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Para impedir desmonte do Samu em SP, socorristas entram em greve na segunda (1°)

Prefeito Bruno Covas fechou bases de atendimento e realocou equipes. Profissionais denunciam que alteração no modelo dificulta atendimento rápido em emergências e coloca vidas em risco

Publicado: 29 Março, 2019 - 18h15 | Última modificação: 29 Março, 2019 - 18h21

Escrito por: Andre Accarini

Sindsep/SP
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Os trabalhadores do Serviço Móvel Ambulatorial (Samu) da cidade de São Paulo decidiram entrar em greve a partir da próxima segunda-feira (1°), em protesto contra as mudanças feitas no sistema pelo o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). A assembleia que definiu a greve foi realizada pelo Sindicato dos Servidores Públicos do Município de SP, na quarta-feira (27), após a tentativa de diálogo, sem sucesso, com a prefeitura em uma audiência na Câmara dos Vereadores.

A medida, que segundo a Prefeitura é para cortar gastos, foi publicada no Diário Oficial no dia 23 de fevereiro deste ano e o fechamento de bases de atendimento do Samu já começou: 31 das 58 bases do “192” já foram fechadas e o atendimento realocado para hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBS).

A reorganização do atendimento prevê que as equipes não serão mais completas, contarão somente com o auxiliar de enfermagem e o motorista o que prejudica o cuidado com o paciente no caminho até o hospital.

Para Alexandre Yague, que representa os trabalhadores do Samu, o atendimento ao paciente antes de chegar ao hospital pode ficar bastante comprometido.

“Hoje, a equipe é composta por um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e um motorista. O enfermeiro pode prescrever medicamentos conforme os protocolos de saúde”.

Aí não precisa de Samu. Qualquer um põe em um carro e leva para o hospital
- Alexandre Yague

A descentralização do serviço contraria regras internacionais de funcionamento do atendimento emergencial prestado pelo Samu, de acordo com a médica Juliana Salles, da executiva nacional da CUT.

“Desde a década de 1990, o sistema vem sendo reformulado de acordo com diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS). Uma delas é justamente a centralização, implantada em 2004, por determinação do governo Lula”.

Juliana explica que a localização das bases de atendimento é definida de acordo com estudos feitos por números de chamadas no 192, número que a população usa para chamar as ambulâncias em casos de emergência.  

“É fundamental chegar o mais rápido possível ao paciente. Esse é o chamado ‘tempo de resposta’, e as bases foram estruturadas de acordo com a geração de chamadas. Onde há mais incidência, há mais unidades, com fácil acesso, para poder chegar mais rápido”, alerta a médica.

O tempo que o Samu leva para chegar até o paciente é o que determina se a pessoa vai sobreviver ou não
- Juliana Salles

Além disso, o fechamento das bases e a transferência dos serviços para hospitais e UBS complica o atendimento porque essas unidades de saúde ficam em regiões onde há grande movimentação de pessoas, o que dificulta a rápida saída e entrada das ambulâncias, alerta a dirigente da CUT.

“O que Bruno Covas quer é regredir 30 anos na história, acabando com muitos avanços das duas últimas décadas, quando houve diminuição expressiva no ‘tempo-resposta’ aos atendimentos que salvaram muitas vidas”, afirma Juliana

Privataria

O motivo da reestruturação do Samu, além de cortar gastos, é abrir caminho para a terceirização de profissionais e para a privatização dos serviços, afirma Juliana Salles, que explica: várias equipes foram realocadas para unidades de saúde que funcionam apenas 12 horas por dia. Assim, a prefeitura economiza custos com recursos humanos, além de gerar precarização do trabalho.

“Os profissionais estão insatisfeitos. Muitos já pediram exoneração. Dessa forma, a prefeitura pode contratar terceirizados, que diminui a qualidade e a segurança do atendimento”, diz a médica.

Segundo ela, a economia virá também do corte de gastos com o aluguel dos terrenos onde as bases estavam instaladas.

Fica Samu

Sindicatos como o de Servidores Públicos Municipais de São Paulo (Sindsep) estão mobilizados contra a medida e denunciando os desmontes à população e ao Ministério Público, para que tome providência e reverta a decisão.

A audiência na Comissão de Saúde na Câmara dos Vereadores de São Paulo havia sido marcada para o dia 27 de março, mas não foi realizada por falta de quórum. Compareceram os sindicalistas, os trabalhadores e vereadores da oposição a Covas. Nem o secretário de Saúde do Município de SP, Edson Aparecido, nem o diretor do Samu, Marcelo Takano, compareceram para dar explicações sobre as mudanças.