Escrito por: Sinjope
Além das demissões do SJCC, empresas como o Diario de Pernambuco e a Folha de Pernambuco estão atrasando salários, deixando de pagar horas extras e de diárias
O mês de dezembro se tornou um terror para os trabalhadores e trabalhadoras do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC). Dois anos após uma demissão em massa, o grupo comandado pelo empresário João Carlos Paes Mendonça, o conhecido JCPM, repetiu a dose.
Na última segunda-feira (14), o grupo demitiu 23 trabalhadores, entre jornalistas e cinegrafistas, do Jornal do Commercio, Portal NE 10, Rádio Jornal e da TV Jornal, tanto em Recife quanto em Caruaru, alegando dificuldade financeira ou enxugamento de gastos. Essa foi a justificada usada pela empresa em 2018, quando o grupo demitiu 50 pessoas um dia depois do Natal, em 26 de dezembro. Desta vez, o SJCC não esperou passar o Natal, ignorou a pandemia do novo coronavírus e o consequente agravamento da economia do país.
“Como se já não bastassem os constantes desrespeitos ao noso acordo coletivo de trabalho, por parte das empresas, um passaralho desse num final de ano, na mais devastadora pandemia mundial, revela a crueldade com que trabalhadoras e trabalhadores são tratados”, afirma o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco (Sinjope), Severino Pereira Leite Júnior.
Os cortes no SJCC, pontua o presidente do Sinjope, vieram semanas após uma campanha salarial em que o discurso posto na mesa de negociação pelos empresários foi da impossibilidade de ganhos reais e de produtividade aos trabalhadores para evitar demissões. Nada teve de verdadeiro nos argumentos colocados pelas empresas.
Além das demissões do SJCC, somam-se aos desrespeitos aos trabalhadores em outras empresas, como o Diario de Pernambuco e a Folha de Pernambuco, atrasos salariais superiores a dois meses, o não pagamento correto de horas extras e de diárias – a título de ajuda de custo e pactuadas em acordo coletivo – para as eleições municipais.
O reflexo das demissões no SJCC não poderia ser outro. Nas redações esvaziadas paulatinamente, o clima é de tristeza. Trabalhadores diante do futuro incerto. “O que vai acontecer daqui para frente?” ou “quem serão os próximos?” ou “estarei na próxima lista”, perguntam-se.
A resposta está nas mãos de um dos empresários mais ricos de Pernambuco e que há um bom tempo prefere os ares de uma quinta em terras portuguesas, onde produz um vinho de qualidade do qual se orgulha e do qual muitos dos seus trabalhadores jamais terão o direito de provar. Há garrafas vendidas por mais de R$ 1,5 mil. A mais barata sai por R$ 90.
Ex-dono do grupo Bompreço, JCPM conseguiu o feito de ligar à rede de supermercados e hipermercados a frase “orgulho de ser nordestino”. A frase publicitária se espalhou Brasil afora, mas hoje parece um conjunto de palavras perdidas ao vento para quem se dedicou e, como jornalistas, recebeu prêmios estaduais, regionais, nacionais e internacionais e levou o nome do SJCC aos quatro cantos. Enquanto isso, os negócios do grupo JCPM se expandem. Ele é único proprietário ou sócio, em alguns deles majoritários, de 11 shoppings centers em Pernambuco (5), Bahia (2), Ceará (2) e Sergipe (2), além oito empreendimentos imobiliários em três estados do Nordeste.