Perseguição: Caixa mandou bancários com altos salários cuidar de filas em agências
Mais de 120 trabalhadores altamente qualificados, alguns com cursos pagos pela Caixa, foram transferidos da matriz para agências bancárias em um intervalo de 90 dias entre o final de 2020 e o começo de 2021
Publicado: 19 Julho, 2022 - 12h07 | Última modificação: 19 Julho, 2022 - 12h18
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz
Entre o final de 2020 e o começo de 2021, a direção da Caixa Econômica Federal, ainda sob o comando do ex-presidente Pedro Guimarães, investigado por assédios moral e sexual, transferiu 123 trabalhdores altamente qualificados da matriz para agências bancárias em um intervalo de apenas 90 dias. Nos novos locais de trabalho, os bancários, muitos deles com pós-graduação e cursos pagos pela instituitção financeira, cuidam de filas ou distribuem senhas para atendimento com gerentes.
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Esses trabalhadores, com salários de R$ 30 mil até R$ 45 mil, estão no grupo dos que chegaram ao topo da carreira, mas dividem as mesmas funções com servidores recém-ingressados no banco que ganham cerca de R$ 3.000, como mostrou reportagem do jornal Folha de S. Paulo, publicada nessa segunda-feira (18). Como os servidores exerceram os cargos anteriores por mais de dez anos, os salários mais altos foram incorporados, mesmo desempenhando agora outras atividades. Segundo o jornal, o caso está sendo investigado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).
De acordo com entidades sindicais que representam os bancários, o contingente de transferidos é ainda maior e a razão são as retaliações contra trabalhadores que exerceram postos de comando no banco durante governos anteriores.
Além disso, são ‘punidos’ aqueles que tiveram algum atrito com a alta direção ligada a Pedro Guimarães, que costumava até a gravar atitudes de assédio moral. Um dos casos que chamaram a atenção da mídia ocorreu em uma confraternização de final de ano, quando o ex-presidente constrangeu gerentes e lideranças da instituição obrigando todos a fazerem flexões comandados por um general. E ainda mandou os bancarios darem cambalhotas acompanhados por uma ginasta profissional.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) apontaram ao MPT que as transferências foram feitas abruptamente, com “critérios discriminatórios” e falta de transparência.
As associações sindicais dizem ainda que, em alguns casos, as movimentações feitas pelo banco queriam forçar os funcionários mais antigos a deixar a empresa por meio do programa de desligamento voluntário.
Em nota, a Caixa disse que “realiza a movimentação interna de seus empregados conforme a legislação em vigor e observando as necessidades estratégicas do banco”. A empresa afirmou que é a maior instituição financeira do país em número de clientes e que os bons resultados são reflexo do trabalho dos 250 mil colaboradores, incluindo 87 mil empregados.
A empresa afirmou ainda que existem investigações internas em andamento, que o Conselho de Administração determinou a contratação de empresa externa e independente para verificar todos os casos e que o canal de denúncias é gerido por entidade externa, que se responsabiliza pela preservação da identidade dos denunciantes.