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Para reconstruir o país é preciso derrotar Bolsonaro nas urnas, diz Sérgio Nobre

Em entrevista à Carta Capital, presidente da CUT fez um panorama da atual situação brasileira e reforçou que a saída para a classe trabalhadora reconstruir o Brasil é derrotar Bolsonaro nas urnas em 2022

Publicado: 29 Abril, 2022 - 18h37 | Última modificação: 02 Maio, 2022 - 19h29

Escrito por: Andre Accarini | Editado por: Marize Muniz

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Os retrocessos sociais e trabalhistas impostos desde o golpe de 2016 e o que é preciso fazer para que o país retome a rota do desenvolvimento sustentável com justiça social e emprego decente foram os temas de uma entrevista concedida pelo presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, ao jornalista André Barrocal, da Carta Capital, na tarde desta sexta-feira (29). O dirigente reforçou que o cenário atual não deixa dúvidas de a luta da classe trabalhadora tem que ser voltada para derrotar o governo de Jair Bolsonaro (PL), responsável direto por um dos piores momentos da história do Brasil.

E o emblemático 1° de Maio de 2022, que será celebrado no próximo domingo em todo o país e cujo ato principal acontecerá em São Paulo, tem a função de ser um dia em que o diálogo com a população será fortalecido, conscientizando os trabalhadores sobre a realidade.

“O momento é dramático. Hoje, um terço da população brasileira ou está sem emprego ou perdeu a esperança no futuro. Ou ainda tem empregos insuficientes, os bicos. Estamos vendo a volta da pobreza, famílias inteiras nas ruas pendido ajuda e do outro lado, um governo de extrema direita que ataca a democracia e suas instituições, defende a ditadura abertamente. Por isso, as centrais se uniram e estarão na Praça este domingo”, disse Sérgio Nobre, na entrevista.

E, para ele, o Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora é uma data simbólica para estabelecer essa conexão com a classe trabalhadora. “O sentindo é ser um dia em que o movimento sindical, unido, lembre conquistas históricas de direitos, que vieram com luta e ser também um momento em que a gente prepara as lutas do futuro”, afirmou o presidente da CUT.

“Precisamos debater o porquê de estarmos nessa situação e que a saída é a derrota de Bolsonaro”, disse o dirigente sobre a realização do 1° de Maio unitário. E para esse debate, o ato em São Paulo contará com presença de importantes lideranças não só do meio sindical como dos meios político, acadêmico e artístico. O ex-presidente Lula já confirmou presença.

Economia que destrói o orçamento dos brasileiros

Dados do Dieese apresentados durante a entrevista, mostram que o salário médio hoje é de R$ 2.548. É a menor média salarial desde 2012 (R$ 2.581), mas o poder de compra dos brasileiros era maior do que hoje em dia. A queda da média salarial geral se deve ao fim da política de valorização do salário mínimo, implantada durante o governo Lula após articulação da CUT, que elaborou a proposta, e das demais centrais sindicais que aderiram à causa. Isso porque, à medida que o salário mínimo crescia, os trabalhadores conseguiam aumentar seus pisos nas campanhas salariais o que acabou beneficiando milhões de famílias.

“Houve uma mudança no comportamento e na ação do Estado em relação a isso. Por muito tempo economistas [da direita] falaram que o mínimo não poderia aumentar acima da inflação porque ia onerar a Previdência e gerar desemprego...mas quando o salário cresceu, pessoas compraram mais, a indústria produziu mais e contratou mais e ainda vimos que a Previdência se fortaleceu”, disse Sérgio Nobre.

Porém, ele prossegue, “na cabeça” do golpista Michel Temer (MDB) e de Bolsonaro, que deram início à derrocada econômica do país, a ideia é cortar salários, não permitir que cresçam acima de inflação e, para completar o pacote, “para gerar mais emprego, tem quer ser precário, sem direitos e que a CLT era um entrave para a geração de novos postos”.

Por isso, aprovaram a reforma Trabalhista em 2017, que retirou mais de cem itens da legislação conquistados ao longo de mais 70 anos de lutas.

A gente sabe que o que gera emprego é crescimento econômico e se não tem demanda, podem revogar a Lei Áurea. Não vai ter trabalho. O que gera emprego é desenvolvimento
- Sérgio Nobre


O presidente Nacional da CUT também comentou que Bolsonaro, na verdade só “tem dó” de empresários”. O atual mandatário chegou a declarar em um evento da Confederação Nacional das Indústrias (CN) que ser empresário no Brasil é “quase como um castigo”.

“Castigo nesse país é ser pobre”, rebateu Sérgio Nobre.

Cesta Básica

Outros dados do Dieese mostraram que, em 2018, o preço da cesta básica em São Paulo era de R$ 471 e correspondia a 53% do valor do salário mínimo. Em 2022, a cesta básica já custa R$ 761 e come 61% do salário.

“Abriu-se mão de uma política de segurança alimentar em prol da regulação do mercado”, disse Sérgio Nobre ao reforçar que o país precisa de uma política que faça com que a cesta básica chegue aos brasileiros com preços baratos.

Sérgio ainda citou a situação de mais de 20 milhões de pessoas que não têm recursos financeiros para sequer usar o transporte público para procurar emprego, por isso, defendeu a inciativa de um vale transporte social que atenda a essa demanda.

Combustíveis

Outro vilão da inflação, o aumento abusivo dos preços dos combustíveis foi outro assunto da conversa. Sérgio Nobre destacou, inclusive, que este, junto outros pontos de reivindicação fazem parte da Pauta da Classe Trabalhadora, documento elaborado pelas centrais como propostas a serem entregues a candidatos para que se comprometam com os interesses dos trabalhadores.

Próximo governo

Além de ter de reorganizar a economia do país, combatendo a inflação, o próximo presidente, de acordo com Sérgio Nobre, terá outros desafios importantes. Ele citou a legislação trabalhista, destruída pela reforma de 2017, e a chamada nova classe trabalhadora, um segmento da população que foi jogado à informalidade, além de pequenos empreendedores e trabalhadores que lidam com novas tecnologias.

Questionado sobre os rumores espalhados pela grande imprensa com intuito de tumultuar o cenário eleitoral e prejudicar Lula, de que, se ex-presidente for eleito, revogará a reforma, o presidente da CUT foi enfático ao dizer que a intenção não é revogar, porque o país voltaria a ter as mesmas leis de antes e as novas relações de trabalho exigem uma ‘atualização’, com proteção social a estes profissionais.

“Essa nova classe trabalhadora precisa ser incorporada. Sou contra a revogação [da reforma Trabalhista], mas precisamos de uma reforma que coloque o Brasil em um patamar de proteção social”, disse o dirigente, que questionou: “Vamos continuar com emprego precário?”, e respondeu:   “Queremos coisa nova”.

Ao defender a candidatura de Lula, afirmando que o ex-presidente é o único com reais condições de derrotar Bolsonaro e que está preparado para reconduzir o Brasil porque tem experiência para isso, Sérgio Nobre destacou que não basta vencer a eleição para o executivo. É preciso, ele diz, renovar o Congresso Nacional com deputados e senadores progressistas que defendam a classe trabalhadora. Ele exemplificou a atual configuração em que a maioria dos parlamentares é de bancadas ligadas as elites conservadoras. “Não temos muitos sindicalistas e precisamos deles lá”, disse.

“Trabalhador tem que votar trabalhador. É na Câmara que perdemos direitos e esses espaços é que temos que ocupar. Ano passado milhões foram as ruas [em protesto contra o governo] e têm capacidade de mobilização. Mas no Congresso, dá pra contar nos dedos quantos são”, disse Nobre se referindo a representes de trabalhadores.

Por fim Sérgio foi questionado por uma internauta sobre quanto tempo Lula, de eleito, demoraria para reconstruir o Brasil. Ao responder, o dirigente afirmou que o país foi muito maltratado nos últimos anos, mas o povo brasileiro continuou de pé e esse é um fator que faz com que uma recuperação seja, de certo modo, rápida.

“O Brasil é igual a natureza. Se parar de destruir, ela se recupera em poucos anos. Se fizer tudo certinho e tenho certeza que Lula fará, com apoio da classe trabalhadora a gente reconstrói rapidamente. Em dois anos, com Lula, o Brasil é outro”, finalizou.

Confira a integra da entrevista