em entrevista à Fórum.
Entenda a luta dos petroleiros
No dia 14 de janeiro deste ano, a direção da ANSA/Fafen-PR se reuniu com representantes da FUP, da CUT e do Sindiquímica-PR e afirmou que o processo de demissão dos mil trabalhadores – 396 empregados diretamente pela companhia e 600 terceirizados - começaria em 30 dias e levaria até 90 dias para ser concluído.
Ainda de acordo com a FUP, a gestão da Petrobrás está negociando a venda da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) e da Usina do Xisto (SIX), ambas no polo de Araucária, no Paraná, onde fica a Fafen.
As duas unidades integram o pacote de oito refinarias, com suas redes de dutos e terminais, que a direção da estatal pretende privatizar.
Impactos das demissões
Os impactos gerados pelas demissões, não se limitam as famílias dos trabalhadores e trabalhadoras que ficarão desempregados. A população de Araucária também sentirá as consequências deste desrespeito aos trabalhadores, pois afeta a qualidade dos serviços públicos prestados a população, como saúde, educação, obras e segurança.
De acordo com o Sindiquímica, a folha dos trabalhadores diretos, é de aproximadamente R$ 10 milhões, deste total 50% ficam no município. A Ansa/Fafen-PR garante arrecadação de R$ 200 mil mensais para Araucária.