Escrito por: Redação RBA
Em formatura da Unilab, ex-presidente lembra dos que foram trazidos para trabalhar até morrer
Os jovens se atiravam nos braços dele como se fosse alguém da família. Cada formando escolheu a própria música que comporia o momento em que fosse receber o canudo das mãos de “Luiz Inácio Unilab Lula da Silva”, como anunciou o orador. Suas faces estampavam beleza, orgulho de suas histórias e de suas origens. Roupas coloridas, penteados afro externavam o espírito: aprendemos a resistir desde cedo, como disse a oradora, ao mencionar reportagem da Folha de S.Paulo, que trazia como destaque a crise da faculdade. “Quem quer uma faculdade de negros e negras, pobres, indígenas, quilombolas, africanos?”, questionou, ao definir o perfil da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
Aquela cerimônia de formatura encerrada na noite desta sexta-feira (18) respondia. Os alunos Fernando Colônia, da Guiné-Bissau, e Fabiana Pedreira, do Brasil, ao falar em nome de suas turmas, pediram que a Unilab seja ampliada com mais cursos. “Agradecemos (ao ex-presidente Lula, patrono da formatura) por ter sancionado a lei de criação desta nossa Unilab, possibilitando que as duas margens opostas do Atlântico se reencontrassem, dessa vez em outras condições, para que assim nós, negras e negros, brasileiros e africanos, pudéssemos construir uma nova história, de mãos dadas, a caminho da nossa emancipação política e social”, disse Fabiana.
A gratidão a Lula é manifestada nos sorrisos, aplausos, nas infindáveis selfies. Mas os principais homenageados eram eles mesmos, desde a menção à história de seus antepassados e todos os negros e negras, ao carinho para com a funcionária Chica, do restaurante universitário. O Campus dos Malês da Unilab fica em São Francisco do Conde, na região metropolitana de Salvador. A maioria de seus 40 mil habitantes forma a maior população negra do país.
Itelvina José Fernandes, de Guiné-Bissal caçula entre os cinco irmãos e primeira a obter diploma universitário (FOTO: CLÁUDIA MOTTA/TVT/RBA)
Entre eles a família de Itelvina José Fernandes, de Guiné-Bissau, que acabara de receber o canudo das mãos do Doutor Honoris Causa da Unilab, Luiz Inácio Lula da Silva. “Sou a caçula da minha família. Tenho mais quatro irmãs e um irmão e sou a primeira a receber um diploma”, diz Itelvina. “Estou sem palavras para explicar como é receber um diploma das mãos do presidente Lula. Isso só foi possível graças a uma política de Estado do Brasil.”
Durante seus 15 minutos de fala, encerrados às 23h30 de ontem, Lula contou que foi ao Senegal quando era presidente, junto com seu então ministro da Cultura, Gilberto Gil. Ao visitar a “Porta do Nunca Mais”, lugar onde os africanos escravizados deixavam o continente, refletiu: “Como mensurar uma dívida dessa? O trabalho que nunca foi pago?”, disse classificando a escravidão como dívida impossível de ser paga em dinheiro. “Vocês não devem nenhum favor a este país. O Brasil não está fazendo favor, está pagando as horas, os anos e séculos da vida de africanos que foram trazidos para cá e trabalharam até morrer sem ganhar nada”, disse.
O patrono cumprimentou todos os formandos e observou que, apesar dessa dívida impagável, o racismo ainda persiste na sociedade brasileira, citando diretamente o Campus de Redenção (CE), sede da Unilab. “Certamente se fossem brancos de olhos verdes, não haveria esse preconceito”, criticou. E definiu: “Preconceito não é posição política, é doença.”
Ouça a fala de Lula (16 min)
Título na ruas
A sexta-feira da Caravana Lula Pelo Brasil começou no município de Cruz das Almas. A chegada de Lula à cidade de 75 mil habitantes, a 150 quilômetros de Salvador, teria como objetivo a entrega do título de Doutor Honoris Causa pela direção da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A inciativa foi barrada ontem por um juiz federal local, atendendo a um pedido do vereador de Salvador Alexandre Aleluia (DEM).
Assista à reportagem do Seu Jornal, da TVT