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Os desafios do desenvolvimento em meio à preservação foram debatidos pela CUT

Os desafios do desenvolvimento econômico perante as mudanças climáticas, a preservação da cultura do povo amazônico e como manter a floresta em pé , foram alguns dos temas do 5º Ciclo de Debates da CUT Nacional

Publicado: 28 Setembro, 2023 - 14h24 | Última modificação: 28 Setembro, 2023 - 16h40

Escrito por: Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha

Agência Brasil /Arquivo
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Inserir o trabalhador do campo e da cidade no desenvolvimento econômico em meio às necessidades de preservação ambiental e como fazer este movimento beneficiar a todos, foram os desafios apontados no 5º Ciclo de Debates da CUT Nacional, realizado no fim da tarde de quarta-feira (27), em transmissão online. Veja abaixo como assistir.

No debate “CUT e a defesa do desenvolvimento sustentável e da transição justa", Angela Mendes (filha do seringueiro e ativista assassinado em dezembro de 1988, Chico Mendes), e que preside o Instituto que leva o nome de seu pai - e Euci Ana, quilombola, educadora e a presidenta da CUT-Pará, descreveram a luta que fazem perante a destruição do meio ambiente na região Amazônica, apontaram os desafios futuros e responderam perguntas dos participantes. O debate foi mediado por Rogério Pantoja, coordenador-geral da Escola Chico Mendes e diretor da Executiva da CUT Nacional.

Do Acre, Angela Mendes fez um breve histórico de como nasceu a articulação do Comitê Chico Mendes, já na noite do assassinato do líder seringueiro, pois seus companheiros entenderam a gravidade diante de um cenário de impunidade naquele período pelo qual o país passava, recém saído do regime militar (1964 a 1985).

Reprodução Reprodução
Angela Mendes

Já naquela época havia grandes conflitos nas regiões de florestas, com fazendeiros que derrubavam árvores para abrir pastos para gados e, assim também retiravam dos extrativistas seringueiros e castanheiros a possibilidade de continuarem a sobreviver do seu trabalho. Também houve muitas denúncias de trabalhos análogos à escravidão.    

“A luta pela preservação das florestas também foi para manter o modo de vida dessa população que colhe castanha, retira a seringa; dois principais produtos explorados economicamente. A luta de início foi neste aspecto e é neste momento que começa a organização sindical dos trabalhadores”, contou Angela.

Ela ainda destacou as estratégicas para a criação de sindicatos, numa aliança com outros povos ameaçados por madeireiros, grileiros e latifundiários

“Eles são o mesmo público que continua ameaçando essa população, e que foram estimulados pelo governo de extrema direta [Bolsonaro], que promoveu um retrocesso sem tamanho, e meses depois da eleição de Lula (PT), ainda se sente na pele as consequências do desgoverno anterior”, disse.

Para o agronegócio a floresta só tem valor no chão, mas Chico Mendes sabia que para os extrativistas ela tem valor em pé, e é este legado que trouxe a aliança com indígenas na década de 1980
- Angela Mendes

Naquela época, contou, já existiam as reservas indígenas, o Estatuto do Índio, o marco de demarcação de territórios, mas Chico entendia que era preciso unir forças para manter as florestas. E foi também por meio da educação, da alfabetização, que muitos trabalhadores e trabalhadoras conseguiram se libertar dos patrões, pois como não sabiam fazer contas, não tinham ideia do quanto havia a receber, já que deles eram descontados os valores da alimentação e até ferramentas de trabalho.

Futuro da floresta

Segundo Angela, é preciso fortalecer os jovens dos territórios, dar espaço pra juventude ser ouvida e protagonizar as lutas. Ela entende que a eleição de uma bancada no Congresso retrógada e fascista como a atual é por que “ a gente ainda não aprendeu a eleger quem de fato se identifique com essa pauta”

“A gente vê o que a juventude está fazendo, os coletivos jovens que têm chacoalhado a sociedade como a campanha pelo primeiro voto nas últimas eleições. Hoje para preservar o rio, o meio ambiente e os povos das florestas é preciso ter como pano de fundo as eleições”, declarou

A ativista ambiental contou que o aquecimento do planeta tem afetado a temperatura dos rios matando peixes e os botos, o que contribui para o fim da biodiversidade, fonte de alimentos dos povos da região Amazônica.

“Tem rio que está podre, não dá pra tomar água e já está faltando alimentação”, disse. Segundo ela, são as mulheres que mais sofrem por lidarem com a produção, o cuidado com os pequenos animais, o roçado, as hortas e ainda cuidam da casa e dos filhos.

O desenvolvimento sustentável

A presidenta da CUT- Pará, Euci Ana, reforçou o entendimento de que a região Amazônica faz parte de todo o Brasil, e que, portanto, quando se fala em desenvolvimento sustentável e transição justa, é preciso responsabilizar todos os brasileiros e brasileiras.

Ela destacou que o desenvolvimento atrai, mas esconde a realidade de como atinge a todos, é uma faca de dois gumes. É a resolução e a causa de problemas e, por isso é preciso questionar para quem é o desenvolvimento e para quê.  

Reprodução YoutubeReprodução Youtube
Euci Ana

 

“Os modelos de projetos de desenvolvimento para a Amazonia, na maioria, não cabem a classe trabalhadora e seus povos dos territórios. Não somos contra o desenvolvimento, mas queremos ser ouvidos.  O processo de desenvolvimento não dialoga com a inclusão da periferia, não se sustenta e, por isso são precisas ações afirmativas que não existem”, declarou Euci.

Euci Ana reforçou que grandes projetos que geram trabalho, que a grande maioria das centrais sindicais apoia, é outro desafio, como ocorreu na construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, mas que quando a obra terminou, deixou os trabalhadores da região sem perspectivas.

A dirigente também destacou que é preciso um consumo consciente e saudável, “o que a gente come e veste é importante”.

O que sustenta o agro é o lucro, a natureza devastada, queimada, e para nós esse desenvolvimento não serve. Para nós, o valor da árvore é em pé
- Euci Ana

Ela prossegue dizendo que o que sustenta o agro é o trabalho indecente, mas anima os olhos da população que vê o asfalto.

A dirigente CUTista critica a apropriação da agroecologia, fruto da luta das mulheres, mas que muitas empresas dizem praticar, sem, no entanto, contarem como é feita a produção, sem respeito à responsabilidade social.

“As iniciativas de proteção têm sido feitas pelos quilombolas, principalmente as mulheres e a juventude que tem cuidado do reflorestamento. A mudança de pratica é no dia a dia. É fácil falar da alimentação, do consumo de todos os tipos.

A difícil proteção da floresta, o reflexo do desmatamento nas cidades e os desafios de manter a identidade cultural da região Amazônica, o legado para o bem ou para o mal da COP-30, a produção de energia limpa e outros temas ambientais também foram debatidos, entre os participantes.

Transição justa

A transição justa é a principal bandeira do movimento sindical na discussão sobre a crise climática e seu enfrentamento. Reconhecendo a necessidade de uma transição para uma economia de baixo carbono, o sindicalismo defende que a classe trabalhadora não seja prejudicada nesse processo.

Para isso a transição justa propõe que seja desenhado e implementado um conjunto de políticas para garantir que a transição e o caminho para uma produção com baixas emissões de gases de efeito estufa ofereçam ao mesmo tempo condições de vida e trabalho dignas, respeito aos direitos humanos e igualdade de oportunidades a trabalhadoras, trabalhadores e comunidades implicadas, especialmente nos povos e nações do sul global.

Assista  a íntegra do debate