Parlamento toma à frente nas negociações da compra de insumos para vacinas
Compra de insumos é dificultada pela relação conturbada do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da ala ideológica do governo Bolsonaro, que responsabilizam a China pelo vírus, e falsas acusações
Publicado: 20 Janeiro, 2021 - 16h25 | Última modificação: 20 Janeiro, 2021 - 17h06
Escrito por: Redação CUT
Diante da dificuldade do governo federal em importar insumos para produzir vacinas contra a Covid-19 aqui no Brasil, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu uma audiência com o embaixador da China, Yang Wanming, para tratar sobre o assunto na manhã desta quarta-feira (20).
Após a reunião, Maia afirmou que houve compromisso do representante da China para acelerar os trâmites para a importação das matérias-primas. Disse ainda ter informações de que não houve diálogo entre o governo brasileiro e a embaixada daquele país.
Já o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) propôs que o Congresso Nacional crie uma delegação de parlamentares para conversar com a diplomacia chinesa a fim de negociar a chegada dos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) dos quais o Instituto Butantan e a Fiocruz dependem para fabricar as vacinas no Brasil.
Para o deputado, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da saúde, Eduardo Pazuello “não têm condições para negociar”.
Pazuello tem sido criticado pelo fiasco na logística, na compra de vacinas, seringas e diante da crise da falta de oxigênio em Manaus (AM). Os secretários estaduais temem lacunas no calendário de vacinação por falta de doses porque tanto a produção do Instituto Butantã e da Fiocruz está atrasada, pois ainda não chegaram da China insumos que eram esperados.
Logística de Pazuello falha
A falta de insumo, de seringas e de doses de vacinas, o negacionismo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) e a péssima gestão do Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, deixaram o Brasil sem matéria-prima vinda de outros países como a China e a Índia, preocupando autoridades sanitárias com um possível atraso no calendário de imunização contra a Covid-19 no país .
A falta de insumos, por exemplo, fez a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) adiar a previsão de entrega das primeiras doses da vacina de Oxford/AstraZeneca, para combate à Covid-19, de fevereiro para março. Parte dos insumos para a produção da vacina da AstraZeneca, deveria ter chegado ao Brasil no início de janeiro, mas segundo a entidade, a entrega da China ainda não tem data.
Outra questão que dificulta as tratativas da vinda dos insumos é a relação do Brasil com a China. Diversas vezes o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e a ala ideológica do governo Bolsonaro, chamaram a Covid-19 “ de vírus da China” e “país comunista”. Agora, o governo diz que está trabalhando para que os impasses com a Índia e com a China, em torno das vacinas e dos insumos para os imunizantes, sejam resolvidos "nos próximos dias".
São Paulo também aguarda insumos
O Instituto Butantã aguarda a chegada de insumos para poder fabricar mais doses. De acordo com especialistas, há risco real da vacinação contra a covid-19 ser interrompida em pouco tempo, por falta total de imunizantes.
Nesta terça-feira (19), o cronograma original de vacinação contra a Covid-19 anunciado por João Doria (PSDB) para o estado de São Paulo está suspenso e novas datas serão apresentadas.
Com essas mudanças, São Paulo passará a cumprir o Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde e não o cronograma anterior apresentado por Doria, que previa iniciar a vacinação em 25 de janeiro (aniversário da capital paulista), e aplicar duas doses da Coronavac em nove milhões de pessoas até o fim de março.
O Instituto Butantã, que prevê enviar 8,7 milhões de doses ao SUS ainda em janeiro e, até abril, com a produção de 46 milhões de doses, por enquanto, está parado à espera de uma resolução.