Escrito por: Luiz Carvalho, de Brasília
Participantes da 4ª Conferência de Políticas para Mulheres saíram em marcha para acompanhar votação do golpe no Senado
Jaqueline, Ceniriani e Amanda, várias faces, a mesma luta (Fotos: Luiz Carvaho)
Ainda era dia quando as mais de três mil pessoas que participavam da 4º Conferência de Políticas para as Mulheres deixaram o Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, rumo ao Senado, onde estão agora, para acompanhar de perto mais um ato do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.
Nesta quarta-feira (11), logo no início, a marcha contou com o reforço de homens e mulheres de organizações que compõem as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e que estavam acampados ao lado do estádio Mané Garrincha.
Enquanto, por um lado, o cenário político dá pouca margem à esperança de continuidade de uma presidenta legitimamente eleita, sem crime a pagar e que pode ser substituída por um vice ficha-suja, por outro, a certeza é de que o início da resistência já começou, conforme destacou a secretária nacional de Mulheres da CUT.
“O sentimento dentro da conferência desde ontem, antes de começar, na abertura com fala de Dilma e das representantes das mulheres lésbicas, da floresta, negras, é o sentimento de roubo, como se algo fosse subtraído de nós. Mas não vão fazer com que recuemos. As mulheres vão sonhar ainda mais e vão à frente para disputar cargos de poder agora. Somos guerreiras e vamos nos manter firmes nesta disputa."
Novas frentes
A julgar pela marcha composta em grande parte por jovens, a luta tem potencial para garantir bons quadros, como comprovaram a delegada pelo Movimento Brasileiro de Mulheres, Jaqueline, e a professora Ceniriani Silva.
Grávida de seis meses de Olga, filha que homenageará a militante comunista Olga Benário, Jaqueline acredita que as políticas para as mulheres têm relação direta com o modelo de governo e, por isso, defender a democracia é defender a continuidade dos avanços.
“Não vai haver prosseguimento nas políticas se esse impeachment der certo, porque, talvez, nem a Secretaria de Políticas para Mulheres continue. Preciso lutar para garantir que minha filha possa ter a liberdade democrática que tenho e direitos que vieram nos governos Lula e Dilma, como o acesso à universidade e um modelo de saúde voltado para nós. Sem democracia isso não seria possível”, acredita.
Com a filha Tainá de um ano no colo, a segunda a participar de uma conferência, Ceniriani, gaúcha de Porto Alegre, aponta os prejuízos que o avanço conservador deve trazer para as políticas habitacionais.
“Para nós, como movimento, é momento de aprofundar a luta de classes, como está definido. É o povo contra uma elite que não aceita perder seus privilégios. Tivemos avanços em muitas áreas, na política habitacional, então, é inegável com o Minha Casa Minha Vida e outras ações que fizeram a diferença para os mais pobres. E hoje é dia de as mulheres mostrarem de qual lado estão."
Reacionários irão se fortalecer – Integrante da Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo e parte da Marcha Mundial de Mulheres, Amanda Côrrea, cabelos raspados e alargadores, acredita que frentes conservadoras tentarão atropelar qualquer sinal de luta pela igualdade e respeito à diferença. Mas, segundo ela, não encontrarão caminho fácil.
“Agora virão mudanças de verdades nas políticas, muita coisa pode ser cortada e isso será problema. Só que esse golpe ter um forte caráter sexista vai fazer com que as mulheres se unam ainda mais para lutar. “