Pandemia impacta mais mulheres na saúde e no trabalho, além do aumento da violência
O estudo das organizações Think Olga e Think Eva tem como objetivo colocar essas questões em pauta para estimular políticas que preservem os direitos das mulheres
Publicado: 16 Abril, 2020 - 09h10 | Última modificação: 16 Abril, 2020 - 10h02
Escrito por: Redação CUT
Preocupadas com as informações sobre o aumento de violência contra as mulheres durante a pandemia do novo coronavírus na China, na Itália, na França e agora no Brasil, as organizações Think Olga e Think Eva produziram um relatório sobre os principais impactos da crise gerada pela Covid-19 na vida das mulheres com objetivo de fortalecer a pauta de gênero, disseminar soluções já existentes e orientar novas políticas para preservar os direitos das mulheres.
O aumento da violência é só mais um dos impactos que as mulheres sofrem com a pandemia, de acordo com o relatório "Mulheres em Tempos de Pandemia: os agravantes de desigualdades, os catalisadores de mudanças", que analisa mais dois pontos: economia e trabalho e saúde.
“A violência contra mulher aumenta a medida em que ela agora está 24 horas com seu agressor em isolamento social”, diz a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Juneia Batista, se referindo aos estudos que mostram que, na grande maioria dos feminicídios, são seus parceiros e ex-namorados os responsáveis pelas violências, tanto física quanto psicológica.
“O fique em casa precisa mesmo de políticas que preservem o direito da mulher de viver sem violência. Com o governo de Bolsonaro, que odeia mulher, retira direitos, acaba com as políticas de proteção a mulher e ainda renega a pandemia, muitas vidas serão ceifadas e a gente não pode permitir”, complementou Junéia.
Economia e trabalho
Um trecho do estudo aponta que mais de 13 milhões de pessoas no Brasil sobrevivem abaixo da linha da pobreza, com uma renda média de até 145 reais mensais. Entre essas pessoas, uma grande maioria é composta por mulheres, negras, mães, chefes de família que sustentam seus lares sozinhas.
“Pensar em populações mais atingidas por uma crise sanitária e econômica, portanto, é pensar em mulheres negras e de baixa renda. É pensar em mães solo. É pensar em trabalhadoras domésticas e enfermeiras, que neste momento, são a linha de frente de cuidado -com os outros - e de enfrentamento da pandemia".
Saúde
De acordo com o relatório, mulheres representam 56% dos idosos no Brasil, que fazem parte do grupo de risco do coronavírus. Elas também estão na linha de frente dos cuidados aos infectados, tanto no quadro dos profissionais de saúde, no qual são maioria, quanto no cuidado em casa, com a família.
A diretora da Organização Think Olga, Maíra Liguori, em entrevista para o UOL disse que é a primeira vez que “temos a chance de falar sobre isso enquanto o problema está acontecendo”.
“Em todos os períodos de crise as mulheres sempre arcaram com consequências mais severas do que a população em geral, porém os conteúdos e ações vinham apenas depois, para mitigar os estragos. Entendemos que dessa vez agir rápido e colocar essas questões enquanto os problemas ainda estão em curso pode nos ajudar a pensar estratégias e propor caminhos para evitar um impacto tão grande”, afirmou.
ONU Mulheres
Segundo o documento ‘Gênero e Covid-19 na América Latina e no Caribe: Dimensões de Gênero na resposta’, publicado pela ONU Mulheres no dia 20 de março, ‘enfrentar uma quarentena é um desafio para todos, mas para mulheres em situação de vulnerabilidade pode ser trágico.
“Peço aos governos e a todos os outros prestadores e prestadoras de serviços, incluindo o setor privado, que aproveitem a oportunidade para planejar sua resposta à COVID-19 como nunca fizeram antes – e que levem em consideração a perspectiva de gênero, construindo proativamente conhecimentos de gênero em equipes de resposta, afirmou a diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, se referindo ao estudo das organizações Think Olga e Think Eva