Escrito por: Sindsep
Após arriscar suas vidas na pandemia, trabalhadores são demitidos com a troca de organização social no Hospital Brasilândia, na zona norte de São Paulo. Alguns foram recontratados, mas com salários inferiores
Cerca de 800 trabalhadores e trabalhadores do Hospital da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, estão sendo demitidos após a troca da Organização Social (OS) IABAS pela Associação Saúde em Movimento, em 3 de Agosto, de acordo com o Diário Oficial do Município. Segundo denúncias, feitas pela imprensa, alguns foram demitidos por e-mail, outros em meio a atendimento, não poupando nem os pacientes.
O hospital se encontra praticamente fechado, uma vez que o quadro de funcionários está em 80%, e há um aumento na demanda no pronto socorro, que foi aberto para o atendimento da comunidade, segundo os trabalhadores.
Contratos precarizados
Alguns dos trabalhadores que foram demitidos receberam uma ficha de admissão para trabalharem para a nova OS. No entanto, os contratos são precarizados. A proposta para muitos é de recontratação com redução de até 50% do salário e retirada de diretos como a insalubridade.
Segundo informações de trabalhadores enviadas ao Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), no dia 03 de agosto, os colaboradores que iriam continuar atuando no hospital foram chamados para preencher uma ficha e informados verbalmente sobre o valor dos salários, sem nenhum contrato. No dia 06 de agosto deram início aos exames admissionais e esses profissionais estão trabalhando sem contrato e sem saber o valor real de diminuição de seus salários.
O coordenador da Região Noroeste do Sindsep, Fabiano de Oliveira, acredita que a precarização e a privatização dos vínculos de trabalho é algo geral em se tratando de organizações sociais. Há uma rotatividade muito grande dos profissionais que atuam em todos os equipamentos da região. As demissões injustificadas, a falta de transparência e acesso à informação é percebido nestes locais.
Fabiano ainda afirma que ao analisar os contratos de gestão pelas OS, percebe-se que elas estão pagando indenizações para esses profissionais demitidos. Quem acaba pagando essa conta é a população que fica sem esses trabalhadores. Dinheiro este que deveria estar sendo usado para contratar, uma vez que desde o início da pandemia a demanda por atendimento nas unidades de saúde só tem aumentado.
“Percebemos que a única forma de consolidar as políticas públicas de atenção à saúde é com a realização de concursos públicos. Porque a estabilidade do servidor é na verdade instabilidade do serviço, é saber que ele vai funcionar sem interrupção e sem prejuízo”, afirma o dirigente.
Comunidade é que mais sofre
O Hospital Brasilândia começou a ser construído no início da gestão do prefeito João Doria (PSDB), no entanto, quem havia realizado o projeto e conseguido a verba foi a gestão do então prefeito Fernando Haddad (PT). A unidade de saúde foi finalizada em março de 2020 e entregue em maio do mesmo ano, no início da pandemia de Covid-19 e segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde, se tornou referência para os atendimentos de pacientes com a doença.
Entre o fim de 2021 e início de 2022, a unidade foi fundamental para atender o aumento no número de casos de Covid provocados pela variante Ômicrom e os casos de gripe causados pelo vírus Influenza.
Na pandemia em 2020, moradores da Brasilândia criaram o movimento “Saúde da Brasilândia pede Socorro”, para que o hospital, luta de tantos anos da comunidade, fosse aberto para o público, uma vez que o prédio estava pronto, porém fechado. Na época, a região era uma das mais afetadas pelo coronavírus e precisava recorrer aos hospitais de campanha. Luta essa que acabou por tornar o hospital referência no tratamento da Covid-19.
Segundo Lili Souza Silva, integrante do movimento, além da luta para que o hospital fosse aberto, era para que fosse administrado pela Prefeitura com servidores concursados, pois assim a população poderia ter controle de como o dinheiro público está sendo gasto.
“Todo mundo sabe que ao ser gerido por uma organização social, a saúde da população é a última coisa que importa e o lucro sempre está em primeiro lugar. Por isso, não surpreende as demissões realizadas pela organização social”, afirma .
A unidade conta com aproximadamente 350 leitos e encontra-se numa região central da Brasilândia e de fácil acesso. O hospital tem capacidade para se tornar referência na cidade de São Paulo e ter um pronto socorro de ponta.
“Para quem mora na região é cruel. É a nossa saúde e não tem projeto, um hospital não é um prédio. Precisa ter um projeto. Quando você põe uma empresa privada para gerir dinheiro público, a última coisa é cuidar da saúde do povo, diferente do serviço público”, complementa Lili.
Movimento da População
O Movimento Saúde da Brasilândia pede Socorro tentará realizar uma mobilização no bairro para exigir que o hospital vá para a administração direta e que lá trabalhem servidores públicos concursados. “Nossa luta é para que o hospital vá para a administração direta, pois não importa para qual OS vai gerir o local, todas são péssimas. Não vê a gente como vidas, mas como lucro” finaliza Lili.