2022, o ano com mais mortes
Desde o final do ano passado, já são mais de 500 vidas perdidas em temporais por todo o Brasil. Levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), com base em dados das defesas civis municipais, mostra que o maior desastre em número de óbitos aconteceu em fevereiro, em Petrópolis, onde 233 pessoas morreram também vítimas das enchentes e deslizamentos. Houve, contudo, óbitos em temporais na Bahia, Minas Gerais, São Paulo e agora Recife.
O estudo revela que o número de mortes pela chuva cresce desde 2019. Naquele ano, 297 óbitos foram registrados. Já em 2020, foram 216. E, no ano passado, houve 290 vítimas de temporais. Em apenas cinco meses deste ano, portanto, as mortes por chuva já superaram todo o ano de 2021. O período de alta coincide ainda com a administração de Jair Bolsonaro (PL) à frente ao governo federal. Em mais de uma ocasião, o presidente atribuiu a tragédia às próprias vítimas por morarem em locais de risco. No início da semana ele esteve em Recife e disse a um programa de televisão que a população poderia “colaborar” e não morar em áreas de risco.
A falta que faz políticas de moradia
“A maior parte da população das nossas cidades acaba sendo empurrada para situações territoriais em que ela tem que conviver com insegurança da terra, com risco socioambiental e falta de saneamento. Então esse processo de urbanização que não acolhe a população e que, ao mesmo tempo, as áreas centrais e valorizadas não estão disponíveis para essa população, faz com que a maior parte das famílias seja obrigada a conviver com essas situações de risco. Essas famílias são, na verdade, vitimas da situação em que as nossas cidades se encontram”, observa o diretor-executivo do Instituto Pólis, Henrique Frota.
A curto prazo, a saída para evitar mortes é elaborar planos de gestão de risco e prevenção, conforme acrescenta a professora de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) Ana Paula Fracalanza à TVT. O monitoramento meteorológico já é bem-feito, destaca a docente. Mas faltam sistemas de comunicação e alerta e ações de prevenções em momentos de risco. Assim como capacitar os moradores para saber o que fazer e onde ir. A especialista conclui, no entanto, que a solução definitiva é de médio a longo prazo. E passa pela elaboração de programas habitacionais para retirar a população dessas áreas de risco.
“As mortes poderiam ser evitadas desde que fossem implementadas políticas habitacionais que fizessem com que essas populações fossem sendo realocadas em locais onde esses problemas não acontecem”, adverte Ana Paula.
Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima