Escrito por: Clara Assunção | RBA
Com a bandeira “escola segura só depois da segunda dose”, movimento denuncia nesta terça (24) que a comunidade escolar está em risco por “retorno apressado”
O movimento Famílias pela Vida – que reúne familiares de estudantes do ensino público paulistano – protesta nesta terça-feira (24), às 17h, em frente à prefeitura de São Paulo. O ato dos pais de alunos chama atenção das autoridades municipais para a necessidade de revisão dos protocolos sanitários adotados para a volta às aulas presenciais e exige, entre uma série de reivindicações, a imunização completa contra a Covid-19 como condição para a reabertura das escolas.
De acordo com o grupo, a manifestação presencial foi a forma encontrada pelos pais e mães de garantir equidade entre as vozes favoráveis ao retorno das atividades presenciais. A avaliação do movimento Famílias pela Vida é que esses grupos são mais ouvidos do que os publicamente contrários.
Desde a última reunião com a secretaria municipal de Educação, em abril, eles afirmam que são ignorados pela pasta. Há cerca de dois meses, em parceria com o Coletivo Paulo Freire e outros movimentos sociais, foi solicitada uma reunião com a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) que acabou não sendo realizada. O pedido foi novamente protocolado, mas até hoje, garantem, não houve retorno.
Protocolo é inadequado
A manifestação já estava sendo organizada quando, na última terça (17), o grupo teve conhecimento de que o movimento Escolas Abertas, de nome sugestivo e formado principalmente por responsáveis com filhos em escolas particulares de elite, mas que também buscam falar pelas escolas públicas, estava reunido com a secretária-adjunta Minéia Fratelli para tratar do tema. A reunião foi confirmada em um post publicado na página do Facebook do grupo.
“Ficamos com a impressão de que realmente, o negócio (da prefeitura) é ouvir quem eles querem ouvir. Vimos que precisávamos fazer algo a mais porque estamos sendo absolutamente esquecidos da equação da volta às aulas na pandemia”, comenta uma das integrantes do FamÍlias pela Vida, também mãe de um aluno da rede pública, Thalita Pires, sobre a convocação do protesto nesta terça. O ato contará com apoio das vereadoras da Bancada Feminista e do mandato de Celso Giannazi, ambos do Psol em São Paulo.
Em entrevista à RBA, Thalita explica que o movimento também quer que as aulas voltem. A diferença, contudo, é o que os responsáveis estão cobrando por segurança. E, nesse caso, a revisão do atual protocolo sanitário adotado. A avaliação é que a retomada das atividades ocorre “sem o planejamento e o cuidado necessários”.
Ambiente de insegurança
“Não nos opomos à volta por si. A gente se opõe a uma volta mal feita e que não está considerando condições importantes de transmissão, principalmente de ventilação e uso de máscara boas. Porque o protocolo continua falando de máscara de pano, o que é ok, algumas máscaras são boas. Mas não está escrito que elas têm que ter três camadas, que têm que ser bem vedadas. Nada disso está no protocolo. Os funcionário terceirizados não receberam a (máscara) PFF2”, observa sobre o equipamento considerado o mais ideal.
“É todo o ambiente que precisa estar seguro e a visão tem que ser a de que a gente (prefeitura) precisa fazer para isso. Não é ‘fiz minha parte, lavo minhas mãos’. A gente sente que (para a prefeitura) está ‘beleza, aceitamos que existam mortes evitáveis entre as famílias, professores e alunos”, acrescenta.
O movimento Família pela Vida aponta como base das reivindicações o Boletim Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado no início deste mês. O documento adverte que a transmissão comunitária da variante delta com retorno de atividades presenciais, como as aulas escolares, podem provocar um “cenário de elevado risco de contágio”. A Fiocruz chama atenção também para imunização com as duas doses da vacina contra a covid-19, reivindicada pelo grupo de pais e mães da escola pública.
Risco de contágio
Para o movimento Famílias pela Vida, a comunidade escolar não precisa ser colocada em risco nesse momento, com a possibilidade de que, até novembro, toda a população esteja com o ciclo vacinal completo.
“É maravilhoso que a vacinação esteja acontecendo. Mas estamos colocando para circular em massa novamente na cidade justamente a população que não está protegida. Mesmo que se de fato ela adoeça muito menos do que os adultos, essa população não deixa de adoecer. E com o retorno em massa aumentará o número de crianças que adoecem porque estarão mais expostas do que estavam. E ainda que elas não apresentem sintomas, vão levar os vírus para as famílias que ainda não estão completamente vacinadas. Nós sabemos que uma dose da vacina não dá”, aponta Thalita.
O movimento Famílias pela Vida observa, contudo, que é possível melhorar os protocolos atuais, garantindo também melhorias na ventilação, testagem, rastreio e isolamento de contatos. O que dizem não ocorrer. Os responsáveis também cobram que o retorno às aulas presenciais não se torne obrigatório até que a pandemia esteja controlada. Nos bastidores, o governo de São Paulo especula impor essa exigência para setembro, com replicação em outubro pela prefeitura.
Os atrasos na entrega dos tablets
Embora o decreto permita o retorno de até 100% dos alunos, cerca de 62% dos estudantes da rede municipal compareceram no regime presencial, segundo a secretaria, até a primeira semana de aula. Pais e alunos também reivindicam que seja feito um protocolo específico para a Educação Infantil. Assim como também cobram a garantia de uniforme e material nas escolas, ampliação do quadro de funcionários, a volta do cartão merenda e uma rede de apoio psicológico para toda a comunidade escolar.
Em frente à sede da administração municipal, no centro de São Paulo, o movimento lembrará ainda o poder público do fim do prazo da entrega completa dos tablets com chips aos estudantes. Anunciados em agosto do ano passado, a distribuição foi adiada duas vezes. Até que em abril o secretário Fernando Padula prometeu em reunião com o grupo que entregaria 20 mil equipamentos por semana. A meta indicou que os 465 mil tablets estariam todos entregues até o fim deste mês. Mas, de acordo com reportagem do UOL, até a semana passada, ainda faltavam 150 mil equipamentos.
“Não entregar os tablets é só o começo do problema com o ensino a distância. Tem a falta de professores também, porque eles precisam dar conta do online e do presencial. Então o trabalho deles é dobrado. Tem a questão das salas digitais que não foram instaladas para o professor poder transmitir sua aula na hora que ela acontece para os dois grupos e ao mesmo tempo, e não tem wi-fi nas escolas. Essa decisão de voltar a gente vê muito como abrir mão das aulas online. Porque eles (poder público) se convenceram que não vão dar conta e que precisa voltar todo mundo para não se preocuparem com as aulas online. Mas não tem como, tem escolas fechando por surto”, alerta Thalita Pires.