Escrito por: Redação CUT

Pastor é autuado por trabalho análogo à escravidão em casa de reabilitação, no Rio

Dependentes químicos foram obrigados a trabalhar em diferentes estabelecimentos de bairros da zona oeste do Rio, mas parte dos salários eram entregues a pastor evangélico da Igreja Alcance Vitória

Reprodução
Alojamento onde ficavam os trabalhadores mantidos em trabalho análogo à escravidão

Jackson de Sobral Almeida, pastor responsável pela Igreja evangélica Alcance Vitória, em Paciência, bairro do Rio de Janeiro, foi autuado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), por manter sete dependentes químicos em condições de trabalho análogo à escravidão. O pastor mantinha a casa de apoio com o nome da Igreja e era fornecedor de mão de obra a estabelecimentos da região.

Segundo as vítimas, abrigadas na casa de reabilitação mantida pela Igreja, elas eram obrigadas a trabalhar sem registro em carteira, em três mercados em diferentes partes da zona oeste, além de um sacolão em Paciência e em uma fábrica de suco de laranja. A maior parte do que recebiam era entregue ao pastor ou era oferecido como dízimo.

Muitas vezes, em vez de um dinheiro, os trabalhadores recebiam tinta para pintura das casas onde moravam, ou carne e salsicha para comer. Eles também consumiam alimentos com validade vencida. O alojamento era em condições insalubres e não havia água encanada.

Um trabalhador contou que um dos serviços que realizava era de lixar treliças, sem nenhum tipo de equipamento de proteção e que inalava os resíduos do processo. Ele trabalhava 12 horas por dia, das 6h às 18h, com uma hora de intervalo de almoço.

Eles ainda eram obrigados a frequentar três vezes por semana, os cultos da igreja e, para isso andavam 40 minutos na ida e na volta. Antes dos cultos eram obrigados a ficar de joelhos por duas horas.

A Igreja também os obrigava a seguir uma cartilha com regras rígidas para “recuperar homens do vício das drogas, álcool e devolver dignidade, respeito e confiança na sociedade através de um encontro com Jesus”.

Era proibido o uso de celulares, fumar, não brigar e não abandonar a casa. Se o interno fosse embora por conta própria ele não teria direito de levar o dinheiro que conseguiu com o seu trabalho, já que os valores eram guardados pela Igreja. Os trabalhadores também só podiam enviar dinheiro às suas famílias, caso tivessem filhos. Quem se recusasse a fazer trabalhos externos, era obrigado "a capinar um terreno sob um sol de 40 graus".

A Igreja Alcance Vitória é ligada à Victory Outreach Church, que tem Igrejas em várias cidades do mundo. Em seu site aparecem tanto o endereço em Paciência quanto o endereço do sítio da casa de reabilitação, na rua das Amoreiras, em Cosmos. Em destaque, está o nome do pastor Jackson Sobral.

O resgate foi realizado no sítio que pertence ao Ministério, em Cosmos, bairro vizinho, no mês de agosto, durante uma fiscalização da Superintendência do Trabalho no Rio, Polícia Federal e Ministério Público do Trabalho (MPT), por auditores-fiscais, uma procuradora do MPT e policiais federais da Delegacia de Defesa Institucional.

Multas

O Pastor Jackson firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para devolver os valores que devia aos trabalhadores (de um total de mais de R$ 17 mil), além de pagar R$ 500 para todos os resgatados por 1 ano e 8 meses a partir de novembro.

Duas empresas que pagaram remuneração aos trabalhadores também firmaram um TAC para fazer o pagamento das rescisões e FGTS.

Todos os trabalhadores terão direito ao seguro-desemprego e tiveram devolvidos os valores retidos pela Igreja. Alguns deles receberam direito a 20 parcelas mensais de R$ 500 a partir de novembro de 2023.

O g1 procurou o pastor Jackson e a defesa da Igreja responsável pela casa de Reabilitação, mas ainda não teve retorno.

Com informações do G1