Escrito por: Vitor Nuzzi, da RBA Rede Brasil Atual

Para centrais, greve é duro recado e pressionará o governo

"A maior greve da história do Brasil", afirma secretário-geral da CUT, Sergio Nobre.

Foto: CESAR ITIBERÊ/FOTOSPUBLICAS
Centrais sindicais se reunirão nesta semana para decidir os próximos passos do movimento

Ao final do dia de greve geral, as centrais sindicais, mais do que uma avaliação positiva, afirmam que o movimento vai pressionar o governo e o Congresso e mudar a correlação de forças no debate sobre as reformas. "É um recado muito duro do povo brasileiro aos congressistas e ao governo golpista de Temer", disse o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre. "Desde o início, estávamos convencidos de que seria a maior greve da história do Brasil. E foi." Balanço das centrais fala em até 40 milhões de trabalhadores com participação nesta sexta-feira (28).

Segundo Sérgio Nobre, "deputados e senadores que têm pretensão de reeleição precisam ouvir a voz do povo". O alcance da paralisação nacional, afirma, é sinal de apoio popular e de descontentamento da sociedade com as reformas trabalhistas e da Previdência. O dirigente lembrou que, conforme pesquisas, 90% rejeitam as propostas do governo, que também tem baixíssima popularidade.

Ele também destacou a união entre as várias centrais sindicais, que trabalharam conjuntamente para a organização do movimento. "A greve de hoje só foi possível pela unidade", afirmou. As centrais se reunirão na semana que vem, possivelmente na quinta-feira (4), para discutir os próximos passos. Mas já na próxima segunda-feira, em todos os atos de 1º de Maio das entidades, deverá ser lido um documento conjunto.

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, também acredita que a situação muda a partir de agora. "A greve é para fortalecer uma proposta que o governo entenda. É a chamada voz das ruas", afirmou, apostando em uma negociação no Parlamento. "Tem muitos democratas no Congresso que podem ajudar a achar uma solução."

O substitutivo de "reforma" trabalhista, aprovado quarta-feira (26) na Câmara, seguiu para o Senado. E a própria Câmara ainda discute a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de "reforma" da Previdência.

As atividades de hoje superaram "em muito" as de 15 de março e devem ter surpreendido o governo, diz o presidente da UGT, Ricardo Patah. "Foi um momento importante no sentido de que a sociedade mostrou indignação com os irresponsáveis da Câmara dos Deputados", afirmou. Ele defendeu que as centrais conversem desde já com o Senado, "onde está depositado esse projeto infame", referindo-se às propostas de mudanças na legislação trabalhista. 

"Muda muito (o debate)", acredita Patah. "O governo não esperava nem 10% disso (greve)." Agora, ele acredita que o Planalto terá de rever sua estratégia de impor as reformas "de forma açodada". E o movimento dá novo ânimo ao 1º de Maio, que "será pautado por essa manifestação".

"O Brasil cantou Raul", disse o presidente da CTB, Adilson Araújo, baiano como Raul Seixas, autor de O Dia em que a Terra Parou. "Eu penso que a resposta foi dada. O governo quer impor medidas que vão prejudicar por demais a sociedade brasileira, principalmente o povo pobre, os que mais necessitam", afirmou, também apostando em um novo cenário. "É tempo de acreditar que as ruas podem ajudar nas mudanças do curso político do país", comentou Adilson, para quem já foi aberto um canal de diálogo com alguns senadores. "Aquilo que aconteceu na Câmara não encontrará eco no Senado."

Para ele, em vez de um projeto que aponta para o trabalho análogo ao da escravidão ("As pessoas terão de trabalhar mais, ganhando menos") e de uma PEC que não mostra qualquer preocupação com as próximas gerações, é preciso discutir uma nova agenda, "para tirar o país do olho do furacão e apontar caminhos". "O Brasil não pode caminhar a passo de caranguejo."