Escrito por: Cecília Figueiredo, do Sindsep

OSS não contrata terceirizados e hospital de SP escala servidores para o trabalho

Servidores públicos que atendem em outras áreas do Hospital de Piritiba são escaladas para cobrir o serviço que deveria ser prestado pela OSS paga para contratar terceirizados

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Trabalhadores do Hospital Municipal Dr. José Soares Hungria, conhecido como Hospital de Pirituba, denunciam falta de funcionários terceirizados na área destinada ao atendimento e tratamento de casos de Covid-19, hoje sob gestão terceirizada da organização social de saúde (OSS) Cejam (Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim").

De acordo com as denúncias feitas ao Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo (Sindsep), este mês a área do Covid 1 ficou deserta de RH. A solução encontrada pela direção do hospital foi fazer uma escala de emergência destinando os servidores públicos que atendem em outras áreas da unidade para cobrir o serviço que deveria ser prestado pela OSS, conforme contrato com a Prefeitura de São Paulo.

“Esta não foi a única vez. Isso tem ocorrido de forma recorrente, porque os trabalhadores do Cejam estão insatisfeitos com as condições de trabalho oferecidas, no entanto vem sobrecarregando o nosso trabalho. Além do mais, quando o Cejam assumiu o serviço todos os servidores públicos que trabalhavam no hospital foram expulsos literalmente da área sob gestão da empresa”, reclama um dos técnicos de enfermagem que pede para não ser identificado temendo retaliações.

"A Prefeitura ao invés de chamar concursos públicos, contrata OSS para prestar serviço, e não fiscaliza. A falta de profissionais continua e o dinheiro público vai pro ralo. Os profissionais da administração direta continuam sobrecarregados e tendo que cobrir os buracos das OSS", critica Lucianne Tahan, coordenadora da Região Noroeste Sindsep.

Outra servidora pública, que também pediu sigilo de sua identidade, acrescenta que há inexperiência entre os funcionários contratados para trabalhar no hospital, que no final de janeiro foi referenciado pelo governo Covas para concentrar atendimentos aos pacientes portadores da nova variante da Covid-19, inclusive já recebendo pacientes do Amazonas e do Pará, onde foram identificadas as novas cepas do coronavírus que, assim como as identificadas no Reino Unidos, são caracterizadas pelo contágio mais rápido e determinante para o colapso do sistema de saúde em Manaus.

“Os trabalhadores contratados pelo Cejam para atuar como auxiliar de enfermagem, enfermeiro e até médicos não têm experiência. Ao completar seis meses, um ano saem, ou ao cometerem algum erro por falta de um investimento em Educação Continuada, atualização mensal aos profissionais de saúde que a empresa Cejam deveria garantir. Por não ser garantido, eles são descartados, essa é a palavra correta. Enquanto há esse desperdício de recurso público, com uma empresa que não atende, mas recebe, os equipamentos do hospital encontram-se sucateados ‘por falta de verbas’. Dá pra entender?”, questiona a servidora pública.

Segundo ela, há também a supressão de materiais e equipamentos do hospital, porque não há fiscalização. “Um total de 60 bombas de infusão [ou bomba de perfusão, são aparelhos que levam  fármacos ou nutrientes ao paciente, pelas vias venosa, arterial ou esofágica] sumiram. Há cerca de um mês um desfibrilador portátil novinho também sumiu. No momento de fazer o boletim de ocorrência na delegacia, o investigador se negou a colocar o nome dos médicos que estavam de plantão na data do sumiço do equipamento, questionando como o médico iria retirar um equipamento do setor… Enfim, são muitas situações ilegais que vêm ocorrendo dentro do hospital”, lamenta a trabalhadora.

Na avaliação da dirigente do Sindsep é preciso que os contratos de gestão firmados pela Prefeitura de São Paulo com as OSSs sejam investigados e tenham mais transparência para a sociedade, pois se trata de recursos públicos, serviço público e oferta de serviços à população.