Omissão de Alckmin na crise hídrica em São Paulo foi questão eleitoreira
Vicente Andreu, ex-presidente da ANA, fez revelações contundentes ao Brasil de Fato sobre a gestão tucana em São Paulo
Publicado: 30 Março, 2018 - 11h53 | Última modificação: 30 Março, 2018 - 11h59
Escrito por: Brasil de Fato
A crise hídrica que atingiu o estado de São Paulo entre os anos de 2014 e 2016, provocando um racionamento sem precedentes na maior região metropolitana do país, “obedeceu exclusivamente interesses eleitorais”, segundo Vicente Andreu, ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, durante o 8º Fórum Mundial da Água (FMA), realizado na cidade de Brasília, na última semana.
A seca nos reservatórios, entre eles o da Cantareira, o mais importante da região metropolitana fez com que a Sabesp, a empresa estatal que gere os usos da água no estado, utilizasse águas de baixa qualidade do chamado volume morto desses reservatórios.
“Eu acho que o símbolo de um governador inaugurando captação de volume morto, quando na verdade deveria estar alertando a população para os problemas que têm para se enfrentar, eu penso que é o símbolo de como isso foi trabalhado politicamente”, comenta Andreu.
À época, a Organização das Nações Unidas condenou a atitude do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e sua estatal, por omitirem o tamanho da crise à população. Segundo a ONU, informar os paulistas sobre a necessidade de racionamento de água, poderia diminuir o impacto dos problemas gerados pela seca.
A ANA, que foi dirigida por Andreu nos últimos oito anos, foi uma das organizadoras do Fórum Mundial da Água. O evento sofreu duras críticas de movimentos populares e organizações ambientais, que garantem que o FMA é dedicado apenas a publicizar os interesses de grandes corporações ligadas à gestão da água. Essas entidades organizaram um fórum paralelo, o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), também em Brasília.
A agência também foi criticada por funcionários da Empresa Brasileira de Comunicação, a EBC. Eles denunciaram que a compra de conteúdos para a cobertura do Fórum Mundial da Água sobrecarregou os trabalhos da empresa. A EBC tinha um estande no evento, na Vila Cidadã.
“Isso tudo foi coordenado por mim. O que nós contratamos da EBC foi exatamente aquilo que se contrataria de uma empresa privada, só que nós não fizemos opção de contratar a Globo, contratar a Record, contratar a Bandeirantes. Nós queríamos contratar tv educativa, para que eles fizessem os nossos produtos.
Na entrevista, Andreu também comentou sobre às críticas ao FMA e também sobre as tentativas de privatização dos usos da água no Brasil, entre eles o saneamento básico. “Eu particularmente sou contra. Não há uma tradição de um serviço público prestado por um prestador privado”, diz.
Confira aqui trechos da entrevista com o ex-presidente da ANA, Vicente Andreu.