Escrito por: Érica Aragão
SINDPD-PE está negociando com empresas e fazendo assembleias com trabalhadores usando ferramentas digitais. Trabalhadores e trabalhadoras da tecnologia se aproximaram ainda mais do sindicato
A pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que levou o país ao isolamento social, tem mexido profundamente na economia, mas também na vida e no trabalho de muita gente. Muitos têm falado que nada poderá ser como antes quando essa crise sanitária passar, mas muitos têm sentido isto no seu dia a dia, agora, ainda durante a quarentena que ninguém sabe quando vai terminar.
É o caso da rotina do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Informática, Processamento de Dados e Tecnologia da Informação de Pernambuco (SINDPD/PE) que mudou de forma, mas não de conteúdo.
Primeiro foram os próprios trabalhadores da entidade que foram orientados a realizar seus trabalhos de casa e, depois, a mudança aconteceu na relação com o público externo.
Além do atendimento virtual aos trabalhadores e trabalhadoras da tecnologia, que têm procurado ainda mais a entidade para tirar dúvidas sobre os direitos e sobre as maldades das Medidas Provisórias do governo de Jair Bolsonaro, que autorização redução de jornada e salário, entre outras medidas, a direção do SINDPD-PE tem intensificado o uso da Tecnologia da Informação (TI) para conseguir negociar com patrão e garantir a participação e direitos da categoria.
O aumento do número de trabalhadores e trabalhadoras da tecnologia em home office cresceu nos últimos tempos e propostas de retiradas de direitos cresceram na mesma proporção, ainda mais com incentivo de Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
Negociação e assembleia online
Para combater isso, o SINDPD-PE tem negociado com patrão e trabalhadores, fazendo reuniões e assembleias por WhatsApp, e-mail e Google.
“Nós recebemos a proposta formal do patrão, compartilhamos o documento com o grupo de WhatsApp que fizemos por empresa, ouvimos a categoria, mudamos o texto, se for preciso, e voltamos a consultar os trabalhadores e trabalhadoras por uma assembleia com votação sendo feita pelo Google Forms, que nos dá dados e gráficos. E isso tem funcionado mais do que imaginávamos”, afirma a presidenta do SINDPD-PE, Sheyla Wilma de Lima.
Ela contou que os grupos no WhatsApp e de e-mails já existiam há mais de um ano, mas que agora estes meios passaram a ser essenciais. Sem as tecnologia, garante ela, o isolamento social impediria de fazer as negociações e iria distanciar o sindicato da categoria.
Tecnologia ajuda e já tem vitórias na batalha por direitos
“Já conseguimos fazer duas grandes negociações remotas e agora estamos em mais uma. Primeiro foi em uma empresa que queriam tirar vale-transporte, refeição e alimentação de todos os trabalhadores e nós conseguimos evitar esta tragédia. Depois conseguimos atender à reivindicação da categoria que ainda tinha que bater ponto na empresa e agora tem um sistema no qual eles registram o ponto a distância”.
“E agora estamos em mais uma batalha com uma empresa que quer diminuir o prazo da férias individual de acordo com a necessidade dela e estamos esperando o retorno da opinião da categoria no grupo de WhatsApp”, contou Sheyla.
O Secretário-Adjunto de Comunicação Nacional da CUT, Admirson Medeiros Ferro Junior, conhecido como Greg, que também é da base do SINDPD-PE, disse que tem contribuído com este novo processo na entidade e que, inclusive, está trabalhando para regulamentar estes novos meios de negociação.
“O sindicato tem estudado a melhor forma de como acontecerá a assinatura deste novo acordo e para além disso estamos fazendo consulta ao Ministério Público para garantir que estes novos instrumentos passem a valer”, afirmou.
Para Greg os sindicatos como um todo vão usar cada vez mais as tecnologias para chegar mais perto dos trabalhadores e também para aumentar a busca pelo sindicato.
“A gente percebe uma relação bem mais próxima com esse processo, porque os trabalhadores não têm tempo e nem prioridade de procurar o sindicato fisicamente e agora mais do que nunca estão procurando o sindicato pelas nossas redes sociais, pelo nosso site e pelos meios que a entidade oferece”, ressaltou.
Sheyla complementa dizendo que toda direção vem avaliando esta aproximação maior da categoria com a entidade todos os dias porque, segundo ela, eles sabem que este é um processo contínuo e muito mais dinâmico.
“A categoria tem nos procurado muito mais, os trabalhadores estão nos ouvindo e a gente consegue argumentar sobre a importância desse trabalho coletivo de negociação. Além de estar sendo muito importante para o sindicato, a categoria está conhecendo de verdade as empresas nas quais eles trabalham e tudo isso vai melhorar ainda mais com o tempo”, contou
O secretário de Finanças do SINDPD-PE, Messias Melo, disse que o sindicato há muito temo defende o uso da tecnologia da informação e da comunicação no cotidiano do sindicato, principalmente porque a categoria que o sindicato representa está sofrendo diversas alterações nas características de trabalho.
“Creio que chegou o momento da gente ter que fazer de fato o que sempre falávamos, sair de um discurso teórico para uma prática cotidiana deste uso. É preciso usar todos os meios que temos para continuar nosso trabalho da defesa e luta dos direitos dos trabalhadores”, finalizou Messias.
Para a Secretaria da Mulher Trabalhadora da Federação Nacional dos Empregados em Empresas e Órgãos Públicos e Privados de Processamento de Dados, Serviços de Informática e Similares (Fenadados), Maria do Socorro Lago, o exemplo de Pernambuco será ampliado por todo o país mais rápido do que se imagina.
“Precisamos utilizar esse mecanismo em toda nossa categoria o mais rápido possível, porque temos duas estatais com data base agora para maio e as negociações precisam acontecer e estes meios digitais vão ajudar”, afirmou a dirigente.
Crises geram oportunidades
São momentos de crise que geram oportunidades e é isso o que acontecendo com o SINDPD-PE, afirmou a socióloga do trabalho e cientista social, Maria Aparecida Bridi, ao se referir a intensificação do uso das tecnologias no trabalho sindical.
“São em momentos de crise como essa que levam o sindicato e todos nós a fazer novos aprendizados. Somos todos forçados a buscar novos meios e me parece que o SINDPD-PE é um sindicato diferenciado! E sai à frente dos demais”, afirma Maria.
Tecnologia, sindicato e sociedade
E os desafios para os sindicatos, não só em tempo de pandemia, são enormes, segundo a especialista. Ela disse que o uso das tecnologias informacionais são ferramentas importantes para os sindicatos. E que estas possibilidades estão desafiando os sindicatos a prestar mais atenção em sua comunicação e suas formas de relacionamento com as bases.
“Tecnologias são meios e não o fim em si. Nada substitui a ação política direta. O face à face. O desafio agora e que se estende para toda a sociedade é agir na contramão da ordem individualista que se exacerbou nas últimas décadas e recuperar a dimensão da solidariedade de classe e para isso, todos os meios são necessários”, ressaltou Maria.