Escrito por: Redação CUT

Para PF, escritório de Salles era apenas fachada para receber pagamentos indevidos

E delegado Saraiva, do Amazonas, diz na TV que tem provas ‘claríssimas’ contra o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro. Segundo ele, Salles gravou um vídeo em que ele confessava o que estava fazendo

Lula Marques

A Polícia Federal suspeita que o escritório de advocacia do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é uma empresa de fachada para justificar o possível recebimento de pagamentos indevidos, diz a colunista Bela Megalle, do jornal O Globo.

Salles foi alvo da Operação Akuanduba, que mostrou que seu escritório recebeu pagamentos no valor total de R$ 7 milhões entre 2012 e 2020, período em que ele foi secretário particular do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), além de secretário do Meio Ambiente do tucano. Desde janeiro de 2019, é ministro do Meio Ambiente do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL).

Por decisão é da ministra Cármen Lucia, do Supremo Tribunal Federal (STF), que atendeu ao pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), o ministro do Meio Ambiente responde inquérito acusado de três crimes: advocacia administrativa, obstrução de investigação ambiental e embaraçar apuração sobre organização criminosa. Esses crimes estão relacionados à Operação Handroanthus, que apreendeu 213 mil metros cúbicos de madeira ilegal na divisa entre Amazonas e Pará, no fim do ano passado. A investigação apontou desmatamento ilegal, grilagem de terra, fraude em escrituras e exploração madeireira em áreas de preservação permanente. 

Nesta segunda-feira (7), o ex-superintendente da PF no Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, que perdeu o cargo depois que entrou com uma notícia-crime contra Salles no STF, afirmou no programa Roda Viva que é "claríssima e inédita" a atuação do ministro do Meio Ambiente em favor de madeireiros.

"Eu posso dizer com tranquilidade porque foi gerado um vídeo por ele mesmo em que ele confessava o que estava fazendo. Então, a atuação dele é claríssima e inédita. Isso aí, fora de dúvida", disse o delegado.

Sobre o que Salles estava fazendo, Saraiva detalhou em depoimento prestado na Câmara dos Deputados no dia 27 de abril em que detalhou a atuação do ministro em prol de quem chamou de “criminosos ambientais”.

Segundo ele, os supostos crimes praticados por Salles ocorreram após a PF realizar a Operação Handroanthus. “O senhor ministro deu várias entrevistas criticando a operação, mas não ficou só no discurso. Ele foi até a área e fez uma pseudoperícia de 40 mil toras: ele olhou duas e disse que, em princípio, estava tudo certinho e que as pessoas apresentaram escrituras", disse o delegado. Segundo Saraiva, porém, não apareceram os donos de mais de 70% da madeira apreendida. "Se ninguém reivindicou, como é que o ministro pode dizer que está tudo certo e a investigação da Polícia Federal está errada?", questiona.

Escritório de fachada

De acordo com a colunista Bela Megale, ao cumprir busca e apreensão nos dois endereços de São Paulo ligados a Salles, registrados como vinculados ao Carvalho de Aquino e Salles Advocacia, no último dia 19, a PF não encontrou um escritório em funcionamento.

Um dos locais, afirma a colunista, era a residência da mãe do ministro, Diva Carvalho de Aquino, que também é advogada e sócia do filho no negócio. No outro local, nenhuma sala comercial vinculada ao ministro foi encontrada pelos policiais. Pessoas próximas a Salles afirmaram que o escritório vinha funcionando na residência da mãe e que apenas ela seguia atuando no negócio. 

Salles compra casa em região nobre de São Paulo

Em meio as investigações, Ricardo Salles comprou uma casa em uma das regiões mais arborizadas e nobres de São Paulo (SP), segundo o jornalista Lauro Jardim, também do jornal O Globo.

Trata-se de um imóvel de dois andares no Jardim América, Zona Oeste da capital paulista, próximo ao Club Athletico Paulistano, frequentado pela elite da cidade. Na região, uma casa como a comprada por Salles custa em torno de R$15 milhões.