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Paridade de gênero é um meio para a igualdade e não o fim

CONTAG reconhece luta das trabalhadoras rurais e firma compromisso na nova gestão

Publicado: 16 Março, 2017 - 20h09 | Última modificação: 16 Março, 2017 - 20h44

Escrito por: Érica Aragão

Foto: Comunicação CONTAG
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Durante o quarto dia do 12º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (CNTTR) da CONTAG, nesta quinta (16), um ato político “Homens e Mulheres construindo a paridade” em alusão a implementação da paridade de gênero na direção da CONTAG aconteceu e emocionou à todos e à todas.

Mulheres e homens do campo, das águas e das florestas ocuparam o palco ao som de “Maria Maria” (autoria Milton Nascimento) com faixas e cartazes com as palavras de ordens das Margaridas por igualdade de direitos explicando a importância da ampliação da participação das mulheres na Confederação Nacional dos Trabalhadores Agricultores e Agricultoras Familiar (CONTAG) depois de 53 anos de história.

A atividade, que acontece em Brasília e acaba nesta sexta (17), reúne mais de 2.500 trabalhadores e trabalhadoras rurais de todos os cantos desse país. A população rural decidiu em plenária final desse Congresso as políticas para a próxima gestão no qual terá 50% de homens e 50% de mulheres na direção.

Uma delas é o compromisso das Federações em implementar a paridade até o próximo Congresso. A secretária de Política Social da Federação dos Trabalhadores Agricultores e Agricultoras Familiar do Distrito Federal (FETADF), Claudia Farinha, acredita que é um avanço superar a cota mínima de 30%, mas sabe que os desafios não acabaram, eles apenas começaram. “Uma coisa é a aprovação no âmbito nacional, outra coisa é a realidade nas nossas federações e sindicatos. É importante que nós mulheres que temos a compreensão da paridade e da inclusão das mulheres, sensibilizem e participem dos debates com as trabalhadoras nas comunidades e nas cidades desse país”.

As Margaridas compreendem que as decisões em nível nacional são como um espelho para a base que, muitas delas repetem, há muitos sindicatos que ainda não cumpriram a cota mínima de 30% que foi aprovada no 7º Congresso, ocorrido no ano de 1998.

“Nós precisamos continuar na luta e avançando em cada região e estado, precisamos nos apoiar em sindicatos que têm lideranças comprometidas e de maior compreensão, chegando até os que de maior dificuldade. É um processo importante de alta afirmação das mulheres no movimento sindical”, explica a Secretária de Mulheres no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Batalha, no Piauí, Miscellene Cruz.

Segundo dados do DIEESE, cresceu o número de mulheres rurais que se sindicalizaram. Hoje a maioria entre os associados e associadas são mulheres. Conforme a Secretária de Juventude da Federação dos Trabalhadores Agricultores e Agricultoras Familiar de Roraima, Cristiana Paiva Gomes, a formação foi essencial para a ampliação da sindicalização das mulheres.

“Pela formação temos conhecimento que podemos estar em qualquer lugar, ter voz e vez”. Ela acredita na formação popular: “se um especialista não pode ir, um dirigente que já aprendeu sobre o assunto irá. Quando a gente percebe que a comunidade ou o assentamento tem um grande número de jovens pedimos para o secretário de jovens para ir, se tiver muitas mulheres, a gente coloca nossa secretária de mulheres pra ir ou vai quem tiver, o importante é ir, porque a formação é essencial para trazer novas lideranças”, destaca.

O jovem agricultor dirigente no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Quebra ângulo, em Alagoas, Davi de Araújo Pereira, disse que os sindicatos não cumprem a cota, muitas vezes, por falta de diálogo, informação e o machismo. “O machismo ainda impede e fecha as portas para as mulheres participarem dos sindicatos, para que elas mostrem que têm a mesma capacidade que os homens para dirigir um sindicato. E só a unidade na luta de classes, que tem dois sexos, pode acabar com isso”, finalizou.

A paridade é uma política afirmativa que garante a maior participação das mulheres no Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR). As trabalhadoras rurais reconhecem que só números não garantem a igualdade. A paridade de gênero precisa ser um meio para essa conquista nos espaços sindicais, mas também reconhecem que é uma grande conquista.

“A igualdade entre homens e mulheres é uma luta muito antiga das trabalhadoras rurais. Esse é um momento de vitória e o reconhecimento da luta das mulheres do campo, da floresta, das águas, que nos anos 1980 nem podiam se sindicalizar e hoje têm o direito de ser presidentas, deputadas”, afirmou o convidado da Federação dos Trabalhadores e Agricultores e Agricultoras familiares da Bahia, Cosme Pereira.

Carta política das Mulheres da CONTAG firma compromisso da paridade entre os trabalhadores e as trabalhadoras rurais

Ao som do canto das Margaridas, uma carta política das mulheres foi entregue no ato político “Homens e Mulheres Construindo a Paridade para o candidato a presidente da CONTAG, Aristides Veras.

O documento além de relembrar a trajetória de luta das mulheres até a implementação da paridade no 12º Congresso da CONTAG, também emocionou ao denunciar a luta pelo fim do patriarcado, a invisibilidade na luta devido à violência doméstica que muitas trabalhadoras rurais sofrem e diversas vezes são silenciadas pela ausência de conhecimento de seus próprios direitos.

“Gritamos e saímos da invisibilidade. Exigimos e conquistamos o reconhecimento de nosso protagonismo e do nosso lugar como sujeitas de nossa própria história. Hoje somos mais de 50% dos sócios e sócias”, diz trecho da carta.

O documento também pede que “é preciso que o 12º CNTTR reafirme o compromisso de homens e mulheres como debate e construção de respostas efetivas à pauta interna da Marcha das Margaridas em todas as instâncias, compreendendo que não há efetiva igualdade e democracia no movimento sindical se as mulheres não tiverem participação assegurada em condições de igualdade com os companheiros”.

Aristides reafirmou o compromisso de garantir o debate específico que as mulheres sempre fizeram, mas também convoca os homens e as mulheres da CONTAG para participarem desta caminhada. “Não faltará dedicação na nossa Confederação para construir unidade a luta e cada vez mais democrático, participativo e igualitário”, afirma.

A vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, futura suplente da Secretaria de Mulheres, feliz e emocionada, afirmou que a mulherada da CONTAG está empoderada. “Cada dia mais as trabalhadoras rurais tem ousado e apontado o rumo da democracia em nosso país e no movimento sindical. Afinal são 53 anos de história que nós tivemos que afrontar para ser filiadas aos sindicatos, depois aprovamos cotas e agora a paridade. Nós não vamos parar por ai, a paridade é bom, mas queremos avançar mais”.

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