Escrito por: Leonardo Wexell Severo, de Assunção
Trabalhadores em transporte dizem basta aos abusos do governo Cartes
Protesto expõe a cumplicidade do governo Cartes com os abusos empresariais
Eles foram demitidos pelo simples fato de organizar um Sindicato e perseguidos pela “lista negra” que fecha as portas para todo aquele que busca seus direitos constitucionais. Com os filhos obrigados a abandonarem os estudos por falta de material escolar, vendo a fome bater à sua porta, a decisão foi tomada. Tão dolorosa e dolorida quanto inevitável, creem.
Assim, desde o dia 30 de junho estão crucificados, embaixo de lonas, entre as ruas Herrera e Paraguari, no centro de Assunção, para denunciar a criminosa ação antissindical tomada pelo dono da empresa, deputado Celso Maldonado. Contando com a imunidade emanada da cumplicidade do governo do presidente Horacio Cartes, e particularmente do seu ministro do Trabalho, Guillermo Sosa, o parlamentar-proprietário demitiu 51 trabalhadores ilegalmente. E na mesma linha de perseguição e criminalização dos movimentos sociais adotada por Cartes, os deixou sem salários nem direitos.
No total são 14 companheiros pregados em cruzes - 11 acampados em frente ao Ministério do Trabalho - um deles acompanhado de sua esposa, e três em frente à Parada 49, clamando por justiça. Na retaguarda, ajudando com a coleta de recursos para a sustentação do movimento, um grande número de trabalhadores se reveza no enfrentamento a problemas cotidianos, que vão desde a alimentação, a cuidados básicos com a saúde e higienização. À medida que passa o tempo, os gastos com os medicamentos - como soro e antibióticos - vão aumentando, assim como o cheiro forte que toma conta do local.
Maria Candia, secretária-geral da Federação Paraguaia de Trabalhadores do Transporte
Para Maria Candia, é evidente a sintonia fina existente entre o deputado e o ministro “sempre em defesa dos interesses da empresa”. “O fato é que os companheiros estão trabalhando até 18 horas diárias, sem direito a dormitório, sem sanitário, sem piso salarial, com os ganhos arrochados. E em vez de agir para regularizar esta situação, os Ministérios do Trabalho e do Transporte agem para encobrir as irregularidades”, denunciou a sindicalista.
Esposa de Marcos Deudan, Norma Bogado disse que se somou ao movimento “sem pensar duas vezes”. “Acreditava que pelo fato de ser mulher o meu envolvimento sensibilizaria mais o governo e repercutiria mais nos meios de comunicação. Infelizmente o que posso ver, passado tanto tempo, é que esse deputado, que deveria dar o exemplo, só pensa em enriquecer, enquanto o governo tapa tudo com dinheiro, contando com o apoio da mídia”, acrescentou Norma.
Miguel Garcete, secretário-geral do Sindicato da Linha 49
Com uma caixinha improvisada, Adan Soto faz a sua parte na ação em frente ao Ministério. Ele recolhe contribuições para sustentar o movimento, comprar alimentos e remédios para os companheiros, cada vez mais debilitados. “Nos ajudamos entre todos, pois falta de tudo. Tenho dois filhos, Matias e Kevin, com dez e sete anos. Para comerem todo dia eles não estão indo à escola, pois não tenho dinheiro para o material”, explicou.
No país uma entidade sindical não pode representar o conjunto da categoria, apenas uma microscópica parte dela, o que deixa a representação extremamente vulnerável a chantagens e imposições. A insignificância numérica - os Sindicatos são formados a partir de 20 membros somente - faz com que os patrões e governos criem suas próprias entidades, com direções escolhidas a dedo para dividir a classe, negociando o rebaixamento de salários e direitos. Neste quadro perverso, o exemplo dos trabalhadores da Linha 49 tem repercutido, com suas feridas expostas, para quem quiser ver.