Brasília - "Nós estamos falando de pessoas cuidando de pessoas. É a responsabilidade social individual do sujeito que ajuda a mudar desde o meio ambiente até a vida de alguém". Este foi o sentimento expresso pelo gerente de desenvolvimento institucional da Fundação Roberto Marinho, Ricardo Piquet, ao definir as apresentações do Painel Terceiro Setor e Experiências da Aprendizagem na Administração Pública, que foi apresentado na tarde desta terça-feira (25), durante a I Conferência Nacional de Aprendizagem.
No painel, três organizações não-governamentais expuseram suas percepções sobre a Lei do Aprendiz e mostraram como colocam-na em prática. "O jovem com necessidade de renda tem dois caminhos a seguir. Um que leva ao trabalho informal, abandono da escola e conseqüente prática de delitos. E outro que o leva à Aprendizagem, à qualificação e a um trabalho formal que o proporcionará dignidade", defendeu o fundador da Fundação Pró-Cerrado, Adair Meira.
Com parcerias firmadas com indústrias de Goiás, a Pró-Cerrado se destaca no plano da Aprendizagem, pois, além de ajudar jovens a entrarem no mercado de trabalho, ainda os conscientiza sobre a importância da preservação ambiental. Deste modo eles ajudam a transformar práticas de produção inadequadas em mecanismos sustentáveis. Além disso, segundo Meira, o programa da Aprendizagem se faz importante exatamente na idade em que os jovens "se vêem deixados de lado", pois a maior parte dos programas governamentais é destinada aos adolescentes que tenham até 14 anos.
Outra organização que inovou na aplicação da Lei do Aprendiz foi a Associação de Ensino Social Profissionalizante (Espro). Por meio do projeto Semente do Futuro, ela qualifica jovens órfãos e participantes de projetos em abrigos - com faixa etária de 15 a 17 anos incompletos - nos estados de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Ao todo são 10 abrigos atendidos, os quais servem como instituições parceiras. "Nós vamos até o local e ministramos o curso. Ou seja, a aprendizagem é passada dentro do próprio abrigo", lembrou Eliandra Cardoso, representante da ONG.
Apesar de uma das maiores queixas das entidades qualificadoras sobre a Lei de Cotas ser a dificuldade em conscientizar as grandes empresas para o cumprimento da legislação, a Espro teve uma sorte diferente. "O Semente do Futuro surgiu a partir de uma solicitação da própria empresa parceira, que definiu como estratégia atuar com este público que é algo ainda mais compensador, mas que exige maior comprometimento da empresa, pois são jovens que vivem uma condição socioeconômica e afetiva diferenciada", destacou.
Além do trabalho com adolescentes órfãos a Espro também apresentou o programa Aprendizagem Nacional, que é voltado para a inserção no mercado de trabalho de jovens de 18 a 24 anos incompletos e que estejam em situação de vulnerabilidade social. "O diferencial deste projeto é que ao invés de termos uma filial em cada estado nós optamos por ter uma organização social local que pudesse nos representar e ministrar os programas de aprendizagem", disse Eliandra.
Vale lembrar que com tantas experiências de sucesso sendo apresentadas, o Centro Salesiano também se destacou ao mostrar uma proposta cristã para Lei. "A nossa principal diferença é o processo de acolhida do adolescente e de acompanhamento sócio-educativo. Nós temos toda uma preocupação em estar perto do jovem para ajudar nesse projeto dele de vida, que se inicia com a aprendizagem", enfatizou Willen de Assis Silva, representante da ONG.
O Centro Salesiano é voltado para o atendimento de jovens de 15 a 18 anos, que tenham família com vulnerabilidade social e que apresentem renda per capita de até meio salário mínimo."Nós construímos uma parceria com a família, pois não queremos que ela simplesmente deixe o adolescente em nossas mãos" , lembrou Willen Silva. Importante destacar que o Centro Salesiano está presente em cinco continentes e que no Brasil já possui 45 pólos educacionais, onde são passadas a parte teórica.
Painel MTE e Centrais Sindicais - Outro painel que aconteceu durante o encontro discutiu os arcos ocupacionais do ProJovem que poderão ser absorvidos na qualificação para a Lei do Aprendiz, bem como as novas tecnologias de ensino à distância e os possíveis riscos da precarização que a legislação está suscetível.
"O arco ocupacional é o percurso de formação inicial. Depois dele o jovem dá um salto para a formação mais específica", lembrou o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fernando Zamberlan, que acrescentou a possibilidade do Jovem Aprendiz construir três arcos voltados para o setor bancário.
Discussão que também norteou o debate foi a proposta apresentada pelo diretor executivo do Grupo WebAula, Eli Valter Gil filho, que mostrou a evolução no conceito de ensino à distância como uma possibilidade de qualificação para os jovens atendidos pelas cotas. Segundo ele, em 2008, o e-learning - como é conhecida essa modalidade de ensino - movimentará 20 bilhões de dólares no mundo e R$ 525 mil serão investidos no Brasil.
Mas o debate não contou só com propostas de qualificação. Jefferson Coriatec representou as seis centrais sindicais do Brasil na discussão e aproveitou o momento para lembrar da valorização do adolescente no ambiente de trabalho. "As piores formas de trabalho são destinadas aos mais jovens e as mulheres, principalmente as negras. Mas cuidado empresas, pois nós apoiamos a lei e vamos ajudar o MTE a fiscalizar", alertou.