MENU

“Onde estão as provas contra mim?”, questiona Lula

Ex-presidente participou de campanha lançada por movimentos sindical e sociais para divulgar sua defesa e resgatar democracia

Publicado: 10 Novembro, 2016 - 22h49 | Última modificação: 11 Novembro, 2016 - 12h50

Escrito por: Luiz Carvalho

Roberto Parizotti
notice
Ex-presidente cobrou transparência na investigação e responsabilidade com o país

Auditório da Casa de Portugal ficou lotado para receber Lula Auditório da Casa de Portugal ficou lotado para receber Lula Jovens que ocupam escolas contra sucateamento do ensino apontaram que a resistência só está começando (Foto: Roberto Parizotti)Jovens que ocupam escolas contra sucateamento do ensino apontaram que a resistência só está começando (Foto: Roberto Parizotti)
O que resta para alguém acusado por um crime sem provas? Talvez apenas a indignação, solidariedade e resistência de aliados de democratas que não abrem mão de um Brasil mais justo para todos e para Lula, esse o mote da campanha lançada nesta quinta-feira (10), em São Paulo.

Juristas, organizações sindicais como a CUT, lideranças de movimentos sociais, intelectuais, jornalistas, economistas artistas e cidadãos indignados com a parceria jurídico-midiática na caçada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, símbolo de um modelo de gestão democrática que golpistas tentam enterrar, lotaram a Casa de Portugal para empunhar as bandeiras da democracia e do Estado de Direito.

Em sua participação no encerramento da atividade, o ex-presidente disse que não se sentia confortável em defender-se e apontou que preferiria acusar a força tarefa da Lava Jato que afirma estar mentindo à sociedade brasileira.

“Não causam mal apenas ao Lula e à sua família, mas a uma instituição que todos valorizamos, que é o Ministério Público, onde há muita gente séria. A uma instituição chamada Polícia Federal, que foi criada para investigar o Estado brasileiro e não para que delegados comprometidos ideologicamente com determinados partidos viessem fazer falas acusatórias sem provas”, falou o ex-presidente.

Conchavos

Para ele, há um pacto entre mídia, Polícia Federal, Ministério Público e o juiz Sérgio Moro que apura o caso, num processo pouco dado a provas.

“Minha pergunta é quantos políticos aguentariam o Jornal Nacional falando mal deles por 13 horas em um único mês. E sabe por que eu aguento? Porque eu não preciso provar minha inocência, mas eles sim?”

Lula lembrou que há 13 anos um grupo de procuradores busca relacionar o PT à morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, e destacou a absolvição nesta quarta-feira (9) do ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, capa de jornais e revistas, acusado de desvios na cooperativa Bancoop.

“Quero que apresentem ao povo brasileiro uma prova concreta, e não vale dizer apenas que tem convicção. Eu não aceito a ideia de que a convicção valha como prova, porque se eu disser a eles a convicção que tenho deles, vai ficar bem ruim”, ironizou.

Que democracia teremos?

Lula pediu ainda que o movimento fosse menos personalizado nele e mais focado na defesa da democracia e de ações como a das ocupações de escolas por estudantes contra a reforma do ensino médio e os ataques aos direitos.

“Estão defendendo o ensino, porque a escola sem partido que querem implementar no Brasil é aquela do meu tempo de criança, da palmatória, de ajoelhar no caroço de milho e tampinha de garrafa. Mas têm de saber que a juventude de hoje não é tão inocente quanto a minha juventude. Esse pessoal aprendeu a brigar por direitos, afinal de contas, a razão da existência da escola é ensinar o povo brasileiro a ser cidadão e cidadã de primeira classe”, defendeu.

Segundo o ex-presidente, está em curso um projeto de diminuição da democracia expresso na redução do acesso a conquistas como a educação, com o argumento de que é preciso adequar os recursos à realidade.

“A democracia deles permite ao povo que possa gritar de fome e sede, que possa sonhar em estudar em escola de qualidade, que o pobre possa sonhar em ser doutor, que o trabalhador rural sonhe com reforma agrária, sonhe com casa para morar. Mas nunca exerceram a democracia a ponto de fazer com que tornasse isso realidade”, exemplificou.

Estado de Exceção

Um vídeo com artistas globais abriu a cerimônia, mas eles não compareceram. Coincidentemente, foram convocados pela emissora para gravar no mesmo dia do ato.

Mas, se eles não estavam lá, o Coletivo de Cultura do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) representou a resistência com mística. Jovens sem-terra mostraram como ocorreu a invasão das polícias civil e militar à Escola Nacional Florestan Fernandes, no último dia 4. E não deixaram dúvida: enquanto não houver reforma agrária, vão continuar a ocupar e resistir.

A invasão, inclusive, foi citada pelo professor titular de Direito da UnB (Universidade de Brasília), Marcelo Neves. “Temos um Estado policial, viram isso com a invasão do MST, sem mandado judicial. Nós, como cidadãos comuns, estamos sujeitos a esse estado policial, que tem um juiz que manda torturar jovens estudantes”, criticou.

Moro criminoso

Neves apontou que o Brasil enfrenta um processo de desconstitucionalização e ‘desdemocratização’ do país com a invenção do impeachment, baseado em ‘pedaladas fiscais’ praticadas por outros governos.

A omissão do STF (Supremo Tribunal Federal), defendeu, é expressão de um tribunal enfraquecido e desmoralizado que não enfrentou a questão sob o ponto de vista jurídico. Mesmo quando um juiz atuou ao arrepio da lei, ao praticar um grampo ilegal e divulgá-lo.

O advogado criticou o ministro Gilmar Mendes por ter impedido Lula de assumir um ministério no governo da presidenta legítima Dilma Rousseff e ressaltou que, tal qual o STF, o Legislativo também é um exemplo de imoralidade.

“A PEC 241 (no Senado, PEC 55) é uma vergonha para o país. A teoria constitucional diz que os princípios basilares da República não podem ser atingidos. Um dos fins da República é a erradicação da pobreza e essa proposta é inconstitucional porque vai contra esse princípio. É uma PEC anti-pobre”,falou sobre a proposta que congela investimentos públicos por 20 anos e que teve relatório aprovado nessa quarta (9) na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Câmara).

Cadê as provas?

A ausência de provas lembrada por Lula no discurso– e cobradas também pelo ator Sérgio Mamberti em um vídeo exibido no ato – foi tema também da intervenção do advogado do ex-presidente.

Cristiano Martins recordou que cinco testemunhas convocadas em audiência pública na semana passada foram unânimes ao dizer que o ex-presidente não tentou obstruir as investigações. “Esse é um exemplo de acusação frívola que temos neste processo”, apontou.

Neste mesmo balaio, afirmou, se encaixam o tríplex no Guarujá, atribuído ao ex-presidente, que onde nunca passou uma noite ou dia no local, segundo ele, e o sítio, cujos proprietários já foram identificados e os recursos para a compra identificados.

Martins disse ainda que, em consulta aos principais professores da Universidade de Harvard, nos EUA, também por lá ficou comprovado o uso de instrumentos políticos manipulados por agentes públicos no processo contra Lula.

“Pedimos prova pericial para provar a inocência de Lula e não tivemos direito reconhecido. Mais uma demonstração de que a verdade não importa, mas manter a acusação frívola.

Além das provas que temos apresentado, é fundamental apresentar verdades para que o Estado democrático de Direito prevaleça no país”, afirmou, explicando, assim a importância da campanha.

Democracia nas ruas – A campanha “Um Brasil justo pra todos e para Lula” incentivará a criação no país e no exterior de comitês que promovam ações como debates e atos para discutir a todos os setores progressistas no país.

No portal Brasil para Todos é possível conhecer a campanha e também assinar o manifesto que já conta com mais de 600 pessoas, entre juristas, economistas, acadêmicos, artistas, jornalistas e políticos em apoio ao movimento. Os materiais de divulgação também estarão disponíveis no Twitter (@justoparatodos), Facebook (Um Brasil Justo pra Todos), YouTube (BrasilJusto pra Todos e pra Lula) e Instagram (@brasiljustopratodos).