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Periferias são desertos de oportunidades. Falta emprego e transporte é ruim

Estudo do IPEA sobre desigualdade de acesso a oportunidades nas maiores cidades do país mostra que, como têm mais atividade comercial e transporte público, regiões centrais têm mais oportunidades de emprego

Publicado: 20 Janeiro, 2020 - 14h42 | Última modificação: 20 Janeiro, 2020 - 16h57

Escrito por: Redação CUT

Alex Capuano/CUT
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Os especialistas e gestores se preocupam muito redução de congestionamentos e o tempo que as pessoas gastam no trânsito ao invés de melhorar o transporte público que prejudica a vida de milhares de trabalhadores e trabalhadoras que moram longe das regiões centrais e têm dificuldade para conseguir empregos e ter acesso a serviços de saúde e educação.

É isso que mostra o estudo Desigualdades socioespaciais de acesso a oportunidades nas cidades brasileiras - 2019, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP),  que fez um retrato das desigualdades de acesso a oportunidades nas maiores cidades brasileiras no ano de 2019. O estudo inclui estimativas de acessibilidade a pé e de bicicleta das vinte maiores cidades do país, e por transporte público para sete grandes cidades (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Curitiba).

Em todas as vinte cidades estudadas, os pesquisadores constaram concentração de atividades nas áreas urbanas centrais, ou seja, mais chance de conseguir uma vaga no mercado de trabalho, além de redes de transporte acessíveis próximas ao centro das cidades.

Já as regiões das periferias dessas cidades, são marcadas pelo que os pesquisadores chamam de ‘desertos de oportunidades’, falta emprego e a rede de transporte é ruim.

São Paulo, a mais rica do país, é também a cidade mais desigual: os mais ricos têm 9,5 vezes mais chance de encontrar oportunidades de trabalho que podem ser acessadas a pé em até 30 minutos, segundo a Razão de Palma, indicador que mede a diferença de oportunidades entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres.

“Isso pode ser explicado, em parte, pela distribuição socioespacial de renda e oportunidades e a dimensão da cidade, o que faz com que os pobres estejam concentrados longe das principais zonas de empregos, acontecendo o contrário para os ricos”, diz o estudo.

“Temos uma desigualdade muito marcada dentro de cada cidade. No geral, as zonas centrais são muito bem servidas de transporte público, ao passo que nas periferias a oferta é menor”, disse o pesquisador Rafael Pereira, do Ipea, ao El País. Como nas zonas centrais também se concentra a maior parte dos postos de trabalho, assim como serviços essenciais de saúde e educação, as oportunidades para aqueles que moram longe acabam sendo menores, complementou.

O estudo faz parte do Projeto Acesso a Oportunidades e, faltando nove meses para as eleições municipais, busca influenciar a elaboração de políticas públicas que reduzam as desigualdades dentro das cidades, diz a reportagem do El País.

Em todas as cidades pesquisadas, a população mais rica e branca tem, em média, mais acesso a oportunidades do que a população pobre e negra, independentemente do meio de transporte analisado.  Em São Paulo, por exemplo, os brancos tem um acesso 80% maior a hospitais de alta complexidade.