Escrito por: Redação CUT/Texto: André Accarini
Estudo da USP mostra que homens negros são os mais impactados com o desemprego causado pela alta taxa de juros do Banco Central. CUT e entidades farão intensa mobilização a partir desta sexta-feira
A estratégia de boicote ao atual governo, adotada pelo Banco Central (BC), que mantém em patamares elevados a taxa de juros básica do país (a Selic), afeta diretamente os vários segmentos da população brasileira. Além de elevar o nível de endividamento dos brasileiros, que são obrigados a pagar juros altos nas operações mais tradicionais, como o cartão de crédito, financiamentos, entre outras, tal política faz com que a economia trave impedindo investimentos pelo setor produtivo, paralisa o consumo e o resultado se traduz também em desemprego.
O sistema financeiro é o setor que mais lucra com a taxa Selic alta. Mesmo em um cenário de crescimento restrito em 2022, os cinco maiores bancos do país obtiveram um lucro líquido de cerca de R$ 106,7 bilhões. Os dados são do estudo “Desempenho dos bancos 2022”, elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
De acordo com a economista do Dieese, Vivian Machado, afirma que o montante acumulado pelos bancos se deu em grande medida pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%.
Do outro lado, quem mais perde é a classe trabalhadora, seja pelo endividamento em financiamentos mais caros, seja pelo desemprego causado pela política do BC.
“A taxa de juros do Brasil, que é a maior taxa do mundo, dificulta o crescimento da economia, a geração de empregos o provoca um aumento do endividamento das famílias brasileiras. Com juros mais altos, contas a pagar ficam mais altas, o que impacta diretamente no orçamento do brasileiro”, ela diz.
Um outro estudo, realizado pelas pesquisadoras do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da faculdade de economia da USP (FEA/USP) Clara Brenck e Patricia Couto, com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), confirma o desemprego como consequência da alta taxa de juros.
“A estratégia por trás desta política está na suposição que a inflação ocorre devido a pressões de demanda. Desta maneira, mudanças na taxa de juros afetam negativamente a demanda, aliviando pressões inflacionárias. Um dos efeitos adversos desta política é o aumento no desemprego”, diz o estudo.
Para além do desemprego, o estudo apontou que, ao longo dos anos, as elevações da Selic pelo Banco Central, também contribuíram para o aumento da desigualdade social.
Os dados mostram que para cada um ponto da taxa Selic, o desemprego aumenta mais entre os homens negros do que os demais. Se a Selic sobe 1 ponto percentual, o desemprego dos homens brancos aumenta em 0,1 ponto em sua taxa, enquanto, para os homens negros, aumenta 0,32, ou sejam 1,2 ponto percentual a mais.
Isso ocorre, de acordo com o estudo, porque, em uma comparação com homens brancos, os homens negros estão em empregos de menor renda e mais precários, que exigem menor qualificação e menos escolaridade. Estão, desta forma, mais sujeitos às variações do mercado de trabalho, ou seja, são os que mais perdem o emprego.
Outro ponto levantado é de que homens, em geral, são os que mais perdem o emprego por estarem em maior número em setores ligados ao crédito como construção e indústria.
#JurosBaixosJá
Frente à intransigência do bolsonarista Roberto Campos Neto, presidente do BC, que insiste em afirmar, falaciosamente, que é preciso a economia dar sinais de estabilidade para a inflação baixar e, então, ‘lá na frente’, baixar os juros, a CUT, centrais sindicais, movimentos populares, em consonância com o setor produtivo, começa, nesta sexta-feira (16), uma jornada de lutas contra os juros altos, exigindo que o BC reveja – para baixo – os atuais 13,75% de juros ao ano.
A mobilização contra a política econômica imposta pelo Banco Central já é permanente nas redes sociais. No entanto, a Jornada de Luta será reforçada nesta sexta-feira (16) com uma grande manifestação pelas ruas de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Também no dia 16, haverá um tuitaço organizado pela CUT e entidades com a hashtag #JurosBaixosJá, a partir das 8h. A ação nas redes se repetirá no dia 19, segunda-feira. Já no dia 20, serão feitos atos em frente às sedes do Banco Central em várias cidades brasileiras para intensificar a pressão pela queda dos juros. Os dias 20 e 21 são as datas em o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) se reunirá para definir a taxa de juros a ser praticada pelos próximos meses.
Os atos e horários estão sendo organizados e serão informados pelo Portal da CUT. Em Porto Alegre e Curitiba, os protestos já estão confirmados.
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Mobilização
A Jornada de Luta contra a política monetária do Banco Central envolve os mais diversos setores da sociedade, afetados pelos efeitos nefastos dos juros altos. O setor produtivo, por exemplo, vê sua perspectiva de investimento e desenvolvimento se esvaziar já que linhas de crédito e financiamento se tornam mais caras.
Paralelamente, o comércio é afetado pelo fato de os consumidores também reduzirem o consumo pelo mesmo motivo. Vendendo menos, a indústria produz menos. O resultado, fechando o círculo vicioso, é o desemprego. Desta forma a economia trava.
O governo federal tem feito duras críticas à gestão do Banco Central, que é independente, ou seja, não se submente a decisões governamentais e age por contra própria.
Uma das declarações mais contundentes e didáticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocorreu no dia 1° de Maio, na celebração do Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora, em São Paulo, realizado pela CUT e demais centrais sindicais.
“Não podemos viver em um País onde a taxa de juros não controla a inflação. Ela controla, na verdade, o desemprego, porque ela é responsável por uma parte da situação que vivemos hoje”, disse Lula.
No entanto, Campos Neto, presidente do BC, insiste em boicotar o atual governo, ignorando as sucessivas quedas nos índices inflacionários. O IPCA, que mede a inflação oficial, no mês de maio ficou em 0,23%, índice menor que os 0,61% de abril e que soma 3,94 % em 12 meses. É o menor em três anos.