Escrito por: Redação RBA
Senador Jaques Wagner apresentou um projeto para autorizar o governo federal a adquirir o controle acionário da empresa
A fabricante de aviões Boeing desistiu da compra da companhia brasileira Embraer. Para especialistas, a notícia pode ser considerada positiva, porque o país deixou de perder uma grande empresa nacional, com capacidade de contribuir em diversos outros setores além da construção de aviões, como a produção de respiradores.
O gestor Volney Gouveia, professor do curso de Ciências Aeronáuticas da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, no ABC paulista, afirma que não se pode pensar na Embraer apenas como uma “fabricante de aeronaves”. “Ela é fabricante de tecnologia. Se estamos falando de uma companhia que consegue produzir aviões no nível de eficiência que produz, ela pode ser referência no processo de tecnologias para outros setores industriais”, explicou.
Em entrevista ao repórter Jô Myiagui, da TVT, os metalúrgicos de São José dos Campos, no interior de São Paulo, comemoraram a desistência. Os trabalhadores afirmam que são poucos os países que têm tecnologia para fazer aviões, e o Brasil não pode abrir mão desse conhecimento.
O presidente do sindicato, Weller Gonçalves, afirma que a luta será pela reestatização da Embraer. “Se ela disser que não tem condições de manter o negócio, nós achamos que o governo federal tem que reestatizar a empresa. Nós vamos fazer uma forte campanha nacional por esse projeto.”
O senador Jaques Wagner (PT-BA) apresentou, nesta terça-feira (28), um projeto de lei para autorizar o governo federal a adquirir o controle acionário da empresa. A iniciativa tem como objetivo preservar a empresa aeronáutica brasileira dos efeitos econômicos decorrentes da paralisia da economia mundial pelo novo coronavírus, além de assegurar a produção do país e preservar a soberania nacional.
Coronavírus
Atualmente, a Embraer emprega 16 mil trabalhadores e fabrica até 110 aeronaves por ano. Para a economista do Dieese Renata Belzunces, o governo precisa investir para proteger os empregos e a empresa durante a pandemia do novo coronavírus. “É necessário colocar recursos na companhia com muita velocidade para que ela possa desenvolver novos projetos rapidamente. Estamos num momento em que não podemos abrir mão de nenhum emprego”, observou.
A crise sanitária e econômica mostrou ao mundo que é importante ter polos avançados em engenharia, tecnologia e ciência que possam agir rapidamente. A Embraer está nesse contexto, acrescenta o professor. “Mais do que eventualmente discutir a estatização da companhia, a gente poderia discutir um projeto muito maior de política industrial e geração de emprego, no qual essa empresa assumiria um papel fundamental.”
“A Embraer, além da fabricação de aviação, tem total condição de produzir um carro elétrico, por exemplo. Os engenheiros e o setor de manufatura podem produzir respiradores para esse momento de pandemia”, acrescentou Weller Gonçalves.
Cancelamento
Ao Sputnik, o economista Marcos José Barbieri Ferreira, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em aviação comercial e indústria aeroespacial, afirma que a crise na Boeing, devido aos problemas relacionados à aeronave 737 MAX, e as dificuldades causadas pela pandemia são os motivos que impediram o acordo com a Embraer.
“Nesse contexto em que a Boeing está precisando fazer uma ampla reestruturação e, inclusive, tendo a necessidade do socorro do governo dos Estados Unidos, a aquisição dos negócios da aviação comercial da Embraer se tornou inviável”, afirmou.
O economista detalha que a Embraer é líder no setor de aeronaves de médio porte, entre 70 e 150 assentos, o que faria sua aquisição extremamente vantajosa para a Boeing. Além disso, a compra envolveria a capacidade de engenharia e as principais unidades produtivas da Embraer, incluindo unidades de produção de trens de pouso, área em que, segundo o especialista, “a Boeing não tem grande competência”.
Para ele, o processo torna fundamental o apoio do poder público para a recuperação da empresa. “O suporte público vai ser muito importante não só para essa reestruturação da empresa por conta dessa estratégia errada que ela adotou ao longo dos últimos dois anos, mas principalmente para enfrentar a crise decorrente da pandemia, que se avizinha”, concluiu.
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